É uma das doenças mais mortíferas: o cancro mata mais do que sida, malária e tuberculose juntas. Segundo os dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde, estima-se que uma em cada seis mortes no mundo se deve a cancro – foram 9,6 milhões em 2018. E este é um texto de quem viveu de perto (demasiado perto, como escreve) com a doença. No MulheresEmViagem.pt a escrita é usada como forma de exteriorizar, refletir e informar. Diz-nos a autora: “Acredito que quem nos cura somos nós próprios! Mas não precisamos, nem devemos fazê-lo sozinhos!”.
Texto de: Susana Rangel Cerdeira
Autora do Projeto Eu Sou
Ele entrou na minha casa sem avisar. Veio de malas e bagagem e instalou-se sem sequer pedir permissão.
O que eu pensava que seria uma visita desagradável, mas temporária, transformou-se num inquilino permanente, que nunca nos deixou. É assim o cancro!
Mas não é sempre desse modo!
Para os meus pais foi assim. Perdi-os, um de cada vez. Hoje, compreendo que era o suposto.
Mas sei que, em certos casos, esta doença é “apenas” uma visita passageira, que vem sempre para ensinar lições importantes a quem com ela convive. Na mesma altura em que se instalou na nossa casa, passou também na vida de outras pessoas que me eram próximas. Felizmente, essas pessoas hoje estão bem… Eu diria até, mais fortes, detentoras de uma aprendizagem sobre a natureza humana, que poucas coisas nos conseguem dar.
Porém, depois de ter convivido com esse ser, de perto, demasiado perto… chegámos a tornar-nos íntimos até… Eu entendi que a sua pior versão, a mais letal, é também a mais silenciosa.
O cancro da alma.
Este é o mais assustador, porque não é diagnosticável e como tal, torna-se tremendamente subestimado. Só o reconhecemos quando se mostra sob a forma da depressão profunda e tudo o que nela cabe.
O cancro da alma é o mais letal, porque, na minha perspetiva, é o que origina quase todos os outros.
Mas também é o único que contém em si a possibilidade de cura total!
Este, eu já o senti dentro de mim por um bom tempo e quase me consumiu por completo.
Hoje vejo pessoas que amo muito, a serem dilaceradas por ele. Quando este tipo de cancro se instala em nós, sentimo-nos reféns, sentimos que tudo o que fizermos de nada vai adiantar. Sentimos que a vida é um peso e chegamos a pensar que só queremos que ela passe rápido, para que a dor acabe.
Ou, por outro lado, deixamos de sentir e, sei que isto é ainda mais assustador… Sei porque já o vivi. Dei por mim numa desconexão profunda. Depois de tanta dor, é como se a minha alma tivesse decidido desconectar-se de tudo e, então, quando isso acontece, deixas de sentir.
O problema é que tudo perde a importância.
Cais num vazio existencial. Deixas de dar valor a tudo e passa a não importar estar aqui ou não estar… a vida perde realmente o sentido.
É exatamente aí que reside a estratégia do cancro da alma… É em fazer-nos acreditar nisso, que a vida não tem valor! É a grande mentira que ele nos conta!
A grande verdade é que ele não nos pode roubar a força que de facto temos. Ele apenas brinca com a nossa mente, emoções e crenças. A sua arte é fazer-nos acreditar que não temos capacidade para o vencer.
Mas, acredita, por experiência própria, nós temos! É importante entendermos quando ele está a tomar conta de nós, e, a partir daí, procurar ajuda.
E toda a ajuda é necessária. Seja de um amigo, de um companheiro, de um psicólogo, de um terapeuta, do Divino. Mas acima de tudo, da força interna que TU tens!
Todos temos capacidade de superação.
Absolutamente tudo o que nos acontece, por mais pesado que seja, só entra na nossa vida para nos ajudar a evoluir, a aprender o que a nossa alma se propôs, e só entra porque pode ser superado!
O que te acontece, não te acontece a ti, mas PARA ti.
Todas as provações estão na medida da nossa força. Nada estará além daquilo que tu consegues superar. Nada!
“Estamos aqui para nos curar uns aos outros”. Ouvi esta frase que me fez muito sentido. Precisamos procurar ajuda de quem já trilhou os mesmos caminhos, de quem tem as ferramentas necessárias para lidar com estas questões, ou, simplesmente, de quem nos ama. Contudo, na minha visão estamos aqui para AJUDAR na cura uns dos outros.
Acredito que quem nos cura somos nós próprios!
Mas não precisamos, nem devemos fazê-lo sozinhos!
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