Entrevista a Raquel Ralha: uma viagem pela música

Raquel Ralha_by_Iolanda Pereira

São vários os projetos que fazem parte da vida de Raquel Ralha. A artista nasceu em Coimbra, em 1972, era professora de inglês mas largou tudo pela música: “Foi uma época de intensa descoberta nestas andanças”: iniciou o percurso musical profissional em 1995, quando integrou a banda Belle Chase Hotel. Seguiram-se anos de “roda viva” com “muita estrada, muitos públicos, muitas aventuras”. Uma artista multifacetada, que o Mulheres Em Viagem (MEV) não resistiu em entrevistar.

Mais recentemente, colaborou com John Mercy (João Rui) no projecto a solo e integra a formação de John Mercy and The Dead Beats desde 2022, no âmbito da gravação do álbum “West of The American Night” – uma narrativa musical da viagem de “On The Road”, de Jack Kerouac, no centenário do seu nascimento. O álbum foi lançado oficialmente em Março deste ano.

Créditos da Foto de abertura: Raquel Ralha_by_Iolanda Pereira

ENTREVISTA A RAQUEL RALHA

MULHERES EM VIAGEM (MEV) – Um pouco de biografia… Onde nasceu,
e qual foi o percurso profissional e artístico até agora.

RAQUEL RALHA – Nasci em Coimbra, em 1972, e mudei-me para o campo, nos arredores da cidade, há cerca de 11 anos.
Comecei a minha actividade musical com os Belle Chase Hotel, em 1996. Antes disso, a minha profissão era a de professora de Inglês, mas rapidamente larguei tudo pela música. Foi uma época de intensa descoberta nestas andanças.

A música sempre me acompanhou desde muito cedo. Como já conhecia o Pedro Renato, e como ele já me tinha ouvido cantar inúmeras vezes em convívios de amigos, experimentei fazer os coros para o Lonely Gigolo – uma das músicas de Fossanova, o primeiro disco dos Belle Chase Hotel – e entrei para a banda.

Gravámos dois discos (La Toilette des Étoiles foi o segundo) e tocámos muitíssimo. Muita estrada, muitos públicos, muitas aventuras. Foi uma roda viva durante muitos anos. A partir daí, fui convidada para me juntar aos Wraygunn, com quem “rockei” muito durante 12 anos, dentro e fora de portas, com 4 álbuns (Soul Jam, Eclesiastes 1.11, Shangri-La e L’Art Brut) e com ainda mais estrada, públicos e aventuras.

Mas fui sempre tendo várias bandas ao mesmo tempo, como o Azembla’s Quartet, com o Pedro Renato, mais virado para uma vertente musical cinematográfica, com a edição de duas bandas sonoras para filmes do António Ferreira – Respirar Debaixo D’Água e Esquece Tudo O Que Te Disse.

Posteriormente, vieram os Mancines, com Eden’s Inferno e II, este último que ainda não acabou de ser promovido como gostaríamos, os Animais, em homenagem a Carlos Paredes e à canção de Coimbra – 15 Anos Sem Paredes, o projecto Raquel Ralha & Pedro Renato, com The Devil’s Choice Vol. 1 e The Devil’s Choice Vol. 2 & Heavenly Tales, onde revisitamos músicas que fizeram parte da adolescência de ambos.

Fiz parte da formação dos The Twist Connection, no disco Is That Real? e, presentemente, colaboro com o John Mercy nos The Dead Beats, com quem gravei no disco West of The American Night – uma narrativa musical inspirada no livro On The Road, de Jack Kerouac, por altura do centenário do seu nascimento.

MULHERES EM VIAGEM – Lembra-se da primeira vez que subiu a um palco? Quando foi e o que cantou?

RAQUEL RALHA – A primeira vez que subi a um palco foi para tocar xilofone numa festa da escola. Para cantar, creio que foi mesmo num dos primeiros concertos de Belle Chase Hotel, em 1996.

MULHERES EM VIAGEM – Sei que é a pergunta que se faz muito aos artistas… Vive da música ou tem outras atividades além disso?

