Saúde e Nutrição, por Catarina Valente

Catarina Valente - Tu Alma VedaDR
Nas “Conversas do Confinamento”* fui falar de saúde e nutrição com a Catarina Valente**. Jornalista de formação, um problema de saúde fê-la encontrar uma outra paixão: a nutrição. Depois de muito estudar sobre o assunto – e se conseguir tratar do problema de saúde que tinha – decidiu passar os seus conhecimentos a outros. Actualmente tem uma escola onde dá aulas (presencial e online), sendo chef de cozinha saudável e coach nutricional especializada em Medicina Ayurveda.
Abacate © Pixabay
Abacate © Pixabay

*O que são as “Conversas do Confinamento”? Perante um novo confinamento geral, em Portugal, iniciado a 15 de janeiro de 2021, decidi começar uma série de entrevistas, de forma a dar a conhecer o trabalho de muitas mulheres, em várias áreas, mas sobretudo no trabalho em prol do outro, na saúde, sexualidade, no desenvolvimento pessoal, no auto-conhecimento e nas viagens, claro!
Entrevistas que trouxessem conhecimento e inspiração durante todo o confinamento.

Essas entrevistas foram o primeiro passo para criar o site Mulheres em Viagem, que é um site irmão do Viaje Comigo.
Mulheres em Viagem… porque a vida é uma viagem!

E quem sou eu? Sou a Susana Ribeiro, jornalista, comunicadora, viajante e fundadora do site de viagens Viaje Comigo e do Mulheres em Viagem. E a entrevistadora das “Conversas do Confinamento”.

Sejam bem-vind@s ao www.mulheresemviagem.pt – uma Comunidade de e para Mulheres Extraordinárias… como Tu!

TODA A ENTREVISTA ESTÁ TRANSCRITA MAIS ABAIXO

**Quem é Catarina Valente? “Sou jornalista, chef de cozinha saudável e coach nutricional especializada em Medicina Ayurveda, a ciência milenar que me permitiu, junto com o Raw Vegan Food, alcançar a minha melhor versão e curar uma patologia no cólon.

Como jornalista e especialista em ‘narrativas digitais’, estive nos melhores meios de comunicação espanhóis: desde o generalista El Mundo passando pela revista lifestyle Yo Donna até ao diário económico Expansión. Numa determinada altura da minha vida, quando me detectaram uma patologia no cólon, passei de juntar letras a combinar alimentos.

De analisar gráficos a somar nutrientes. De contar sucessos políticos a ensinar a arte de se alimentar. Mudei a redação de um meio de comunicação pela consultoria personalizada e aulas de cozinha saudável! Esta é a nova realidade! SIM, tal como ouves: Health Coach! Sigo ligada ao jornalismo mas a maior parte do meu tempo está dedicado ao mundo da nutrição 100% vegetal.

Dei um giro de 180º à minha profissão e saúde! Graças ao meu percurso jornalístico e à vontade intrínseca de investigar e provar a verdade, descobri a solução ao meu problema no intestino. Foi aí quando achei a minha verdadeira missão na vida: ajudar outras pessoas a recuperar a sua saúde através da alimentação vegetal para se conectarem consigo mesmas.

E assim alcançarem os seus objetivos: energia, vitalidade, equilíbrio, bom humor e bem-estar físico, mental e emocional. Devido a um sério desequilíbrio no cólon converti-me numa especialista em Medicina Ayurveda, a ciência que nos ensina «Quem e Como somos» para compreender porque atuamos e nos comportamos de uma determinada maneira. – SiteInstagram

Legumes e cogumelos © Pixabay
Legumes e cogumelos © Pixabay

ENTREVISTA A CATARINA VALENTE – TU ALMA VEDA

Susana Ribeiro – Muito bom dia a todos. Sejam bem-vindos a mais uma Conversa do Confinamento. Em que eu convido mulheres extraordinárias, para falar sobre vários temas da nossa vida. E, hoje, tenho aqui a Catarina Valente que me foi sugerida por uma amiga, para nos falar de nutrição. O que é mais engraçado é que a Cataria é jornalista, como eu, de profissão, e por isso também fomos por aí, depois de trabalhar em muitos sítios, fomos descobrindo para o que estávamos mais vocacionadas. Eu gostaria que começasses, precisamente, para nos falares um bocadinho desse teu trajeto.

