Simone de Beauvoir: A Voz Insubmissa do Feminismo Moderno

Simone de Beauvoir © Wikipédia

Projeto “52 Mulheres em 2025 – MEV, MulheresEmViagem.pt”. A história de uma mulher, por cada semana do ano. Durante o ano de 2025, o MulheresEmViagem.pt faz uma homenagem a Mulheres de todo o Mundo, de vários países, de várias áreas de formação, que se tornaram referências. Algumas já não estão entre nós, mas muitas outras ainda estão a transformar o nosso mundo, dia após dia, com o seu esforço e trabalho por um mundo mais igualitário! Por um mundo com mais referências femininas, sobretudo em áreas que nos estiveram vedadas durante séculos (milénios, por vezes…).

Mais Sobre o Projeto “52 Mulheres em 2025 – MEV, MulheresEmViagem.pt”. A história de uma mulher, por cada semana do ano.

Início de Vida e Formação

Simone Lucie Ernestine Marie Bertrand de Beauvoir nasceu a 9 de Janeiro de 1908, em Paris, França. Filha de uma família burguesa, recebeu uma educação católica tradicional. Contudo, desde cedo demonstrou uma curiosidade intelectual fora do comum. Rejeitou os papéis sociais atribuídos às mulheres da sua classe e dedicou-se aos estudos com uma intensidade rara.

Formou-se em Filosofia na prestigiada Universidade de Sorbonne, tornando-se, em 1929, a mais jovem a passar no exigente exame de agrégation em Filosofia, ficando em segundo lugar — atrás apenas de Jean-Paul Sartre, com quem viria a partilhar uma ligação intelectual e amorosa, que marcaria a sua vida.

Parceira de Sartre? Muito mais do que isso

A relação entre Simone de Beauvoir e Sartre tornou-se lendária, não só pela sua duração como pela sua natureza aberta e anticonvencional. Recusaram o casamento, a monogamia imposta e os papéis tradicionais de género. Ainda assim, a visão de Beauvoir foi muitas vezes eclipsada pela aura de Sartre, sendo frequentemente tratada como “a companheira de Sartre” — um título que ela própria rejeitava.

Beauvoir foi uma pensadora independente, com ideias próprias e uma escrita marcante. A sua obra filosófica, literária e autobiográfica não só a distinguiu como uma das grandes intelectuais do século XX, como ajudou a moldar o pensamento feminista moderno.

O Segundo Sexo: Uma Obra Revolucionária

Publicado em 1949, “O Segundo Sexo” (Le Deuxième Sexe) é a obra mais influente de Simone de Beauvoir. Nesta análise monumental, dividida em dois volumes, a autora disseca a condição feminina através da história, biologia, psicanálise, literatura e sociedade.

É neste livro que surge a célebre frase: “Não se nasce mulher: torna-se mulher.” Com esta afirmação, Beauvoir rompe com a ideia essencialista do feminino e propõe que o género é uma construção social — uma tese que antecipou muitos dos debates atuais sobre identidade e igualdade.

A receção da obra foi controversa: foi proibida em alguns países, atacada pela Igreja e até por sectores da esquerda. Ainda assim, tornou-se uma referência obrigatória para várias gerações de mulheres (e homens) que procuraram compreender — e mudar — a posição das mulheres na sociedade.

Escritora, Viajante e Observadora do Mundo

Além do ensaio filosófico, Beauvoir escreveu romances, contos, memórias e reportagens. Obras como “Os Mandarins” (Prémio Goncourt, 1954), “Memórias de uma Jovem Bem-Comportada” ou “A Força das Coisas” revelam uma autora atenta ao seu tempo, com um olhar crítico e uma escrita rica em nuance.

Viajou por todo o mundo — do Brasil à China, dos Estados Unidos ao Japão — e registou nas suas crónicas impressões sobre culturas, política e direitos humanos. Foi também uma voz ativa contra o colonialismo, a pena de morte e as injustiças sociais.

Legado e Relevância Atual

Simone de Beauvoir faleceu a 14 de Abril de 1986, mas a sua obra continua a ser reeditada, estudada e debatida. A sua influência é visível em movimentos feministas, estudos de género, política e literatura contemporânea. Em pleno século XXI, muitas das questões que levantou — sobre liberdade, opressão, sexualidade ou envelhecimento — continuam pertinentes.

Mais do que uma pensadora do seu tempo, Beauvoir foi uma visionária que ousou pensar o impensável e escrever o que muitos temiam dizer.

Curiosidades sobre Simone de Beauvoir

Nunca se casou nem teve filhos, por opção consciente. Considerava que estas instituições podiam ser armadilhas para as mulheres.

Em 2008, foi homenageada com a criação do “Prémio Simone de Beauvoir para a Liberdade das Mulheres”, atribuído anualmente a pessoas ou organizações que defendem os direitos das mulheres.

Foi professora de Filosofia de nomes como Claude Lanzmann, que viria a tornar-se seu companheiro nos últimos anos.

Teve relações afetivas com mulheres e homens, desafiando as normas heteronormativas da sua época.

Está enterrada no Cemitério de Montparnasse, em Paris, ao lado de Jean-Paul Sartre.

Simone de Beauvoir © Wikipédia
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