RAQUEL RALHA – Já houve períodos do meu percurso em que vivi da música. Presentemente, tal não tem sido possível, pelo que vou fazendo outras coisas, como transcrições de áudio ou maquilhagem em filmes. De qualquer modo, todas estas actividades são profundamente irregulares no tempo. A área das Artes tem o seu quê de aventura no trapézio, para o bem e para o mal.

MULHERES EM VIAGEM – A Raquel já fez parte de inúmeros projetos musicais (e bem me recordo dos Belle Chase Hotel e Wraygunn).
Como foi trabalhar com linguagens musicais distintas?

RAQUEL RALHA – Não tenho problema em saltar de umas linguagens para outras, porque me agrada essa variedade de estilos a que me tenho dedicado. O rock faz-me fervilhar, mas gosto igualmente de explorar a minha voz noutros registos distintos.

MULHERES EM VIAGEM – E muitos desses projetos com uma vertente cinematográfica. Tem mais algum destes projetos de banda sonora original agora em produção?

RAQUEL RALHA – De momento, não. Mas é sempre algo que pode surgir a qualquer altura.

MULHERES EM VIAGEM – Com quem gostaria de trabalhar no campo musical? A nível nacional e internacional.

RAQUEL RALHA – Obviamente, todos gostaríamos de ter a sorte e a honra de trabalhar com os músicos que mais admiramos. Mas gosto de pensar nisso como o pote no fim do arco-íris, apenas num plano ficcional.

Gosto mesmo é de trabalhar com pessoas com que já tenho uma afinidade e amizade prévia e com quem me entendo bem no processo musical. Admito que prefiro essa zona de conforto.

Os músicos com quem tenho trabalhado ao longo de todos estes anos têm uma enorme criatividade e, como vou estando em muitas abordagens diferentes em termos de géneros musicais, não tenho sentido necessidade de ir à procura de outros rumos. Ser apenas espectadora entusiasta das minhas referências/ídolos leva-me, por si só, a procurar sempre melhorar, e isso é o mais importante.

MULHERES EM VIAGEM – No processo de produção de canções… como começa? Pela música ou pela letra?

RAQUEL RALHA – Como a composição fica a cargo dos meus parceiros de bandas, de um modo geral escrevo as letras para as músicas que já estão alinhavadas.

MULHERES EM VIAGEM – Tem músicas e letras que estão na gaveta à espera do “seu” tempo para saírem cá para fora?

RAQUEL RALHA – Algumas letras, sim, se bem que prefiro escrever quando já há uma base musical que permita criar um ambiente, logo à partida. Mas o inverso acontece, por vezes – comporem para as minhas letras, para os meus universos.

MULHERES EM VIAGEM – A narrativa musical da viagem “On the road” é algo que me entusiasma – por motivos óbvios, pelas viagens – mas conte-me como surgiu a ideia e como foi encarado esse desafio?

RAQUEL RALHA – Fui convidada pelo John Mercy (João Rui – A Jigsaw), com quem já costumava colaborar, para me juntar ao gangue The Dead Beats nessa viagem que acompanha a narrativa do “On the Road”. Como o João já me conhece bem e conhece as nuances dos meus registos diferentes de voz, foi muito fácil corresponder ao desafio e interpretar as letras desta viagem musical.

MULHERES EM VIAGEM – Qual o desafio que gostava de ter agora na músic

a? Algo que gostaria de lançar ou até que gostaria de ter um convite para o fazer e concretizar sonhos…

RAQUEL RALHA – Estou a trabalhar precisamente num outro projecto com alguns dos meus “parceiros de crime”. Por agora, ainda está a ser alinhavado. Paralelamente, com as minhas bandas, estamos a programar coisas novas, à medida dos timings de vida de cada um dos elementos. Quanto a sonhos, não tenho propriamente “um sonho ou dois” em carteira, nem ambições por aí além. Cada vez mais, procuro levar uma vida calma. O que vier, virá.

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