O documentário “Patriarcado, Uma História Por Acabar” aborda o Feminismo interseccional e o Patriarcado em Portugal, através do testemunho de 20 activistas (e não só!). Os temas são variados e vão desde o empoderamento feminino, à cultura da violência, passando pela abordagem de uma masculinidade tóxica. O MulheresEmViagem.pt entrevistou o realizador Pedro Serra e a produtora Vanessa Rodrigues, que preferiram não mostrar a cara porque pretendem “dar palco aos entrevistados e não aos autores do documentário”.
– Como surgiu a ideia de fazer o documentário?
Achamos que cada vez é preciso falar mais sobre esta temática e ainda estamos longe de haver igualdade de género seja em Portugal ou em qualquer país do mundo. O Patriarcado ainda está muito enraizado na nossa cultura e temos de desmistificar isto, porque afecta toda a gente. Mulheres, homens, pessoas não-binárias independentemente do seu género.
– Porque consideraram necessário fazer o documentário? Qual o objetivo primordial?
Conseguem atribuir uma descrição sintética sobre o que é o “Patriarcado” e porque essa é uma “história por acabar”?
Desde que acordamos até que nos deitamos, deparamo-nos com situações de desigualdade de género em todo o lado. Seja na rua, no trabalho, em situações familiares, domésticas, ou quando saímos à noite para tomar um copo. Uma mulher por ser mulher tem medo, não está segura. Não tem os mesmos privilégios na carreira. Não tem a mesma voz na sociedade que outra pessoa, que seja um homem.
O Patriarcado ainda está presente em todo o lado. É algo milenar e que continua a ser perpetuado por todos nós. Afecta toda a gente. Inclusive os homens. Homens que não podem expressar os seus sentimentos, porque “homem não chora”. Homens que não podem assumir a sua verdadeira sexualidade pelo seu género. Homens que não podem ser vulneráveis porque têm que ser viris. Homens que recorrem à violência por todas as emoções reprimidas que não são expressas. Acabam por cair no ciclo da violência que muitas vezes recai sobre a mulher. O Patriarcado é realmente algo que tem de acabar.
O que é ser homem? O que é ser mulher? O que são todos estes padrões de género e binarismos que nos foram impostos? Foram estas e muitas mais questões que nos levaram a falar com 20 activistas feministas e a documentar as suas opiniões.
– Como e porquê foram escolhidas estas entrevistadas?
Todas as pessoas que entrevistámos no documentário são pessoas que nos inspiram. Com quem já tínhamos aprendido algo sobre este tema. E tínhamos muita vontade de partilhar com o público esse conhecimento, que sabíamos que as pessoas entrevistadas nos iam dar. E depois, claro, com a representatividade que não podia faltar, uma vez que acreditamos que o feminismo tem de ser interseccional.
– Durante quanto tempo fizeram as entrevistas? Quando começou e quando foi lançado o documentário?
A ideia já estava na gaveta há alguns anos. Começou a ser materializada em 2020 e filmámos em 2021. Depois de toda a edição e tomadas de decisão, foi lançado na Filmin Portugal no verão de 2022. Esta escolha recaiu na importância de querermos que o filme estivesse disponível para toda a gente. Independentemente do lugar onde se encontram. Queríamos que fosse lançado numa plataforma digital para que estivesse acessível a qualquer hora e em qualquer lugar.
– Têm também entrevistas a homens que trabalham temas como a masculinidade tóxica, entre outros. Temas que são relativamente recentes na discussão pública.
Foi importante também mostrar o lado do trabalho (emocional) que muitos homens estão cada vez mais a fazer? Uma desconstrução do que é “suposto” um “homem” ser e o que deve sentir?
Como diz a Lokas Cruz no nosso documentário, “O Patriarcado só vai acabar quando houver uma renúncia dos privilégios desse sistema. Quem beneficia com esse sistema? Os homens. Quem tem de fazer essa desconstrução? Os homens”. Posto isto, achamos fundamental e essencial os homens estarem na mesma luta que as mulheres ou que as pessoas trans ou não-binárias!
Há um trauma profundo na nossa sociedade. A raíz desse trauma vem do Patriarcado. As imposições de género por que toda a gente passa, afectam também os homens. E acreditamos que quando a máscara do homem cair, quando se perceber que em vez de virilidade se pode demonstrar vulnerabilidade, conseguimos uma sociedade mais feliz, mais segura e mais pacífica para toda a gente.
E pegando mais uma vez numa frase duma entrevistada nossa, como disse e bem a Carolina Salgueiro Pereira, “O Patriarcado afecta a sociedade como um todo. Porque no fundo perpetua estruturas de poder, de desigualdade de falta de oportunidade para muitas pessoas. Quando estamos a limitar o potencial a alguns, sofre o todo.”
– Certamente não foi fácil reduzir o documentário. Foram quantas horas de entrevistas? Ficaram com vontade de continuarem o documentário com outros “episódios”?
Foram cerca de 50 horas de entrevistas. Foi um processo muito moroso porque tínhamos material muito importante. Mas não queríamos fazer uma série. Achámos importante a ideia estar aglomerada num único filme de hora e meia. Por isso, o que decidimos foi postar ao longo do tempo na nossa página do instagram, alguns excertos que não estão no filme.
O documentário “Patriarcado, Uma História Por Acabar” pode ser visto aqui.
Entre o elenco do documentário estão algumas mulheres entrevistadas no início de 2021, nas Conversas do Confinamento do MulheresEmViagem.pt: Carolina S.Pereira, Lúcia Vicente e Catarina Oliveira.
