A Osteopatia surgiu na vida de Sayonara Adriano quando teve uma lesão grave num ombro. Marcou uma consulta com um osteopata e não se pode dizer que tenha sido “amor à primeira vista”. Mas, foi à segunda! Poucas horas depois daquela consulta, com o profissional, viu melhorias e ficou irremedialvelmente apaixonada por esta área. Foi estudar e tirar o curso de Osteopata, para exercer a sua profissão de hoje. Natural de Angola, mas a viver há 40 anos na Póvoa de Varzim, Sayonara é também Instrutora de Fitness e muda a saúde e a vida de muita gente. Sempre para melhor!
As entrevistas do MulheresEmViagem.pt dão a conhecer o trabalho de inúmeras mulheres em diferentes áreas da vida e da sociedade. Vamos conhecer melhor Sayonara Adriano nesta entrevista. Contactos para consultas podem ser encontrados no final deste texto.
MulheresEmViagem.pt – Comecemos pelo início, até porque muita gente pode não saber, o que é a Osteopatia?
Sayonara Adriano – É uma medicina holística não convencional que trata patologias relacionadas com o sistema nervoso, ósseo, muscular e visceral através de técnicas de manipulação de alta velocidade ou de baixa intensidade consoante a patologia/lesão. A nossa prioridade não é “estalar” ossos mas sim tratar o corpo de forma que o paciente sinta alívio da dor ou retome a falta de mobilidade que provoque dor através de muitas técnicas que possuímos. Temos também a capacidade de diagnosticar e tratar, mas quando sai da nossa competência o tratamento mais adequado para o paciente, sabemos encaminhar de forma segura para a especialidade mais indicada. Temos várias especialidades sendo as mais frequentes a pediatria e desporto.
MulheresEmViagem.pt – Os telemóveis e tablets trouxeram más posturas, nos dias de hoje?
Sayonara Adriano – A Osteopatia também funciona de forma profilática nas lesões ou então em estruturas congénitas em que ajudamos o paciente a viver sem dor e com qualidade de vida. Cada vez mais vem à baila o tema Postura, é um tema que nos dias que correm são bastantes falados na faixa etária jovens adolescentes devido ao uso excessivo dos telemóveis e tablets e também de pessoas que são sedentárias, passando horas sentadas, ou de pé, e que vão originando de uma forma involuntária algumas posturas menos corretas que acabam, num futuro próximo, em dor numa determinada área do corpo.
MulheresEmViagem.pt – Quais são as queixas mais comuns?
Sayonara Adriano – As queixas mais comuns que aparecem em consultório são as ditas contraturas, muito devido ao stress e ansiedade, lombalgias, dorsalgias e cervicalgias generalizadas, enxaquecas, problemas viscerais como má digestão, refluxo, azia, obstipação e gases, dores nos ombros tanto de carácter muscular como nervoso que por vezes é irradiado para a mão com sensação de formigueiro ou perda de força. Nos idosos são a gonartroses (artrose do joelho), coxartroses, osteófitos mais conhecidos de bicos de papagaio.
MulheresEmViagem.pt – Se puder dar uma dica básica, diária, de prevenção…
Sayonara Adriano – O nosso corpo é movimento, por isso, recomendo sempre ao acordar que se devem espreguiçar durante 5 a 10 minutos. Se possível alongar e depois ir trabalhar, ou para a escola, e no retorno a casa, voltar a alongar antes de ir para a cama. Devemos ter boas horas de sono reparador de forma que não acordamos mais cansados do que nos deitamos, a hidratação é crucial para o bom funcionamento da parte visceral, na hidratação óssea e para uma melhor qualidade da nossa pele.
Fazer exercício físico, pelo menos três vezes por semana, de forma a prevenir doenças cardiovasculares e respiratórias e garantir uma boa mobilidade muscular e articular do corpo. Também na questão da alimentação que, devido à nossa falta de tempo, muitas das vezes é feita de refeições calóricas e rápidas e de baixo valor nutricional. Para esta situação recomendo sempre um acompanhamento de um nutricionista e de suplementação.
MulheresEmViagem.pt – Além da osteopatia, também trabalha na área do fitness?
Sayonara Adriano – Sim, trabalho na área do Fitness mas só com as modalidades de Alongamentos/flexibilidade e Localizada. Antes de completar a licenciatura de Osteopatia, trabalhava a full-time no Fitness, onde tenho uma cédula profissional CEFAD e 19 formações de modalidades fitness onde três delas são internacionais e como Personal Trainer especializada em Obesidade e Controlo de Peso, Hipertrofia Muscular Feminina e suplementação para atletas de alta competição e suplementação para mulheres ativas . Trabalhei em vários ginásios durante todo o meu percurso como professora mas grande parte foi na empresa Fitness Up Famalicão durante 8 anos e, no ginásio B Active Fitness Center há 15 anos e ainda continuo lá a dar as duas modalidades (Alongamentos/flexibilidade e Localizada).
