Projeto “52 Mulheres em 2025 – MEV, MulheresEmViagem.pt”. A história de uma mulher, por cada semana do ano. Durante o ano de 2025, o MulheresEmViagem.pt faz uma homenagem a Mulheres de todo o Mundo, de vários países, de várias áreas de formação, que se tornaram referências. Algumas já não estão entre nós, mas muitas outras ainda estão a transformar o nosso mundo, dia após dia, com o seu esforço e trabalho por um mundo mais igualitário! Por um mundo com mais referências femininas, sobretudo em áreas que nos estiveram vedadas durante séculos (milénios, por vezes…).
Dorothea Christiane Erxleben (1715–1762) entrou para a história como a primeira mulher a obter oficialmente o título de médica na Alemanha, num tempo em que as universidades eram praticamente inacessíveis às mulheres. Nascida em Quedlinburg, numa família culta e de mentalidade aberta, Dorothea cresceu rodeada de livros e de estímulos intelectuais que a motivaram a seguir uma carreira pouco convencional para a época.
A sua história é símbolo de resistência, coragem e determinação femininas, representando um marco não apenas para a medicina, mas também para a luta das mulheres pelo direito ao estudo e ao trabalho qualificado.
O Contexto da Época: Mulheres e Educação no Século XVIII
O século XVIII europeu era marcado por profundas limitações no acesso das mulheres à educação formal. A universidade era um espaço reservado quase exclusivamente aos homens, e as mulheres que mostravam interesse por áreas como a medicina ou a filosofia eram frequentemente desencorajadas ou mesmo ridicularizadas.
Na Alemanha, as mulheres podiam participar em alguns círculos intelectuais privados, mas a formação académica de nível superior era-lhes negada. A prática médica estava associada ao prestígio, à autoridade e ao poder, e, portanto, considerada incompatível com o “papel social” atribuído às mulheres.
Foi nesse ambiente restritivo que Dorothea Erxleben ousou desafiar a norma, questionando a exclusão das mulheres e exigindo o seu lugar no mundo académico.
A Influência da Família e a Educação em Casa
O pai de Dorothea, Christian Polycarp Erxleben, era médico e incentivou a filha a estudar desde muito cedo. Contrariando os padrões sociais, ele ofereceu a Dorothea e ao seu irmão uma educação rica, com acesso a disciplinas como latim, filosofia e ciências naturais.
Este apoio foi fundamental para que Dorothea pudesse desenvolver a sua paixão pela medicina. Ao lado do pai, ela começou a adquirir experiência prática, observando e assistindo nos cuidados aos doentes, algo impensável para a maioria das mulheres da sua época.
O Caminho Até à Universidade
Apesar da sua preparação e talento, Dorothea enfrentou inúmeros obstáculos para ingressar na universidade. As autoridades académicas recusavam a sua inscrição, alegando que as mulheres não deveriam ocupar espaços destinados aos homens.
Determinada, Dorothea não desistiu. Em 1741, publicou o ensaio “Gründe für und wider die weibliche Gelehrsamkeit” (“Razões a favor e contra a erudição feminina”), onde defendia o direito das mulheres ao estudo. Neste texto, argumentava que a educação feminina não apenas beneficiaria as próprias mulheres, mas também a sociedade como um todo, uma vez que tornaria as famílias mais instruídas e os lares mais fortes.
Esta obra é considerada um dos primeiros manifestos feministas alemães e um marco na defesa da igualdade de género.
A Conquista do Doutoramento
Após anos de insistência e com o apoio do rei Frederico, o Grande, Dorothea conseguiu autorização para se matricular na Universidade de Halle. Em 1754, tornou-se oficialmente doutora em Medicina, sendo reconhecida como a primeira mulher médica da Alemanha.
A sua tese, intitulada “De ortu et incremento corporis humani” (“Sobre a origem e o crescimento do corpo humano”), foi altamente elogiada. Com este feito, Dorothea rompeu barreiras e abriu caminho para que, gradualmente, outras mulheres pudessem sonhar com carreiras académicas e científicas.
A Prática Médica e o Respeito da Comunidade
Depois de formada, Dorothea exerceu medicina em Quedlinburg, conciliando a vida profissional com a vida familiar, já que era também mãe de família. A sua competência como médica rapidamente lhe trouxe reconhecimento, e a comunidade local passou a respeitar o seu trabalho.
Num contexto em que as mulheres eram vistas como incapazes de assumir papéis intelectuais ou de liderança, a carreira de Dorothea foi uma demonstração prática de que o talento e a dedicação não têm género.
Dorothea Erxleben e o Feminismo Pioneiro
Embora a palavra “feminismo” ainda não fosse usada na sua época, a trajetória de Dorothea Erxleben pode ser considerada um dos primeiros passos para a emancipação feminina na Alemanha.
A sua obra escrita e o seu exemplo de vida inspiraram gerações futuras de mulheres a lutar pelo acesso à educação e pela igualdade de direitos. O ensaio que publicou em 1741 permanece relevante até hoje, pois reflete uma crítica profunda à exclusão das mulheres do saber académico.
O Legado de Dorothea Erxleben
A história de Dorothea Erxleben continua a ser uma referência para todas as mulheres que enfrentam barreiras em profissões ainda dominadas por homens. O seu nome está associado:
- Ao direito das mulheres à educação.
- À luta contra os preconceitos de género.
- À importância da perseverança diante das dificuldades.
Hoje, várias instituições académicas e médicas na Alemanha lembram e homenageiam Dorothea, reconhecendo a sua coragem e a sua visão. Em Quedlinburg, a sua cidade natal, existe um monumento em sua memória, e o seu nome é celebrado como símbolo de progresso e igualdade.
Por que Dorothea Erxleben continua a ser importante?
Num mundo onde ainda existem desigualdades no acesso à educação e no reconhecimento das mulheres em áreas científicas, a vida de Dorothea Erxleben mantém-se atual.
A sua história inspira mulheres a:
- Acreditar no seu potencial, mesmo quando a sociedade impõe barreiras.
- Defender a igualdade de oportunidades em todas as áreas do conhecimento.
- Celebrar o legado feminino de pioneiras que abriram portas para gerações futuras.
Dorothea Erxleben foi muito mais do que a primeira médica da Alemanha. Foi uma mulher visionária, pioneira e resiliente, que enfrentou o preconceito do seu tempo e conquistou um lugar no mundo académico e científico.
A sua vida é um testemunho de que a educação é uma ferramenta poderosa de transformação e de que a igualdade de género deve ser defendida em todas as esferas. Para mulheres que hoje procuram inspiração, Dorothea representa a prova de que a determinação e o conhecimento podem mudar a história.