Bem-vind@s à quarta onda, ou vaga, feminista

@luciadong

Em 2021, altura que escrevo este texto, há quem diga que estamos na quarta onda, ou vaga, feminista. Na generalidade, as “Conversas do Confinamento” trouxeram muitas trocas de opiniões e reflexões sobre o que é o Feminismo, hoje em dia; como surgiu; o que mudou; no que se tornou, com a sua evolução; e qual a percepção que a sociedade e a cultura, que nos rodeiam (cada país tem as suas!), tem d@s feminist@s.

Feminismo © Pixabay
Feminismo © Pixabay

A verdade é que muito antes do que é considerada a primeira vaga do Feminismo, muitas mulheres, isoladamente ou juntas, lutavam pelo direito de independência; pelo direito à liberdade; para que a sua opinião fosse ouvida; o seu voto fosse tido em conta; pelo direito da propriedade; pelo direito ao ensino; para que o seu salário fosse revisto, em igualdade de tarefas; etc.

A mulher ganhou mais “voz”, é um facto, mas o mais curioso é que ainda não foram suficientes as evoluções. E estamos a falar de países como Portugal, porque se formos olhar para o mundo inteiro… muito longe, estamos de o sexo feminino ter igualdade nos direitos básicos. É uma longa caminhada… e nunca será só por nós, será por todas as mulheres do mundo inteiro e todas as crianças… Os atos de revolução e de pedidos de mudança reverberam pelo mundo todo.

Senão, vejamos: o movimento #MeToo começou nos EUA e passou pelo mundo todo. Portanto, os esforços que tomarmos em mãos, nunca serão só por nós ou pela sociedade em que estamos inseridas. Serão por todas aquelas mulheres, especialmente por aquelas que ainda não conseguiram sequer o direito de usar a voz a seu favor.

Foto: StockSnap © Pixabay
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Achar que o movimento #MeToo é contra os homens é não ver que os ataques sexuais feitos a mulheres são na sua grande maioria feitos por elementos do sexo masculino. Sabemos que não são todos! Mas, não o dizermos é também fingirmos que o problema não existe. E sabemos que muitos homens estão connosco nesta “luta”. Porque percebem que mulheres com igualdade de direitos, serão mães, amigas, irmãs, namoradas, mulheres… mais livres! E isso também lhes trará uma nova liberdade!

A Convenção de Seneca Falls, em 1848, nos Estados Unidos, é um dos momentos importantes e que pode ser considerado impulsionador do movimento Feminista – a primeira convenção sobre os direitos da mulher, nos Estados Unidos.

Considera-se que o início da Primeira Vaga Feminista foi em 1893 – a esta atribuem ao Movimento Sufragista. Apesar disso, as expressões “feminismo” e “feminista” já existiam e eram usadas desde 1872 e sobretudo em França. Porquê?

Sabiam que é a Charles Fourier, socialista e filósofo francês, que é atribuída a “invenção” da palavra Feminismo, em 1837? A palavra “feminista” entrou para o dicionário (Oxford English), em 1894, e a palavra “feminismo”, em 1895.

Aqui, os primeiros passos foram em busca da igualdade de direitos: direito ao acesso à nossa liberdade individual (não sendo a mulher uma propriedade da família ou do homem com quem casasse; ou obrigada a casar-se); e o direito ao voto. As sufragistas começam aqui a ganhar espaço e percebe-se que a sociedade é feita de homens e mulheres ainda que a voz e as necessidades destas últimas nunca fosse ouvida.

1918 – Representation of the People Act, no Reino Unido, onde (algumas) mulheres acima dos 30 anos (com algumas condicionantes) já podiam votar.

Foto: sasint © Pixabay
Foto: sasint © Pixabay

Início da Segunda Onda/ Vaga Feminista: associada às ideias de libertação feminina.

1949 – Lançamento do livro “O Segundo Sexo” de Simone de Beauvoir, onde é analisado o papel e a situação da mulher na sociedade.