Catarina Valente – Boa! Como é que eu aterrizei na alimentação saudável!…

SR – Em primeiro lugar, deixa-me só dizer uma coisa. A Catarina é espanhola, só que ela fala já de uma forma tão, tão portuguesa, que só às vezes é que a gente percebe que ela é espanhola.

CV – Eu sou de Ourense, da Galicia. Tenho dupla nacionalidade. Costumo dizer que sou portunhola, metade portuguesa e metade espanhola. Mas tenho mais de Espanha do que Portugal, então de vez em quando sai-me assim algumas portunholadas, como eu costumo dizer. Mas, em contexto a gente entende.

SR – Tudo. Entende tudo. Então, conta-nos o teu percurso.

PERCURSO

CV – Muitas pessoas se perguntam, como é do jornalismo cais de paraquedas na alimentação saudável.  E nomeadamente na alimentação de base vegetal. Eu desde pequenininha, tinha sempre uma paixão por comunicar e por contar histórias. Sempre digo que por detrás de qualquer sucesso, há sempre uma história para contar. E se a sabes comunicar, consegues  conquistar corações, almas e pessoas, através dessas histórias. Então, sempre tive uma vontade intrínseca, algo natural, de comunicar. Só que, claro, tu sabes que dentro da comunicação tu podes comunicar muita coisa. Podes comunicar politica, sociedade, desporto… Então, a minha verdadeira paixão sempre foi tudo o que tinha a ver com saúde, bem estar, medicina, etc. Ou seja, tudo o que envolvesse o estilo de vida natural e consciente. Mas, é óbvio que quando submerges e mergulhas no mundo do jornalismo evidentemente é esta área, digamos, de conhecimento, não é uma área que vende. Como se eu te disser, curar não vende. Óbvio. A gente quer ter doentes crónicos para ter um negócio duradouro, a longo prazo. Eu vivia Ourense, fiz a faculdade em Valladolid, também uma cidade religiosa, muito conservadora, muito cócó. Eu diria que é uma cidade muito coqueta, muito cocozinha, no sentido de que é um público… é uma cidade onde predominam pessoas de uma idade mais adulta e universitários. Não há termo médio. Uma cidade muito gira, muito cultural. Onde se fala um castelhano muito correto. Quando terminei a faculdade – ainda estive seis anos em Valladolid – fui para Madrid. Fiz uma pós-graduação.

Trabalhei como atriz de dobragens, ou seja, dobrei documentários, desenhos animados, como por exemplo, não sei e sabem, mas em Espanha, eles são nefastos para falarem inglês. A gente diz que falamos spanenglish. Tudo está traduzido: filmes, desenhos animados, documentários… literalmente tudo. Então, o ser ator, ou atriz de dobragem, digamos, trabalhar como dobrador é um ofício que está bastante presente. É muito giro porque, no fundo, apesar de estares com um microfone, e por detrás na câmara, tens que interpretar na mesma, tens de gesticular… viver como se fosses o verdadeiro autor. Então, também foi muito giro porque trabalhei com publicidades e etc. Mas, tudo isto em paralelo à formação e à pós-graduação de jornalismo. Entretanto, decidi fazer a pós-graduação num grupo editorial, Unidade Editorial, que engloba mais de 10 meios de comunicação, entre eles está um dos jornais mais importantes espanhóis, que é o El Mundo. Comecei a trabalhar com Politica, não me identificava para nada, e depois passei para Economia. E quando comecei a trabalhar com economia, comecei primeiro com macro economia, depois com micro economia, ou seja, passei literalmente nos últimos anos a trabalhar com startups. E aí encontrei uma outra paixão, porque no fundo já era um jornalismo onde eu estava em contacto, como tu agora entrevistas mulheres inspiradoras. Naquele momento, era empreendedores e detrás de uma alma que  tem um sonho, que quer criar uma realidade, existem histórias de superação deliciosas e projetos incríveis. Sentia-me muito identificada. Mas, cada vez que eu estava no jornal, cada vez que sentava o cu na cadeira para escrever, dizia… este tempo que estou a investir para os outros, para este casa, este sonho que eu estou a cumprir neste meio de comunicação, podia estar a fazê-lo para mim.

