Mulheres no Mundo do Vinho: Vieram para Ficar

Quinta-de-Lourosa-Lousada-©-Viaje-Comigo

No mundo do vinho há cada vez mais mulheres a “darem cartas”: para este texto foram selecionadas 6 enólogas portuguesas, mas, podiam ser mais, muitas mais!… De norte a sul de Portugal, e ilhas, ou seja, em cada região, há mulheres a fazerem vinhos inesquecíveis. Convidamos a Madalena Vidigal, do Entre Vinhas, especialista em Enoturismo, para nos deixar as suas sugestões.

MULHERES NO VINHO: VIERAM PARA FICAR

Por, Madalena Vidigal*

Quando me perguntam “o que é ser mulher no mundo do vinho?” eu respondo que é o mesmo que ser mulher no mundo. Ponto. Com os desafios a isso associados, ainda com alguma desconfiança por parte da sociedade. Mas, estamos em 2021 e felizmente muito evoluiu nos últimos anos, neste sector.

Sem dúvida que em tempos não muito distantes, este foi um mundo só de homens. Desde o produtor, ao enólogo, ao comerciante e mesmo ao consumidor. Eram eles que estudavam e produziam e que tomavam decisões na hora que comprar o vinho para pôr na mesa.

Mas esses tempos estão cada vez mais longínquos e muitas mulheres já desbravaram caminho para que as gerações recentes agora se aventurem a crescer no mundo do vinho. Actualmente existem cada vez há mais enólogas, produtoras, comerciais, jornalistas, críticas, bloguers de vinho a dar cartas em Portugal, sendo muito respeitadas por todo o público.

O paladar e olfacto femininos são bem apurados, a nossa sensibilidade para comunicar marcas é sofisticada e o nosso gosto para comprar vinho está cada vez mais exigente. Definitivamente as mulheres alcançaram um lugar importante no sector do vinho em Portugal e um pouco por todo o mundo, fazendo com os homens, uma excelente equipa.

Quinta da Côrte -Valença do Douro Portugal © Viaje Comigo
Quinta da Côrte -Valença do Douro Portugal © Viaje Comigo
Madalena Vidigal
Madalena Vidigal

De norte a sul, vão surgindo jovens enólogas que são já fruto desta mudança e que prometem revolucionar o vinho em Portugal! Hoje apresento-vos seis talentosas mulheres e os excelentes vinhos que criam, um pouco por todo o país.

JOANA SANTIAGO – VINHO VERDE

Joana é rosto de um projeto familiar criado em 2009 em Monção, região do Vinho Verde. Apesar de ser formada, e exercer, advocacia, não conseguiu dizer não a uma mulher bem importante na sua vida, a sua avó Maria, quando esta lhe pediu para se dedicar à quinta de família.
Na verdade, até então era a avó a responsável pelas vinhas da quinta no entanto ali produzia-se uva para venda apenas, mas a avó Maria achou que estava na altura da quinta produzir um vinho com marca própria e foi aí que Joana mudou a sua vida.
Por exigência da avó, o novo projecto ganhou o nome da família e a Quinta de Santiago é hoje um dos produtores de referência nesta região
Joana Santiago é uma enóloga cheia de garra. Na Quinta de Santiago produz 7 vinhos diferentes, exclusivamente a partir da casta Alvarinho e aventura-se também em parcerias com outros produtores, provando ser uma enóloga criativa e muito prometedora!

Joana Santiago
Joana Santiago

MARTA CASANOVA – DOURO

Como muitos dos mais reconhecidos enólogos do Douro, também Marta Casanova se formou na Universidade em Vila Real (UTAD). Estudou Engenharia Agrícola focando-se essencialmente área da viticultura e enologia.
Desde aí, sempre trabalhou em vinhos na região do Douro e sempre em empresas relativamente pequenas, o que lhe permitiu envolver-se em todos os departamentos, desde a enologia, a viticultura, área comercial e burocracia.
Tem noção que esta ainda é uma área associada ao universo masculino, mas confessa que sempre gostou mais do trabalho de “homens” e do trabalho prático e físico. E isso só a faz ter mais orgulho e garra no seu trabalho diário.
Actualmente, é directora de enologia da Quinta da Côrte mas na verdade responsável pelo total funcionamento desta quinta vinhateira
“Ser responsável de uma Quinta não é só ser enóloga ou tratar da vinha. É tratar de uma casa como se fosse nossa” diz Marta, mulher prática, talentosa e apaixonada pelos vinhos e pelo seu Douro. → Experiências da Quinta da Côrte.

