Isabella Bird: a Viajante Vitoriana que Desafiou Convenções

Projeto “52 Mulheres em 2025 – MEV, MulheresEmViagem.pt”. A história de uma mulher, por cada semana do ano. Durante o ano de 2025, o MulheresEmViagem.pt faz uma homenagem a Mulheres de todo o Mundo, de vários países, de várias áreas de formação, que se tornaram referências. Algumas já não estão entre nós, mas muitas outras ainda estão a transformar o nosso mundo, dia após dia, com o seu esforço e trabalho por um mundo mais igualitário! Por um mundo com mais referências femininas, sobretudo em áreas que nos estiveram vedadas durante séculos (milénios, por vezes…).

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Isabella Bird não foi apenas uma viajante – foi uma mulher que, com coragem e caneta na mão, escreveu o seu próprio destino. Através das suas palavras, o Mundo tornou-se mais próximo, mais compreendido e mais admirado. Hoje, continua a ser uma inspiração para viajantes, escritoras e mulheres que procuram quebrar barreiras.

Uma Mulher à Frente do Seu Tempo

Isabella Lucy Bird nasceu a 15 de outubro de 1831, em Inglaterra, no seio de uma família profundamente religiosa. Desde cedo, revelou uma personalidade curiosa, determinada e fora dos moldes impostos às mulheres da época Vitoriana. Sofria de problemas crónicos de saúde e, ironicamente, foi justamente por recomendação médica que começou a viajar – o que viria a transformar a sua vida.

Numa sociedade onde se esperava que as mulheres fossem discretas, dóceis e confinadas ao espaço doméstico, Isabella destacou-se como uma aventureira intrépida, escritora talentosa e fotógrafa amadora. Tornou-se uma das mais reconhecidas exploradoras do século XIX, desafiando normas de género, convenções sociais e limites geográficos.

Viagens pelo Mundo

As viagens de Isabella Bird levaram-na aos quatro cantos do Mundo. Aos 41 anos, embarcou numa jornada até ao Havai, onde escalou vulcões e cavalgou longas distâncias por trilhos perigosos. A sua experiência foi registada no livro “Six Months in the Sandwich Islands”, que revelou ao público europeu um olhar único sobre aquela cultura distante.

Seguiu-se o Colorado, nos Estados Unidos, onde viveu aventuras dignas de um romance de faroeste. Viajando sozinha (ou acompanhada apenas por guias locais), enfrentou condições adversas e conheceu personagens pitorescos, como “Rocky Mountain Jim”, um fora-da-lei com quem desenvolveu uma amizade peculiar. Desta jornada nasceu o célebre livro “A Lady’s Life in the Rocky Mountains”, publicado em 1879.

A Ásia foi outro destino marcante. Isabella percorreu o Japão, a China, a Malásia, a Índia e o Tibete. Em todas estas viagens, documentou as culturas locais, a posição das mulheres, os hábitos religiosos e os desafios das populações. Publicou livros como “Unbeaten Tracks in Japan” e “The Yangtze Valley and Beyond”, que foram amplamente lidos na época.

Reconhecimento e Legado

Isabella Bird foi a primeira mulher a ser admitida como membro da Royal Geographical Society de Londres, em 1892 – um feito notável, considerando o ambiente profundamente masculino da ciência e da exploração geográfica no século XIX.

O seu estilo de escrita combinava o rigor do relato documental com um olhar humano e empático, o que cativava tanto o público erudito como os leitores comuns.

Morreu em 1904, aos 72 anos, após uma última expedição à China e à Coreia. Deixou um legado de mais de uma dezena de livros, centenas de fotografias e um exemplo inspirador de coragem feminina.

Curiosidades sobre Isabella Bird

• Escrevia cartas para a irmã, Henrietta, durante as viagens. Muitas dessas cartas foram posteriormente editadas e transformadas em livros.

• Montava a cavalo “à homem”, com as pernas de cada lado da sela, o que era altamente impróprio para uma senhora vitoriana.

• Sofria de insónia e dores crónicas, mas dizia sentir-se melhor assim que começava uma nova viagem.

• Recusou vários pedidos de casamento, dizendo preferir manter a sua liberdade e autonomia.

• A sua popularidade era tão grande que chegou a ser recebida por autoridades locais e chefes tribais em várias partes do Mundo.

• Foi também missionária e ativista, interessando-se pelas condições sociais e espirituais dos povos que conhecia.

Isabella Bird usa traje numa viagem a China.© Wikipedia
Isabella Bird usa traje numa viagem a China.© Wikipedia