Poderia criar eu a minha própria plataforma, o meu próprio blog, todo o meu recurso para comunicar, mas aquilo que eu gosto. Então, paralelamente, enquanto nos últimos cinco anos de formação de jornalismo, todos os fins de semana e sempre que tinha semanas livres aproveitava para fazer formação, em paralelo, de alimentação de base vegetal, de medicina ayurveda, etc. Madrid é quase uma metrópole  mundial onde tudo vai cair. E para iniciar um projeto numa cidade como esta, é bastante complexo, porque há muita competitividade e é completamente diferente, ou ter muito capital para investir e criar um projeto novo. Mas, a razão de ser pela qual realmente dei o salto p ara a alimentação saudável, não foi apenas uma questão de gosto. Eu quando, estava no terceiro ano de faculdade, apareceu-me o cólon irritável. Que é um sintoma que muitas pessoas têm; pessoas que desenvolvem uma doença (e outras impercetível). Estas patologias, umas são mais ou menos graves, mais ou menos inflamatórias, mas todas relacionadas com o sistema digestivo. Se tu fores a um médico convencional, a primeira coisa que te vão dizer, é stress ou não te preocupes que isso é normal, não cura. Podes tirar um ou outro alimento mas não é por aí. Eu lembro-me que, na altura, acho que é pela fome e sede jornalística, comecei a investigar, porque cada vez sentia-me pior. A sensação que eu tinha, quando comia, ficava com a barriga inchada e inflamada. E ficava com uma dor no estômago como se tivesse uma faca espetada. Eu dizia, fogo, não é normal. Então, o típico, quando tens algum sintoma, vais ao médico para que te revelem ou para que te ajudem e te digam o que tens. Em termos de análises não tinha nada, tinha uma alimentação tradicional espanhola, portuguesa, normal, comia carne, comia peixe, uma alimentação mediterrânica. Quando corri ao primeiro especialista de medicina alopática, disse-me, não te preocupes, vais tomar um medicamento para antes do almoço, outro para depois, outro a meio da tarde, ou seja, resultado: andava com uma marmita que nem a minha avó, nem uma bisavó andavam com uma marmita de medicamentos assim.

Aquilo não batia certo e em vez de melhorar, piorava.  E isto é uma realidade que acontece a muitas pessoas: estás mal tomas uma coisa pior e continuas porque confias na autoridade médica. Eu disse: não pode ser assim, tem que haver aqui qualquer coisa que não está a funcionar bem. Como a maioria das pessoas: este médico não sabe nada, vamos a outro. Comecei a saltar de especialistas em especialistas. Até que disse: vou começar a estudar, primeiro de uma forma autodidata… como já era uma apaixonada pela cozinha, pela alimentação saudável, aquilo tornou-se primeiro numa investigação, ou seja, autodidata a formar-me para mim, para ver o que estava a acontecer e, depois, tornou-se mesmo numa investigação. Quando dei conta, já estava no jornal a fazer entrevistas, e só entrevistava projetos de alimentação, médicos, especialistas… tudo o que tinha a ver com nutrição e medicina. Para voltar à história pessoal, como é que eu solucionei, como dou o salto? Quando começo a investigar e não era o típico livro de receitas, era mesmo investigação que chegava ao ponto que dizia já posso escrever uma tese. Chego à conclusão que, aquilo que muitas vezes, o conceito que nós temos de uma determinado tema, muitas vezes é uma visão fragmentada. É uma crença limitante. Bem, porque fomos educados naquilo, lemos um livro, ou vimos num filme e ficamos só com aquela visão, não ficamos com uma visão mais aberta. Então, eu disse, vou começar a mudar a alimentação. A alimentação tem de ter um impacto – como fazemos todos os dias e várias vezes ao dia. Há um coisa muito simples que acontece no nosso organismo. É tão fácil, mas nós complicamos. O nosso corpo funciona como uma pilha alcalina. Ou está carregada, portanto está alcalino, ou está descarregada e não tem bateria Se não tem bateria estamos com uma inflamação, ou alergia ou com cancro. Ou seja, o nosso corpo só tem dois estágios. É como a pilha. Ou tem bateria ou não. Ou tem ordem ou tem desordem. Ou está alcalino ou está ácido.