MulheresEmViagem.pt – E como começou esta paixão pela Osteopatia?
Sayonara Adriano – Em 2013 tive uma lesão grave no ombro que me impedia de trabalhar e de realizar as minhas tarefas diárias. Foi quando recorri à medicina convencional, que me encaminharam para a especialidade Ortopedia onde me disseram que a solução para a resolução da minha lesão seria a cirurgia. Não concordando com esse tratamento procurei outras alternativas e foi quando fui pela primeira vez a uma consulta de Osteopatia.
Na consulta aconteceu algo caricato, após a anamnese do Osteopata seguiu-se o tratamento onde ele só realizou manipulação visceral nomeadamente do fígado e da vesícula. Sofri horrores e confesso que saí frustrada da consulta porque ele fez tudo menos tocar-me no ombro.
O Osteopata disse que o que impedia o movimento do braço era a dilatação do meu fígado e o facto de ter uma vesícula em gancho e que, em menos de 12 horas, eu iria conseguir mobilizar o braço de forma normal. Mas que teria de marcar outra consulta para terminar o tratamento. Não querendo ser mal educada marquei uma segunda consulta, mas quando cheguei ao carro tive a sensação de que tinha sido “enganada”!
Entretanto, chego a casa, e estava a comentar com a minha família aquele momento “estranho” da consulta e dou por mim a levantar o braço SEM DOR, para alcançar os pratos que estavam num móvel da cozinha, relativamente alto. Fiquei abismada!!! Comecei logo a fazer tudo que limitava o movimento do meu braço como levantá-lo, fazer flexões no chão e pegar o meu filho ao colo…”isto só pode ser bruxaria ahahahah”.
Fui à segunda consulta quase sem dor e pedi para o Osteopata explicar a relação do meu ombro com a minha parte visceral. O profissional explicou-me, e tratou-me novamente, mas verdade seja dita que não percebi nada o que ele disse. Por isso, curiosa como sou, fui pesquisar e fui fazer um exame (ecografia) visceral para verificar a veracidade daquilo que me tinham dito e um TAC ao meu ombro para perceber o que aconteceu, para voltar a conseguir mexer sem dor.
Eis que a ecografia mostrou que tinha um ligeiro aumento do fígado e a vesícula em gancho, o que dificultava a minha digestão, e o TAC ao ombro já revelava nenhuma presença de lesão! “OMG, o que é isto? Num momento, estava sujeita a uma panóplia de antiflamatórios e a uma cirurgia e, de repente, deixei de necessitar dos medicamentos e o meu ombro estava bem.”
MulheresEmViagem.pt – Gosto de mostrar os muitos exemplos de mulheres que mudam de profissão e de vida, independentemente da área e da idade… é o seu caso.
Depois destas consultas, não resignada, fui investigar o que era Osteopatia. Encontrei um Instituto no Porto que tinha esse curso e decidi ir fazê-lo. Comecei a estudar no IMT, em 2014, e no meu 4º ano, último ano do curso, saiu uma lei em 2018 que a partir de 8 de Julho de 2022 só os licenciados em Osteopatia, ou os que tivessem o curso de Osteopatia, teriam de completar os créditos necessários para terem acesso a cédula profissional para poderem exercer Osteopatia. Decidi desistir do IMT pois não garantiam a cédula – porque era um Instituto não certificado do ensino superior – e, com 36 anos (!), lá fui tirar a Licenciatura de Osteopatia, na Escola de Saúde Superior Vale do Ave (ESSVA/CESPU) em Vila Nova de Famalicão.
Foram os quatro anos mais difíceis da minha vida, pois senti sempre que havia uma imparcialidade do grupo docente da faculdade, com alunos de alguma idade e trabalhadores-estudantes. Mas… terminei com 19 valores, apesar de no meu relatório de estágio ter tido uma nota injusta (terminei a licenciatura com a nota injusta de 13). O bullying e a pressão foram tão grandes, durante os anos de faculdade, que em 2022 tive um burnout. Demorei mais ou menos um ano para recuperar. Mas, atirei-me de cabeça para o mercado, começando a trabalhar em vários locais e, hoje em dia, tenho um leque alargado de pacientes. Já Still, Pai da Osteopatia dizia :” …de nada vale o teu conhecimento se as tuas mãos não transbordam a sensibilidade do teu toque nos pacientes…”.
E agora… vou começar a minha especialização em saúde da mulher, grávidas e puerpério. Uma nova aventura!