Marta Casanova
Marta Casanova
Quinta da Côrte -Valença do Douro Portugal © Viaje Comigo
Quinta da Côrte -Valença do Douro Portugal © Viaje Comigo
Quinta da Côrte -Valença do Douro Portugal © Viaje Comigo
Quinta da Côrte -Valença do Douro Portugal © Viaje Comigo

LÚCIA FREITAS – DÃO

Nasceu na Região do Dão e desde sempre teve uma forte ligação à terra, já que os avós têm uma quinta com vinha e olival. Com tradição de vinhos na família, Lúcia habituou-se a participar nas atividades agrícolas da quinta e ganhou-lhe o gosto!

Formou-se em Química, e foi ao trabalhar no laboratório de uma adega que descobriu a paixão pela enologia. Percebeu que como enóloga podia estar ora na adega, ora na vinha, viajar e a contactar com várias pessoas. Enquanto parte da equipa da Dão Sul – produtores de vinhos como Casa de Santar, Cabriz e Quinta do Encontro – teve a oportunidade de trabalhar em várias regiões do país e também no Brasil.
Esta experiência valeu-lhe a distinção de uma das 10 enólogas mais influentes de Portugal, pelo Jornal “O Público” em 2010
Ter estado à frente dos maiores projetos da região do Dão foi essencial para conseguir criar a Quinta da Mariposa. Este é um projecto que, com muito carinho e dedicação, há 6 anos Lúcia e o marido fizeram crescer. Hoje produzem oito referências de vinho branco e tinto e já têm uma nova adega em construção.

Lúcia Freitas
Lúcia Freitas

MADALENA SENA-ESTEVES – LISBOA

Madalena nasceu numa família de agrónomos e não quebrou a tradição. Inspirada pela vida ligada ao campo, e pelo trisavó produtor de vinho, Madalena formou-se em Enologia e Viticultura em Lisboa.
E foi mesmo na vinha que cresceu a sua paixão pelo mundo do vinho: entre podas e desfolhas, ver a vinha a florir e mais tarde a “pintar”. Depois foi o seu primeiro estágio de vindimas – na Quinta do Pinto em Lisboa – que a fez ver com claridade que o seu futuro passava pela enologia.
Como todas as pessoas curiosas e que querem ir mais longe, Madalena Sena-Esteves foi explorar novas regiões em Portugal e no mundo: do Douro foi até Sonoma na Califórnia, a Marlborough na Nova Zelandia e Mosel na Alemanha.
Além da enologia, também outras áreas lhe despertaram interesse. Percebendo a importância dos mercados externos, do marketing e com uma crescente curiosidade em conhecer quem bebia o vinho, trabalhou ainda na ViniPortugal e hoje é Brand Manager de uma grande distribuidora de vinhos portugueses. Depois de todas estas experiências Madalena confessa-se uma apaixonada por vinhos e pessoas, poder falar do vinho e comunicá-lo a pessoas “afinal como é que depois de feito o vinho chega aos consumidores?”.

Madalena Sena-Esteves
Madalena Sena-Esteves

TERESA CAEIRO – ALENTEJO

Nascida em criada na terra do Vinho de Talha – Vila de Frades – era inevitável que Teresa crescesse a ouvir o vinho a correr pelas talhas na adega e de ver o avô fazer aquele vinho que todos diziam ser “o melhor”.
Mas o seu coração não foi logo conquistado pelo vinho, antes ainda decidiu estudar Engenharia Geológica e de Minas em Lisboa, mas após um estágio extracurricular numa mina, em Angola percebeu que não era aquele o caminho a seguir.
De volta a Portugal, quem inicialmente conquistou o seu coração foi mesmo um rapaz da Vidigueira o que a fez passar bastante mais tempo na terra natal. Parecia que tudo começava a fazer sentido e Teresa finalmente foi estudar enologia para se poder dedicar ao projecto de vinhos já iniciado pelo avô Arlindo.
Teresa hoje com 25 anos, juntamente com o marido, reestruturaram todo o conceito da adega e são as jovens caras da Gerações da Talha, garantindo que a tradição deste vinho ancestral não é esquecida! → Experiências na Gerações da Talha.