Quando começo a estudar mais sobre a alcalinidade e acidez do corpo. Tanto é assim que o Prémio Nobel de 1931, dizia que, hoje em dia é incoerente continuar a viver com medo   ante uma doença como o cancro porque realmente já sabemos que o cancro é uma inflamação crónica. Ou seja, existe muita acidez no nosso corpo, falta de oxigénio e os micro-organismos e as células não conseguem fazer frente a tanta acidez. E a questão é: como é que eu sei se o meu corpo está ácido ou alcalino? A primeira pergunta que tu podes fazer – eu sempre digo isto às minhas alunas é – pergunta-te se tudo aquilo que tu comeres podes reconhecer na natureza. Se podes plantar e a natureza te dá isso em troca. Se plantares um bife, a natureza não te vai dar um bife em troca, certo? Esse alimento tem um pH baixo, ou seja, é ácido. De um ponto de vista mais científico, o pH na pilha nós vemos uma escala de menos e mais, para ver a alcalinidade e a quantidade bateria que tem a pilha; no nosso corpo essa escala vai de zero a 14. De zero a 7, o nosso corpo está ácido, e de 7 a 14 está alcalino. Toda a doença, inflamação, alergia, desequilibro no nosso corpo, quando o corpo está ácido Quando está alcalino, é quando o que predomina na minha alimentação frutas, vegetais, sementes, leguminosas, alimentos que por si têm mais fibra, têm mais vitaminas e minerais.

O meu corpo está mais alcalino que ácido, não significa que temos de ser 100 por cento vegetarianos, nem 100 por cento veganos, nem 100 por centro de nada, mas tem de haver um equilíbrio e em que predomine o mais vegetal e talvez menos animal. Não por uma questão de ética, ou meio ambiental, ou porque agora está na moda uma coisa ou outra. Já nem é por aí. È mesmo por uma questão de saúde. É pensares que tu és uma pilha e se quiseres estar super carregada, energeticamente, e equilibrada, tens que também fazer com que a tua alimentação ajude nisso. Podíamos estudar guias completos para saber que alimentos são ácidos ou alcalinos, mas se fizéssemos esse estudo vamos chegar à conclusão que tudo o que é alcalino são alimentos que podes reconhecer na natureza. Podes plantar e a natureza dá-te isso em troca. Isso é maravilhoso. Quando cheguei a essa conclusão digo, oh my god. O pessoal está morto. Andamos a viver no piloto automático. Se pararmos para pensar, a alimentação que pratica o comum dos mortais, que no fundo, no fundo, muitas vezes a praticamos porque já foram hábitos enraizados da nossa infância.

Nós nascemos e já não nos deixam ir para a escola sem tomar o pequeno-almoço e a criança não tem fome e a mãe obriga quase. “Não sais da mesa enquanto não comeres”.” Não vais para a escola enquanto não…#. Aí já começamos a atrofiar o nosso sistema. Não há pior coisa que comer sem fome. Os cães, igual às crianças, são as pessoas são as pessoas mais sensitivas; ainda não têm capacidade, são seres racionais, as crianças, mas ainda não tem a capacidade para filtrar informação, porque ainda não têm essa visão fragmentada que temos em adultos. Como são tão instintivos a melhor coisa para aprender de alimentação, é usar os animais, observar o comportamento deles, igual às crianças. Repara que uma criança quando nasce, a primeira coisa quando experimenta fruta faz assim: mmmm e quer mais. Quando come um pedaço de carne faz uma bola, tipo chicla, e cospe e a mãe pega na bola e mete na boca do bebé. Estes são só dois exemplos.

Neste processo de investigação e de auto-estudo, cada vez que descobria uma coisa nova, era uma paixão nova. E eu disse: wow. Era sempre um wow! No meio de comunicação onde eu estava, sempre que tinha a oportunidade de escrever reportagens sobre aquilo que eu queria, sempre fugia para estes temas. Até que chegou um ponto que eu disse, agora é a minha vez de empreender. O que me aconteceu a mim, da mesma forma que reverti essa patologia através da alimentação de base vegetal, quantas pessoas há no mundo, com outras patologias, seja ela qual seja, sempre digo que as doenças têm nome e apelido: esclerose múltipla, diabetes tipo 1, diabetes tipo 2,… Mas a bse é sempre uma inflamação, e essa quando já é uma doença dita mais grave é uma inflamação crónica, que está ali provocada de longa data. Quando é uma alergia ou um pequeno desequilíbrio, como por exemplo uma mulher que não menstrua. Não menstrua há 3/4 anos… é um pequeno desequilíbrio. Eu tive ovários policísticos desde pequenina e uma das coisas que reequilibrei, com a alimentação de base vegetal, e com alguns protocolos depurativos. Chegas à conclusão que é como a pilha: ou há acidez ou é alcalina.

