As diferenças salariais e o maior trabalho doméstico a recair para o sexo feminino são algumas das questões que ainda, hoje em dia, nos debatemos. Para quando a mudança? E como podemos fazer nós parte dessa mudança? Como diz a autora deste texto, Andreia Bastos, psicóloga de profissão, vamos ser especialistas na procura de soluções para mudar e não especialistas no problema. Tu podes ser parte dessa mudança, todos os dias.
Texto por, Andreia Bastos*
Nunca as mulheres tiveram tantos direitos e, mesmo assim, nunca foi tão necessário continuar a educar pessoas e grupos quanto à importância de igualar oportunidades e direitos entre homens e mulheres.
A Eurostat, em 2018, estimou que o salário das mulheres fosse 14,1% inferior ao dos homens. Isto significa que, ao exercer a mesma atividade profissional, uma mulher, apenas por sê-lo, recebia menos 14,1% de salário do que um colega, que tinha como característica distintiva… ser homem.
Além disso, na maioria das casas portuguesas, ser mulher, apenas por sê-lo, implica realizar pelo menos uma hora de trabalho doméstico diário, enquanto o mesmo só se aplica a 19% dos homens… espante-se, pela mesma característica distintiva… ser homem (INE, 2020). Os exemplos de diferenças sociais são extensos e conhecidos por muit@s de nós. Focarmos a nossa atenção no problema é importante, para que nos tornemos conscientes da sua existência, mas ficarmo-nos só por aí torna-nos especialistas no problema e não especialistas na procura de soluções.
Mulheres mais capazes de lutar pela igualdade de género são mulheres mais empoderadas, e como é que isso se consegue? Autoconhecimento, autocuidado e assertividade, diria serem ingredientes importantes nesta receita. Autoconhecimento é, como o termo indica, conhecimento sobre si própri@. E para isso seja possível, é necessário tempo e espaço… tempo para “ouvir” e identificar os indicadores que o seu corpo e a sua mente lhe dão (sensações físicas, comportamentos, pensamentos, emoções). E espaço, um local onde consiga aprender a “ler” o que identificou, de forma a utilizá-lo eficazmente nos vários papéis que desempenha.
Quando falamos de autocuidado, falamos de ações realizadas individualmente com vista à preservação da saúde e/ou prevenção de doença. Simplificando: ações de prazer que permitam “recarregar” os níveis de bem-estar. Aqui, trazemos o foco à individualidade, porque é importante (para não dizer fundamental) que seja livre de se “recarregar” sozinh@.
Talvez neste momento já esteja a pensar em fechar esta janela e não continuar a ler mais um texto que lhe diz que tem que ser “sozinh@ contra o mundo” se quer ser feliz.
Não desista já… não é esse o meu objetivo, gostaria apenas de relembrá-l@ da importância de ser responsável pelo desenvolvimento de capacidades que lhe permitam ser emocionalmente autossuficiente e capaz de acrescentar livremente quem quiser na sua vida, sem que disso esteja dependente a 100% o seu bem-estar.
Por fim, assertividade, é um conjunto de atitudes e comportamentos que permitem ao indivíduo afirmar-se social e profissionalmente sem violar os direitos dos outros. Por outras palavras, desenvolver a capacidade de expressar os seus direitos e necessidades respeitando os do outr@. Se me conheço e se sou capaz de cuidar de mim, já percorri algum do caminho necessário para ser capaz de me exprimir assertivamente. Poderá ainda ser necessário definir o que aceito ou não na relação com o outr@ e treinar estratégias de comunicação que permitam comunicar com maior eficácia.
Estamos a chegar ao fim desde texto e começou a pensar “parece-me bem, mas por onde começar?!’”. Pois bem, comece por prestar mais atenção a si mesm@ no momento presente, às sensações do seu corpo, aos pensamentos que lhe surgem, às emoções que sente. Retire 30 minutos do dia para um hobbie, uma atividade que sempre quis fazer, aprender algo novo, etc., qualquer coisa que a faça “recarregar”. Torne-se também mais atenta à forma como interage com as outras pessoas, perceba as diferenças entre contextos. Assim começa a mudança.
Tornar-se uma mulher mais empoderada, vai permitir que as próximas gerações de mulheres recebam o mesmo salário do que os seus colegas, que têm como característica distintiva serem homens. Tornar-se uma mulher mais empoderada, vai permitir que promova ambientes mais equitativos à sua volta. Tornar-se uma mulher mais empoderada vai permitir que se sinta melhor na relação consigo própria. Vamos começar a mudança?
Quem é Andreia Bastos*?
Desde que se lembra de si que quer ser psicóloga. Ingressou no Mestrado em Psicologia na Universidade de Lisboa e concluiu-o na área de Psicologia Clínica, em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental e Integrativa. Posteriormente, fez formação pós-graduada em Neuropsicologia Clínica, é formadora certificada pelo IEFP e frequenta a pós-graduação em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental e Integrativa na APTCCI. Desempenha a sua atividade clínica em consultório privado. A par da vida profissional, está envolvida em atividades de voluntariado, adora Netflix e passeios ao ar livre.
– Sabe mais aqui.