Vozes Insurgentes de Mulheres Negras: resgate histórico e potência intelectual

"Vozes Insurgentes de Mulheres Negras – do século XVIII à primeira década do século XXI"

“Vozes Insurgentes de Mulheres Negras – do século XVIII à primeira década do século XXI” é uma coletânea organizada pela jornalista, escritora e pesquisadora Bianca Santana, lançada em 2019, em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo e a Editora Mazza.  Seu principal objetivo é dar visibilidade ao conhecimento produzido por mulheres negras brasileiras, especialmente aquelas cujas vozes foram historicamente silenciadas ou marginalizadas.

"Vozes Insurgentes de Mulheres Negras – do século XVIII à primeira década do século XXI"
“Vozes Insurgentes de Mulheres Negras – do século XVIII à primeira década do século XXI”

O LIVRO

A obra – “Vozes Insurgentes de Mulheres Negras – do século XVIII à primeira década do século XXI” – reúne 24 escritoras, pensadoras, ativistas de mulheres negras brasileiras, cujos textos cobrem um arco temporal que vai desde o século XVIII até a primeira década do século XXI.

A proposta é múltipla:Resgatar textos antigos, literários, académicos, manifestos, poemas, cartas, discursos, entrevistas – formas diversas de expressão – produzidos por mulheres negras ao longo da história brasileira.  Mostrar que essas autoras já formularam criticamente as relações de raça, género, classe muito antes do que se costuma dar visibilidade, isto é, reafirmar que o feminismo negro no Brasil não surge “do zero”, mas está enraizado numa longa tradição de pensamento, expressão e resistência.

Contribuir para uma genealogia do pensamento negro-feminista no Brasil: fornecer subsídios para que se conheça não apenas o que está no presente (autoras contemporâneas, debates públicos atuais), mas o que veio antes… vozes que foram apagadas, silenciadas ou negligenciadas pelos cânones literários, académicos ou de história oficial.  Fomentar o reconhecimento, o estudo e a circulação dessas produções: disponibilizar o livro, inclusive em versão digital, para que circulação e acesso não sejam impedidos por barreiras como localização, poder aquisitivo ou invisibilidade editorial.

"Vozes Insurgentes de Mulheres Negras – do século XVIII à primeira década do século XXI"
“Vozes Insurgentes de Mulheres Negras – do século XVIII à primeira década do século XXI”
"Vozes Insurgentes de Mulheres Negras – do século XVIII à primeira década do século XXI"
“Vozes Insurgentes de Mulheres Negras – do século XVIII à primeira década do século XXI”

Quem é Bianca Santana

Bianca Maria Santana de Brito (n. 23 de abril de 1984, São Paulo) é jornalista, escritora, professora e militante feminista negra brasileira.
É doutoranda em Ciências da Informação pela Universidade de São Paulo, com foco em memória e escrita de mulheres negras.  Já publicou obras como” Quando me descobri negra” (2016), “Continuo Preta: A Vida de Sueli Carneiro” (2021) – uma biografia de Sueli Carneiro.

Está envolvida em ações de militância e de pesquisa que conectam educação popular, memória, narrativa negra, entrevista, autobiografia. Ou seja, surge como uma alguém que identifica lacunas (vozes negras apagadas ou esquecidas) e trabalha para resgatá-las, estudar seus textos, compor uma narrativa histórica mais justa e plural.

"Vozes Insurgentes de Mulheres Negras – do século XVIII à primeira década do século XXI"
“Vozes Insurgentes de Mulheres Negras – do século XVIII à primeira década do século XXI”

Algumas das autoras e participação

Aqui vão algumas das mulheres que participam do livro, representando diferentes épocas, diferentes lugares e diferentes modos de expressão:

