Nas entrevistas do Mulheres em Viagem temos conhecido mulheres de todos os quadrantes. Desta vez, trago-vos alguém que estamos (mais) habituados a ver no ecrã e nos palcos… Margarida Marinho é a autora de “A Magia das Boas Palavras”, um livro dirigido a um público juvenil porque, na escrita, confessa-nos que “nasci adulta e tornei-me criança”. Margarida Marinho fala-nos da importância que damos às palavras… às boas e às más.
Margarida Marinho nasceu em Lisboa, em 1963. Licenciada em Sociologia no ISCTE: aqui fez parte do Grupo de Teatro Universitário IBIS e fez formação teatral no IFICT (Instituto de Formação, Investigação e Criação Teatral ).
Conhecêmo-la como atriz (no teatro, cinema e televisão), mas na escrita também já tinha publicado contos e crónicas, em revistas e jornais. Em 2017, publicou o primeiro romance juvenil e, agora, em 2022, este segundo “A Magia das Boas Palavras”, publicado pela editora Bertrand.
Mulheres em Viagem – Quando descobriu a “queda” para a escrita? E qual foi o percurso (sei que passou pela DNA e Expresso)?
Margarida Marinho: Aos nove anos já escrevia de mim para mim. Por vezes, encontro pequenos papéis, caligrafia indomada. Talvez imitasse a minha mãe, que escrevia todos os dias, acumulando textos e textos dentro da mesinha de cabeceira.
Um encontro determinante foi aos 8/9 anos quando o meu pai me levou pela mão a casa do Adolfo Simões Muller porque eu teimava em conhecê-lo. E foi um encontro mágico. Mas terá sido com o DNA (suplemento do Diário de Notícias) que comecei a escrever ficção de uma forma regular (e a ganhar dinheiro com a escrita:)
O Pedro Rolo Duarte terá lido uma ou outra coisa minha noutros meios e resolveu dar-me uma oportunidade.
Mulheres em Viagem -Tinha um diário, ou escrevia enquanto criança, já com contos… ou outro estilo?
Margarida Marinho: Os primeiros textos tinham um caráter muito confessional, muito impressionista:) Os contos vieram mais tarde; ou seja, nasci adulta e tornei-me criança:)
Mulheres em Viagem – Este é o seu segundo livro. Para o público infantil, por alguma razão especial?
Margarida Marinho: Já pus essa questão a mim mesma em variadíssimas ocasiões. De cada vez, encontro respostas diferentes. Por ora, é uma forma de reatar o diálogo com a menina que já fui. Algures, no passado, uma bocadinho daquela criança não acompanhou o meu crescimento. Escrevendo para crianças, vou ao encontro dela.
Mulheres em Viagem – Qual o processo de criação, quando escreve? Vai reunindo ideias, ou escreve tudo de seguida e depois passa uns tempos em revisão?
Margarida Marinho: Há uma entrada desenhada, seguida de uma queda livre. Que é como quem diz: há muitos acontecimentos que surgem na viagem e que, misteriosamente, vão clareando as sombras que fazem o caminho.
E, sim, no processo de revisão, há muito, muito trabalho. Mas é uma fase muito saborosa e nervosa. Ganhamos distância para ir mais fundo.
Mulheres em Viagem -Gosta de escrever em cafés (sem ser muito spoiler: com base no cenário inicial do livro)? Quais os locais onde gosta mais de escrever?
Margarida Marinho: Escrevo em todo os lugares: em casa, nos cafés, em salas de espera, aeroportos, comboios…
Mulheres em Viagem – Quais foram os livros que a marcaram na infância/adolescência? Porquê?
Margarida Marinho: Em casa, a minha mãe apresentou-me Ali Babá, e outros tantos heróis d’As Mil e Uma Noites (Hanna Dyab); os contos de Hans Christian Andersen; os contos de Perrault (O Gato das Botas…); as Fábulas de La Fontaine; a escola presenteou-me com As Aventuras de João Sem Medo (João Gomes Ferreira). Literalmente, escancararam-me a janela para a Magia.
Mulheres em Viagem – E qual o livro de contos (de reis e princesas) que mais a marcou?
Margarida Marinho: A Princesa e a Ervilha do Hans Christian Andersen! Lembra-me um episódio da minha vida que não posso aqui revelar, mas que me provoca um sorriso rasgado!
Mulheres em Viagem – A moral faz parte destes contos… «Nunca dês troco a palavras menos boas!» diz. Que palavras “boas” gostaria de deixar a esta geração mais jovem, a quem dirige este livro?
Margarida Marinho: Que muitas das palavras menos boas que ouvimos em crianças em forma de flechas podem ser transformadas em pó, se imaginarmos que foram atiradas por um coração mais ferido do que o nosso. Se não dermos troco, então, elas perdem completamente o seu poder!
Mulheres em Viagem – Agora como escritora, podemos esperar lê-la mais do que vê-la nos palcos e ecrãs?
Margarida Marinho: Estou sempre a trabalhar, escrevendo e representando. Uma coisa alimenta a outra.
Mulheres em Viagem – Ouvi numa entrevista sua na TSF, que (também) teve momentos de “síndrome da impostora” e que a idade (e a experiência) lhe trouxe um maior à vontade (e confiança) para se lançar por outros caminhos profissionais. Quer deixar uma dica/conselho para quem ainda não teve essa “coragem” para se lançar por novos (e desafiantes) caminhos profissionais?
Margarida Marinho: Sei que o desafio nunca vem de fora, é sempre interior, e todos temos o nosso tempo para nos abeirarmos do precipício que imaginamos.
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