Maria Quitéria: A Heroína do Brasil e o Eco da Liberdade

Maria Quitéria

Projeto “52 Mulheres em 2025 – MEV, MulheresEmViagem.pt”. A história de uma mulher, por cada semana do ano. Durante o ano de 2025, o MulheresEmViagem.pt faz uma homenagem a Mulheres de todo o Mundo, de vários países, de várias áreas de formação, que se tornaram referências. Algumas já não estão entre nós, mas muitas outras ainda estão a transformar o nosso mundo, dia após dia, com o seu esforço e trabalho por um mundo mais igualitário! Por um mundo com mais referências femininas, sobretudo em áreas que nos estiveram vedadas durante séculos (milénios, por vezes…).

Mais Sobre o Projeto “52 Mulheres em 2025 – MEV, MulheresEmViagem.pt”. A história de uma mulher, por cada semana do ano.

Uma Mulher Fora do Seu Tempo

Maria Quitéria de Jesus nasceu em 27 de julho de 1792, na freguesia de São José das Itaporocas, no interior da Bahia, Brasil. Desde cedo, destacou-se pelo espírito livre e pela recusa em aceitar os papéis tradicionalmente reservados às mulheres da sua época. Numa sociedade patriarcal e conservadora, ela ousou aprender a manejar armas, cavalgar e caçar – habilidades que, em breve, a tornariam uma figura central na luta pela independência do Brasil.

A sua infância e juventude foram marcadas pela vida rural e pelas tarefas duras do campo. Criada apenas pelo pai, após a morte da mãe, Maria Quitéria cresceu num ambiente onde a força e a independência eram necessidades diárias. Essa formação moldou a sua personalidade determinada e o seu sentido de justiça, que seriam postos à prova anos mais tarde.

O Disfarce que Mudou a História

Em 1822, o Brasil vivia um momento de efervescência política. A luta pela independência intensificava-se, especialmente na Bahia, onde forças leais à Coroa portuguesa enfrentavam os partidários da separação.

Maria Quitéria, então com 30 anos, decidiu alistar-se no Batalhão dos Voluntários do Príncipe. Como o exército não aceitava mulheres, disfarçou-se de homem, usando fardas emprestadas do cunhado e cortando o cabelo curto.

Assumindo o nome de “Soldado Medeiros”, conseguiu juntar-se às tropas sem ser imediatamente descoberta. A sua coragem e habilidade no manejo de armas rapidamente chamaram a atenção dos seus superiores.

Quando o disfarce foi revelado, já era impossível negar o seu valor. Contra todas as convenções, foi autorizada a continuar na tropa – uma decisão inédita e simbólica para a época.

Reconhecimento e Legado

Maria Quitéria participou em diversas batalhas importantes, demonstrando bravura inquestionável. A sua presença nas fileiras do exército não só galvanizou os companheiros de luta, como também se tornou um símbolo da participação feminina na construção da liberdade.

Em 1823, após a vitória das forças brasileiras na Bahia, recebeu condecorações e reconhecimento direto do imperador Dom Pedro I, que a nomeou cadete e elogiou a sua bravura.

Apesar disso, com o passar do tempo, o seu nome caiu no esquecimento – um destino comum a muitas mulheres que desafiaram os papéis tradicionais. Maria Quitéria morreu em 1853, em Salvador, praticamente no anonimato.

Curiosidades sobre Maria Quitéria

  • Primeira mulher a integrar oficialmente o Exército Brasileiro. Embora outras tenham lutado em conflitos, ela foi a primeira reconhecida com patente militar.
  • Símbolo da luta feminina. Em 1996, foi escolhida como patrona do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro.
  • Apesar da sua relevância histórica, o seu nome é pouco conhecido em noutros países.
  • Retratada por Debret. O artista francês Jean-Baptiste Debret pintou Maria Quitéria a usar o seu uniforme militar, o que prova o impacto que causou até mesmo em observadores estrangeiros.

Embora Maria Quitéria seja uma figura ligada à independência do Brasil, a sua história também diz respeito a Portugal – afinal, foi contra a dominação portuguesa que ela combateu.

Mas mais do que isso, ela representa um espírito de emancipação e resistência que atravessa fronteiras. Em tempos em que se discute a igualdade de género e o papel das mulheres na sociedade, resgatar a memória de figuras como Maria Quitéria é essencial.

Não se trata apenas de celebrar uma heroína, mas de reconhecer que a história é feita, também, por mulheres que desafiaram o seu tempo e que continuam, séculos depois, a inspirar novas gerações.

Maria Quitéria
Maria Quitéria