    • Maria Firmina dos Reis: escritora maranhense, nascida no século XIX; autora de “Úrsula” (1859) e “A Escrava” (1887), consideradas obras pioneiras no Brasil na narrativa da escravatura sob uma ótica interna.
    • Laudelina de Campos Melo: ativista trabalhista e sindical; muito lembrada por sua trajetória de luta por direitos das trabalhadoras negras, particularmente no trabalho doméstico.
    • Carolina Maria de Jesus: escritora conhecida por “Quarto de Despejo”, que documenta o quotidiano nas favelas de São Paulo e denuncia desigualdades de raça, pobreza e classe.
    • Lélia Gonzalez: filósofa, professora, ativista; importante na construção do pensamento sobre género, raça e identidade afro-brasileira.
    • Conceição Evaristo: escritora contemporânea, cuja obra retrata vivências negras com intensidade, memória e lirismo.
    • Sueli Carneiro: pensadora, ativista, fundadora de organizações de mulheres negras, autora de textos sobre racismo, desigualdade e género; poderosa voz intelectual no feminismo negro brasileiro.
    • Cidinha da Silva: escritora, cronista, autora de textos que falam das condições de vida de mulheres negras, da cultura negra, da marginalização; participa ativamente do circuito literário negro.

Além destas, o livro inclui outras autoras como Mãe Stella de Oxóssi, Dona Ivone Lara, Beatriz Nascimento, Nilma Bentes, entre muitas outras, cobrindo diferentes regiões do Brasil (Norte, Nordeste, Sul, Sudeste) e diferentes modos de produção (oralidade, música, poesia, discurso religioso, literatura de cunho acadêmico, pensamento político).

"Vozes Insurgentes de Mulheres Negras – do século XVIII à primeira década do século XXI"
“Vozes Insurgentes de Mulheres Negras – do século XVIII à primeira década do século XXI”

Importância e impacto

A relevância deste livro é visível em vários níveis:

– Histórico: revisita textos antigos e pouco lembrados, garantindo que sua existência não seja apagada. Isso ajuda a completar o quadro da história intelectual brasileira, especialmente quanto ao feminismo, ao pensamento racial e de género.

– Epistemológico: questiona quais vozes “contam” para a produção de conhecimento, o que foi excluído dos cânones literários e acadêmicos, e propõe uma ampliação desses parâmetros.

– Político-social: ao dar voz às mulheres negras, o livro também alimenta as lutas atuais por reconhecimento, igualdade, diversidade, visibilidade, reparação racial. Ele fortalece identidades, autoestima, prática de cidadania.

– Pedagógico: serve como material para escolas, universidades, movimentos sociais, para oficinas de leitura e escrita. Ajuda quem estuda feminismo negro, história racial, literatura afro-brasileira, e quem quer conhecer trajetórias inspiradoras.

– Cultural: celebra diversidade de expressão, mostra como as mulheres negras não são um grupo homogéneo; há literaturas, práticas espirituais, cantos, memórias de resistência, discursos públicos e privados.

Limitações ou desafios

Nenhuma obra é completa. Mesmo com 24 autoras, há muitas outras vozes negras que poderiam ainda estar presentes: o livro é uma parte de uma genealogia, não o panorama inteiro.

A documentação histórica pode ser desigual: textos de algumas épocas ou regiões estão mais preservados do que outros, o que dificulta acesso ou reconstrução.

O público, por vezes, ainda desconhece essas autoras; circulação, tradução, inclusão nos currículos escolares e literários ainda é limitada.

“Vozes Insurgentes de Mulheres Negras – do século XVIII à primeira década do século XXI” é uma obra essencial para quem quer compreender de modo mais sólido e plural o pensamento feminista negro no Brasil.

Não só resgata vozes esquecidas, mas evidencia que, desde muito cedo, mulheres negras se organizaram para pensar, escrever, denunciar e propor mundos diferentes.

Pode descarregar o livro, aqui.

"Vozes Insurgentes de Mulheres Negras – do século XVIII à primeira década do século XXI"
“Vozes Insurgentes de Mulheres Negras – do século XVIII à primeira década do século XXI”
"Vozes Insurgentes de Mulheres Negras – do século XVIII à primeira década do século XXI"
Capa de “Vozes Insurgentes de Mulheres Negras – do século XVIII à primeira década do século XXI”