SR – É importante dizer… que idade tens Catarina?

CV – Não se pode dizer essas coisas, ehehe! Tenho 30.

Conversas do Confinamento: Catarina Valente
Conversas do Confinamento: Catarina Valente

MUDANÇA NA ALIMENTAÇÃO

SR – Foi mais ou menos com que idade que começaste a investigar mais e a mudar a tua alimentação

CV – Foi aos 19. Aos 22 já estava a trabalhar no El Mundo. Na faculdade já trabalha em vários meios de comunicação, em televisão, em rádio, ou seja, quando acabei a faculdade já estava praticamente dentro de um meio de comunicação. Neste caso, o El Mundo é um jornal nacional e além deste jornal, colaborava com revistas, como revista de estilo de vida (lifestyle); também escrevia para a História (gosto muito e história)… a partir do momento em que venho de férias a Portugal num verão, decido a não voltar. Deu-me assim um clique. Já no último ano andava com muito desejo de querer dar o salto para empreender um projeto próprio. Na situação que estava, tinha muita liberdade dentro do jornal mas… se tens um projeto se te dedicas a 100 por centro, ele vai funcionar 100 por cento, se te dedicas a 20, só vai funcionar 20 por cento. Tinha uma vontade muito grande de empreender e como trabalhava com empreendedores, eu dizia o que eles fazem eu quero fazer aquilo eu quero chegar a ser aquela pessoa.

Muitas vezes, eu era a pessoa que estava à frente da Google Startups – só tem representação em três capitais europeias – e sempre que estava lá dizia, estes empreendedores têm coisas magnificas e nós também podemos fazer isso. Quando chega o verão, tinha um mês e meio de ferias e vim para Portugal. E disse, não volto. Vou pedir uma licença sem vencimento durante 3 meses. Curiosamente, quando chego cá ao Porto, um dos meus produtores – em paralelo, enquanto estudava jornalismo, tinha começado formações com medicina ayurveda, nutrição, etc- Um dos melhores pasteleiros – de alta pastelaria vegana –  que se chama Toni Rodrigues e é de Barcelona, vinha a Portugal inaugurar uma cadeia de restaurantes vegetarianos que se chama DaTerra.

Ele está aqui vou aproveitar para ir cumprimentar, já que foi meu professor e, neste caso, online; havia confiança mas nunca tínhamos estado juntos presencialmente. E nesse dia fiquei a conhecer as pessoas que estavam por detrás deste restaurante, que hoje em dia em Portugal têm como que 15 ou 19… são muitos. E, na altura, o meu objetivo ir conhecê-lo e saber quem está por detrás dos restaurantes. Quando cheguei a Portugal não tinha rede de contactos nenhuma. Eu estudei cá a secundária, mas as pessoas nem sequer me conheciam. Foi começar num país novo. Foi começar tudo do zero. Em termos profissionais ainda foi mais difícil. Porque ainda falava mais espanhol e não tinha contactos de nada. Não conhecia ninguém. Quando pensas como jornalista… quanto te põem um desafio e tens de entrevistar o presidente da República, ou algum deputado, a quem tu quiseres tu acabas por conseguir. Eu pensei, a minha carta de apresentação terá de ser o meu trabalho, porque ninguém me conhece. Ainda não tinha a escola online a funcionar. A minha carta de apresentação, em vez de um email ou mensagem, tinha de ser presencial. Fiz uma lista de todos os passos e valores que se aproximavam aquilo que eu acredito: uma lista de restaurantes, mercearias, um monte de espaços que estivessem relacionados com alimentação, saúde e bem-estar. Desde ginásios, espaços de ioga, etc.