Teresa Caeiro
Teresa Caeiro

JOANA MAÇANITA – ALGARVE

Agrónoma de formação mas Enóloga de profissão, Joana tem costelas Algarvias, Açoreanas e Alentejanas. Viveu na Austrália, onde estagiou em vindima, mas foi no Douro que Joana se revelou e cresceu como enóloga em Portugal.
Enologia , aliás, uma paixão que corre na família Maçanita já que o seu irmão António é igualmente enólogo, e juntos, têm um projecto de vinhos também no Douro.
Joana é uma mulher curiosa e já fez um pouco de tudo relacionado com o vinho. Além de criar uma empresa centrada na Consultoria Enológica, é juri em concursos internacionais de vinho e desenvolveu, em parceria com a Escola Turística e Hoteleira dos Açores um projecto de Enogastronomia.
Em 2016, decidiu partilhar todo este conhecimento no seu primeiro livro intitulado “Branco ou Tinto”, onde explica como comprar, servir, provar e harmonizar vinhos.
Nos últimos oito anos Joana tem-se dedicado com grande entusiasmo e paixão aos vinhos do Algarve como consultora de cinco produtores desta região, entre eles Quinta João Clara e o Morgado do Quintão.
A perseverança e envolvimento de Joana Maçanita, tem contribuído para o renascer da produção de vinho na região mais a sul de Portugal, assim como recuperar castas mais esquecidas como a tinta Negra Mole que actualmente se afirma como a casta rainha do Algarve.

Joana Maçanita
Joana Maçanita

SOFIA CALDEIRA – ILHA DA MADEIRA

Sofia é Engenheira Agrícola de formação, mas na prática é muito mais do que isso. Desde cedo que segue os passos do pai Duarte nos trabalhos do campo na ilha da Madeira e juntamente com os dois irmãos, criaram o projecto Vinhos Terras do Avô – uma homenagem ao avô Alfredo por quem tinham um grande carinho e proximidade.
Os Caldeiras são uma família muito unida, todos colaboram como podem, para o funcionamento da empresa. Sofia é um “faz tudo” na empresa, além de ajudar na produção do vinho, está presente em todos os eventos e feiras, é comercial, relações publicas e é também quem recebe, e muito bem, todos os visitantes do seu enoturismo. As provas ou almoços, que acontecem no alpendre com vista para a cascata “Véu da Noiva”, contam sempre com vários petiscos caseiros feitos pela Sofia com a colaboração da mãe Júlia e da irmã Filipa.
No fundo, o projecto de vinhos é um factor agregador da família, e faz com que acorram todos à Casa Terras do Avô, no Seixal, no norte da Ilha.
Em 2019, por ocasião dos cinquenta anos da Sofia, a Terras do Avô lançou o espumante “SoCa” (Sofia Caldeira) cuja edição de 2014 foi o primeiro espumante alguma vez produzido na ilha da Madeira. Uma excelente forma de Sofia festejar uma vida tão preenchida!

Quem escreveu este texto?

*Madalena VidigalTenho duas grandes paixões na vida, presentes em tudo o que faço: o vinho e as viagens. Entre viagens e provas de vinho descobri o enoturismo! Esta descoberta transformou a forma como eu viajo hoje em dia. Gosto de dizer que viajo de copo na mão e descubro o mundo através do vinho.

Digo com orgulho que conheço todas as regiões de vinho do Vinho Verde ao Algarve, além de Madeira e Açores mas também Califórnia, austrália, Chile, Bordéus, Toscana, Rioja… e já estou a pensar nos próximos destinos!

Todas estas viagens têm estão registadas no meu blog, o Entre Vinhas, criado em 2015 de forma a partilhar as minhas experiências de enoturismo por Portugal e pelo mundo.

Sou licenciada em Gestão Hoteleira e Pós-Graduada em Enoturismo e em Viticultura.

Porquê Viticultura? Porque é uma realidade que eu passo a vida “Entre Vinhas”, entre a minha e a vinha de outros produtores. Uma das aventuras que surgiu na minha vida foi plantar uma vinha no Alentejo. Na verdade, foi resultado de uma longa paixão da minha família por vinhos que se tornou um pequeno projecto familiar. Deste projeto, sou responsável pela parte vitícola, assim como criação de marca, promoção e comercialização do vinho.

Actualmente, além de escrever no blog e cuidar da vinha, dou formação em Enoturismo e recentemente criei um podcast – o “5 Minutos de Vinho” – onde descomplico a linguagem do vinho. Podem seguir-me também no Instagram.