1956 – “Feminismo de Estado” no Egito

Informação retirada daqui: “Em 1956, o presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser, iniciou “feminismo de Estado”, que proibiu a discriminação com base no sexo e concedeu o sufrágio feminino, mas também bloqueou o ativismo político de líderes feministas.[50] Durante a presidência de Anwar Al Sadat, sua esposa, Jehan Sadat, defendeu publicamente direitos adicionais para as mulheres, embora a política e a sociedade egípcia tenham começado a afastar-se da igualdade das mulheres com o novo movimento islâmico e o crescente conservadorismo.[51] No entanto, alguns ativistas propuseram um novo movimento feminista, o feminismo islâmico, que defende a igualdade das mulheres dentro de uma estrutura islâmica.[52]

1960 – A primeira pílula anticoncepcional chega ao mercado: e isto é muito importante, sobretudo visto na forma como ela vem libertar as mulheres, resgatando o seu poder sexual, sem receio de engravidar – ou pelo menos dando a possibilidade de não o querer. Isso mudou em muito o papel das mulheres, no mundo inteiro.

1975 – “Redstockings, Feminist Revolution”, livro de Carol Hanisch, fundadora do grupo Mulheres Radicais de Nova Iorque

Foto: pasja1000 © Pixabay
Foto: pasja1000 © Pixabay

Início da Terceira Onda/ Vaga Feminista

1990 – Criação do movimento punk feminista Riot Grrrl

1992 – Rebecca Walker traz o termo “terceira vaga do feminismo”

O início de uma nova vaga / onda feminista, não significa que os princípios das outras tenham deixado de existir; são sempre uma continuação das anteriores. Se o direito ao voto ja não faz sentido no nosso país – Portugal -, ainda que o faça noutros países, há ainda muitos temas em cima da mesa… como a igualdade de salários, para as mesmas tarefas, que se imagina que leve 100 anos para ficar equiparada.

2006 – Alguns defendem que tenha iniciado aqui a Quarta Onda / Vaga Feminista. Não sendo consensual, quando começa esta nova fase do Feminismo, é certo que o ativismo em defesa da igualdade de direitos está cada vez mais em discussão. E, para isso, descontrói toda a imagem secular (milenar) que está associada à mulher e que a prende a estereótipos, que se crê, a limitam no seu papel social.

2012 – Considerado para alguns, como os primeiros de muitos anos importantes da Quarta Onda / Vaga Feminista: muito associada ao ativismo feminista lançado nas redes sociais.  

“Os temas que estão sobre a atenção das feministas da quarta onda incluem o assédio nas vias públicas e no ambiente de trabalho, a violência sexual nos campos universitários e a cultura do estupro /violação. Escândalos envolvendo o assédio, o abuso e o assassinato de mulheres e meninas estimularam o movimento. Entre eles incluem-se o caso de estupro coletivo em Délhi em 2012, as acusações contra Bill Cosby e Kimmy Savile, o massacre de Isla Vista em 2014, o julgamento de Jian Ghomeshi em 2016, as acusações contra Harvey Weinstein em 2017 e o subsequente efeito Weinstein.[6]” – informação da Wikipédia.

2017 – Marcha das Mulheres, e no jornal Observador

2018 – Movimento #MeToo

Neste vídeo abaixo, está o discurso Emma Watson, atriz britânica, na Organização das Nações Unidas (ONU), onde falou sobre a Igualdade de Género, no âmbito da campanha “He for She” da ONU. Com legendas aqui.

Textos que complementam a informação:

Movimento Feminista em Portugal: seminário organizado pela UMAR em 1998

“Feminismos em Portugal (1947-2017)”, de Maria Manuela Paiva Fernandes Tavares, um Doutoramento em Estudos sobre as Mulheres (Especialidade em História das Mulheres e do Género)

– “Feminismo de Estado em Portugal“, por Rosa Monteiro (Tese de doutoramento na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, para obtenção do Grau de Doutora em Sociologia do Estado, do Direito e da Administração)

– “O novo Feminismo“: “Cresce nas redes sociais em vez de estar centrado na academia. É menos político e mais comunitário. E aceita todo o tipo de mulheres”, no semanário Expresso

– “Chegou a quarta vaga do feminismo, e veio para ficar”, no jornal Público

Igualdade de direitos para os outros, não significa menos direitos para ti. Não é tarte. Foto: That's Her Business
Igualdade de direitos para os outros, não significa menos direitos para ti. Não é tarte. Foto: That’s Her Business