Em Madrid, apesar de trabalhar como jornalista, estava por dentro de muitos projetos, de grandes eventos, feiras… eu disse, eu sei como fazer as coisas, então agora vou-me apresentar. Entrei em contacto com as pessoas para a reunião presencial, em que levava uma box, com coisas como uns brownies veganos… ou seja, levava coisas de pastelaria, queijinhos, tudo de base vegetal, saudável, vegano, numa caixinha super personalizada. Eu apresentava-me na reunião com essa caixinha e fazia questão que a pessoa experimentasse à minha frente. O objetivo era sair de cada uma das reuniões com um curso, ou uma série de workshops marcados no espaço desse negócio. Foi curioso, porque as pessoas não me conheciam – e nem utilizava redes sociais – e não havia referência minha cá em Portugal; mas as pessoas começaram a conhecer. E saía da reunião com 7, 8 workshops marcados e ainda nem tinham visto o meu trabalho, era sobre a confiança. Era muito giro. Durante um ano e meio eu propus-me um tour por Portugal. Todas as cidades que eu pudesse fazer um workshops, eu viajava. Pegava no carro, marcava um workshop, onde quer que fosse deixando uma “semente” em cada idade. Ao cabo de um ano e meio, paralelamente eu fui criando conteúdo para criar uma escola 100% online (mesmo sem saber que a Covid ia acontecer)…

SR – Todos ligados, juntos, mas online!

CV –  Quando eu vim de Espanha e decidi deixar a 100% o jornal, um dos objetivos era uma escola online, onde as pessoas tenham a possibilidade de aprender seja cursos de alimentação ou nutrição. Cursos de mãos na massa ou mais teóricos. Eu quero que as pessoas tenham a possibilidade de estudar ao seu ritmo e que cada curso que compram seja vitalício. E alem de ser vitalício, uma vez comprado esse está sempre a crescer. Hoje, se calhar, tem quatro módulos com 50 vídeos, se calhar daqui a um ano tem 100 vídeos. E não vai pagar mais por isso. Há sempre atualizações permanentes. Gostava muito dessa ideia. E por outro um blogue, com um lado que viesse enriquecer, não fazer um blogue… de “viajei a Bali, fica aqui os meus 10 restaurantes favoritos”. Mas sim fazer jornalismo através da tua paixão. O que tu estás a fazer hoje. Vamos fazer uma entrevista, vamos fazer projetos. Utilizar essa ferramenta de comunicação que é potentíssima, numa forma mais série e não tanto como influencer. Realmente fazer crónicas, reportagens, tudo isso.  Desde que surgiu a Covid-19, foquei-me muito em tudo que é formação online. Entretanto, nos últimos dois anos, já dei muitos workshops em diferentes cidades, em parceria e colaborações com diferentes projetos. Tanto de ioga como

SR – Desculpa interromper-te… tu estás na tua escola? Tens ai atrás… estás na tua cozinha, é onde fazer os teus vídeos e já tiveste aí aulas presenciais? Quando arranjaste esse espaço para teres aí também aulas?

Vegetais: espargos e abacate © Pixabay
Vegetais: espargos e abacate © Pixabay

ESCOLA ONLINE

CV – Quando aparece a Covid-19, como parei… vai ser o momento de me focar, me sentar e criar todo o conteúdo online. O mais prático era ter um espaço, como se fosse uma incubadora; criar a receita, na mesma sala, um sitio de produção e vídeo e no outro lado onde tenho escritório. Para que tudo aquilo que precisas, na criação de conteúdo, que muitas vezes as pessoas não têm noção do tempo que leva a fazer um post ou um pequeno vídeo, por muito curtinho que seja. Então, queria essa versatilidade, então aluguei uma super-loja, uma escola super escola, para fazer aulas presenciais. Como dou muitas formações pediam-lhe para vir ao presencial… quando desconfinar vai funcionar com cursos anuais, workshops, etc Atualmente faço os workshops, com temas individuais faço poucos, online, mas o que tenho são programas e cursos, que são extensos, prolongados, que podes fazer ao teu ritmo. Tenho curso de um ano, de meio ano… E em 2021 lancei a escola, durante este último ano vim sempre a trabalhar na criação de conteúdo e, agora, a escola está pronta. Todos os cursos são em indeferido, estão gravados, da forma que uma vez que tu compres tens acesso ilimitados e podes ver quantas vezes quiseres, em família. Pode levar de viagem, e veres de onde quiseres, como tu quiseres.

