Dorothea Erxleben: A Primeira Médica da Alemanha e o Seu Legado Feminino

Dorothea Christiane Erxleben

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Dorothea Christiane Erxleben (1715–1762) entrou para a história como a primeira mulher a obter oficialmente o título de médica na Alemanha, num tempo em que as universidades eram praticamente inacessíveis às mulheres. Nascida em Quedlinburg, numa família culta e de mentalidade aberta, Dorothea cresceu rodeada de livros e de estímulos intelectuais que a motivaram a seguir uma carreira pouco convencional para a época.

A sua história é símbolo de resistência, coragem e determinação femininas, representando um marco não apenas para a medicina, mas também para a luta das mulheres pelo direito ao estudo e ao trabalho qualificado.

O Contexto da Época: Mulheres e Educação no Século XVIII

O século XVIII europeu era marcado por profundas limitações no acesso das mulheres à educação formal. A universidade era um espaço reservado quase exclusivamente aos homens, e as mulheres que mostravam interesse por áreas como a medicina ou a filosofia eram frequentemente desencorajadas ou mesmo ridicularizadas.

Na Alemanha, as mulheres podiam participar em alguns círculos intelectuais privados, mas a formação académica de nível superior era-lhes negada. A prática médica estava associada ao prestígio, à autoridade e ao poder, e, portanto, considerada incompatível com o “papel social” atribuído às mulheres.

Foi nesse ambiente restritivo que Dorothea Erxleben ousou desafiar a norma, questionando a exclusão das mulheres e exigindo o seu lugar no mundo académico.

A Influência da Família e a Educação em Casa

O pai de Dorothea, Christian Polycarp Erxleben, era médico e incentivou a filha a estudar desde muito cedo. Contrariando os padrões sociais, ele ofereceu a Dorothea e ao seu irmão uma educação rica, com acesso a disciplinas como latim, filosofia e ciências naturais.

Este apoio foi fundamental para que Dorothea pudesse desenvolver a sua paixão pela medicina. Ao lado do pai, ela começou a adquirir experiência prática, observando e assistindo nos cuidados aos doentes, algo impensável para a maioria das mulheres da sua época.

O Caminho Até à Universidade

Apesar da sua preparação e talento, Dorothea enfrentou inúmeros obstáculos para ingressar na universidade. As autoridades académicas recusavam a sua inscrição, alegando que as mulheres não deveriam ocupar espaços destinados aos homens.

Determinada, Dorothea não desistiu. Em 1741, publicou o ensaio “Gründe für und wider die weibliche Gelehrsamkeit” (“Razões a favor e contra a erudição feminina”), onde defendia o direito das mulheres ao estudo. Neste texto, argumentava que a educação feminina não apenas beneficiaria as próprias mulheres, mas também a sociedade como um todo, uma vez que tornaria as famílias mais instruídas e os lares mais fortes.

Esta obra é considerada um dos primeiros manifestos feministas alemães e um marco na defesa da igualdade de género.

A Conquista do Doutoramento

Após anos de insistência e com o apoio do rei Frederico, o Grande, Dorothea conseguiu autorização para se matricular na Universidade de Halle. Em 1754, tornou-se oficialmente doutora em Medicina, sendo reconhecida como a primeira mulher médica da Alemanha.

A sua tese, intitulada “De ortu et incremento corporis humani” (“Sobre a origem e o crescimento do corpo humano”), foi altamente elogiada. Com este feito, Dorothea rompeu barreiras e abriu caminho para que, gradualmente, outras mulheres pudessem sonhar com carreiras académicas e científicas.

A Prática Médica e o Respeito da Comunidade

Depois de formada, Dorothea exerceu medicina em Quedlinburg, conciliando a vida profissional com a vida familiar, já que era também mãe de família. A sua competência como médica rapidamente lhe trouxe reconhecimento, e a comunidade local passou a respeitar o seu trabalho.

Num contexto em que as mulheres eram vistas como incapazes de assumir papéis intelectuais ou de liderança, a carreira de Dorothea foi uma demonstração prática de que o talento e a dedicação não têm género.

Dorothea Erxleben e o Feminismo Pioneiro

Embora a palavra “feminismo” ainda não fosse usada na sua época, a trajetória de Dorothea Erxleben pode ser considerada um dos primeiros passos para a emancipação feminina na Alemanha.

A sua obra escrita e o seu exemplo de vida inspiraram gerações futuras de mulheres a lutar pelo acesso à educação e pela igualdade de direitos. O ensaio que publicou em 1741 permanece relevante até hoje, pois reflete uma crítica profunda à exclusão das mulheres do saber académico.

O Legado de Dorothea Erxleben

A história de Dorothea Erxleben continua a ser uma referência para todas as mulheres que enfrentam barreiras em profissões ainda dominadas por homens. O seu nome está associado:

  • Ao direito das mulheres à educação.
  • À luta contra os preconceitos de género.
  • À importância da perseverança diante das dificuldades.

Hoje, várias instituições académicas e médicas na Alemanha lembram e homenageiam Dorothea, reconhecendo a sua coragem e a sua visão. Em Quedlinburg, a sua cidade natal, existe um monumento em sua memória, e o seu nome é celebrado como símbolo de progresso e igualdade.

Por que Dorothea Erxleben continua a ser importante?

Num mundo onde ainda existem desigualdades no acesso à educação e no reconhecimento das mulheres em áreas científicas, a vida de Dorothea Erxleben mantém-se atual.

A sua história inspira mulheres a:

  • Acreditar no seu potencial, mesmo quando a sociedade impõe barreiras.
  • Defender a igualdade de oportunidades em todas as áreas do conhecimento.
  • Celebrar o legado feminino de pioneiras que abriram portas para gerações futuras.

Dorothea Erxleben foi muito mais do que a primeira médica da Alemanha. Foi uma mulher visionária, pioneira e resiliente, que enfrentou o preconceito do seu tempo e conquistou um lugar no mundo académico e científico.

A sua vida é um testemunho de que a educação é uma ferramenta poderosa de transformação e de que a igualdade de género deve ser defendida em todas as esferas. Para mulheres que hoje procuram inspiração, Dorothea representa a prova de que a determinação e o conhecimento podem mudar a história.