Margaret Mead: a antropóloga que desafiou convenções e deu voz às mulheres

Congres Wereldraad van Kerken in Utrecht, antropologe Margaret Mead *15 augustus 1972

Projeto “52 Mulheres em 2025 – MEV, MulheresEmViagem.pt”. A história de uma mulher, por cada semana do ano. Durante o ano de 2025, o MulheresEmViagem.pt faz uma homenagem a Mulheres de todo o Mundo, de vários países, de várias áreas de formação, que se tornaram referências. Algumas já não estão entre nós, mas muitas outras ainda estão a transformar o nosso mundo, dia após dia, com o seu esforço e trabalho por um mundo mais igualitário! Por um mundo com mais referências femininas, sobretudo em áreas que nos estiveram vedadas durante séculos (milénios, por vezes…).

Mais Sobre o Projeto “52 Mulheres em 2025 – MEV, MulheresEmViagem.pt”. A história de uma mulher, por cada semana do ano.

Margaret Mead (1901–1978) foi uma das antropólogas mais influentes do século XX. Nascida em Filadélfia, nos Estados Unidos, ficou conhecida pelo seu trabalho pioneiro no estudo das sociedades da Polinésia e da Melanésia. Mais do que uma investigadora, Mead foi uma pensadora que questionou os papéis de género, a educação das crianças e a forma como a cultura molda a vida humana.

Numa época em que poucas mulheres tinham protagonismo académico, Mead destacou-se não só pela sua investigação rigorosa, mas também pela sua capacidade de comunicar ciência ao grande público. Foi uma defensora da emancipação feminina, da liberdade sexual e da valorização da diversidade cultural, tornando-se uma referência para gerações de mulheres académicas, escritoras e ativistas.

Primeiros anos e formação académica

Desde jovem, Margaret Mead foi incentivada a observar o mundo com curiosidade. Estudou na Barnard College e, mais tarde, na Universidade de Columbia, onde foi orientada pelo famoso antropólogo Franz Boas, considerado o “pai da antropologia moderna (norte americana)”.

Foi também discípula de Ruth Benedict, outra mulher pioneira da Antropologia, que se tornou sua amiga íntima e inspiração. Esta rede de mentores e colegas permitiu a Mead desenvolver uma visão crítica e ousada, questionando as normas ocidentais sobre família, sexualidade e comportamento social.

A pesquisa que mudou a Antropologia

A primeira grande viagem de Margaret Mead foi para Samoa, em 1925, com apenas 23 anos. O resultado foi o livro “Coming of Age in Samoa” (1928), que se tornou um clássico. Nesta obra, Mead descreveu como a adolescência nas ilhas era vivida de forma mais livre e menos conflituosa do que no Ocidente.

Para Mead, os problemas da juventude não eram universais, mas sim moldados pela cultura. Esta ideia foi revolucionária: desafiava a visão dominante que atribuía comportamentos humanos à biologia, mostrando que eram as normas sociais e culturais que determinavam grande parte da experiência de vida.

Mais tarde, investigou comunidades na Nova Guiné e em Bali, publicando obras como “Sex and Temperament in Three Primitive Societies” (1935), onde analisou como diferentes culturas construíam as noções de masculinidade e feminilidade. Mead mostrou que não existia uma “natureza feminina” ou “natureza masculina” fixa, mas sim múltiplas formas de viver o género.

Margaret Mead e a emancipação feminina

Um dos contributos mais significativos de Mead foi abrir espaço para que as mulheres fossem vistas como agentes centrais nas sociedades. Nos seus estudos, deu voz às experiências femininas, mostrando a importância do papel das mulheres na organização social, na transmissão de valores e na criação de comunidades.

Mead acreditava que as mulheres podiam ser líderes intelectuais e políticas, e a sua própria vida foi um exemplo disso. Divorciou-se várias vezes, viveu relações amorosas intensas e recusou-se a ser confinada aos papéis tradicionais de esposa e mãe. A sua filha, Mary Catherine Bateson, também se tornou antropóloga, dando continuidade ao legado familiar.

Uma voz pública e inspiradora

Ao contrário de muitos académicos da sua época, Margaret Mead não se limitou ao ambiente universitário. Tornou-se uma figura pública, escrevendo para revistas, participando em debates televisivos e aconselhando governos sobre temas como educação, sexualidade e direitos civis.

Durante os anos 60 e 70, esteve ligada ao movimento feminista e à defesa da liberdade sexual. Falou abertamente sobre temas considerados tabus, como a contraceção, a homossexualidade e a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres.

Mead acreditava que compreender outras culturas podia ajudar a repensar e transformar as sociedades ocidentais. A sua mensagem era clara: não existe apenas uma forma “certa” de viver, e aprender com a diversidade é essencial para o progresso humano.

Legado e impacto no século XXI

O trabalho de Margaret Mead continua atual e inspirador. As suas ideias anteciparam debates que hoje ainda dominam o espaço público:

  • Questões de género: a sua investigação mostrou que os papéis de género são construções sociais e não realidades biológicas imutáveis.
  • Educação e infância: valorizou a importância da educação cultural e da liberdade na formação das crianças.
  • Diversidade cultural: defendeu o respeito pelas diferenças e a ideia de que cada sociedade tem sabedoria própria a oferecer.
  • Feminismo: foi um exemplo de mulher independente, que fez carreira num mundo dominado por homens e mostrou que as mulheres podiam ser líderes de pensamento.

Hoje, a sua obra continua a ser estudada em cursos de Antropologia, estudos de género e sociologia, inspirando novas gerações a questionar normas sociais e a lutar por uma sociedade mais inclusiva.

Frases marcantes de Margaret Mead

Algumas das suas citações continuam a ser repetidas em contextos feministas e académicos:

“Nunca duvidem de que um pequeno grupo de cidadãos conscientes e comprometidos pode mudar o mundo. De facto, é a única coisa que alguma vez o conseguiu.”

“As crianças devem ser ensinadas sobre como pensar, não sobre o que pensar.”

“Os papéis de género não são dados pela natureza, mas sim inventados pela cultura.”

Estas frases resumem a sua visão transformadora e a sua crença no poder do conhecimento e da ação coletiva.

Margaret Mead não foi apenas uma antropóloga brilhante, mas também uma mulher que ousou viver de acordo com os seus princípios. Desafiou as convenções sociais, deu visibilidade às mulheres nas suas investigações e mostrou ao mundo que a diversidade cultural é uma riqueza e não uma ameaça.

Num mundo onde ainda se discutem questões de igualdade de género e respeito pelas diferenças, o legado de Mead continua a ser profundamente relevante. Para mulheres que procuram inspiração, a sua vida é um testemunho de coragem intelectual e independência pessoal.

Lembrar Margaret Mead é, em última análise, reconhecer a força transformadora de uma mulher que acreditou que outro mundo era possível – e dedicou a sua vida a prová-lo.