CLUBE E CURSOS

SR – Posso comprar hoje, mas agora estou muito ocupada e começar daqui por uma semana ou quando quiser, não é?

CV – Exatamente. Outra novidade que vou lançar agora. Vou criar um clube. Como eu tenho muitas alunas do curso… então como vais a uma aula de Pilates ou Ioga, também vou criar uma aula de cozinha e nutrição. Imagina, todas as quartas-feiras tenho aula com a Catarina. Aulas práticas; se não podes cozinhar nesse dia – a pessoa recebe a lista das compras – meto pressão: então já organizaram tudo?; já foram às compras?; que é para no dia do evento, todo o mundo já preparado com as mãos na massa. É giro porque as pessoas não dão crédito aquilo que estão a fazer. Há muitos grupos e elas apoiam-se umas às outras. Outra coisa engraçada que surgiu de forma paralela: o networking que eu construi nos últimos 3 anos, aqui em Portugal, foi brutal. Há um evento que se chama, o Festival VeggieFest, festival de sustentabilidade e de alimentação saudável. Foi no mesmo verão que cheguei a Portugal e liguei para a organização e perguntei, o que é que eu preciso para fazer uma palestra. Eu queria pagar para dar uma palestra. Mas, disseram-me aqui em Portugal nós pagamos às pessoas para palestrarem. Ai é? Oxalá em Espanha houvesse isso, mas é ao contrário. Nesse dia marcamos uma reunião e foi muito giro porque disseram, tu não vais palestrar tu vens é para a organização. Porque lhes dei muitas ideias, enquanto formas de empreender, de rentabilizar muitos projetos que tinhas, o networking, trazer pessoas de fora para este tipo de eventos, etc. Curiosamente, o ano passado também estive a fazer uma loucura no jornal onde estava tinham um projeto com a Google, em que vivia 15 dias no Porto e 15 dias em Madrid….

SR – Isso deve cansar imenso, não é? Digo eu, por experiência própria, que andar de um lado para o outro cansa. É muito bom, mas cansa.

CV – É uma adrenalina boa e naquele momento e quando estás com o chuto de adrenalina é bom, mas quando paras o cansaço vem todo para cima. Chegas à conclusão que quando trilhas muitos quilómetros, chega o momento quando paras e dizes não… tenho de parar, observar e ver realmente o que é que eu quero. Queres cumprir o teu sonho para ajudar outras pessoas; não é ajudar todo o mundo a cumprir os sonhos deles. Agora estou focada só na minha escola, tenho colaboração também com uma escola em Lisboa – que existe no Rio de Janeiro há muitos anos. Dou aulas lá, sou professora de fermentação em queijos saudáveis. etc

Fermentado © Pixabay
Fermentado © Pixabay

FERMENTADOS 100% NATURAIS

SR – Isso é muito interessante: de fermentação em queijos saudáveis?

CV – Sim, dou aulas de fermentados 100 por cento naturais e queijos veganos. Porquê? Tem a ver com a minha história. Hoje em dia, são poucas as pessoas que não sofrem de dilatação abdominal, em gases, obstipação ou diarreia. Tudo tem a ver com o sistema digestivo. E falta de bactérias boas no nosso intestino. Nós não temos de matar os micro-organismos do intestino, o que temos de fazer é alimentá-los. Mesmo tendo uma alimentação muito saudável,  muitas pessoas sentem-se mal na mesma. Já retirei e já nem sei o que comer, cada vez como menos coisas e continuo igual ou pior ao que estava. E tem a ver com, eu como mas o meu intestino não está a absorver e isso pode estar a acontecer porque não existem bactérias boas suficientes ou porque o ácido gástrico do nosso organismo é muito baixinho. Os fermentados 100 por cento naturais são uma ótima ferramenta, sempre que forem caseiros, os que compramos – mesmo em lojas naturais – estão pasteurizados e refinados. O que são os fermentados 100% naturais? Em todas as culturas e civilizações, a fermentação sempre esteve presente. Primeiro, como método de conservação. Quando havia épocas de fome, ou não havia excedentes de comida, as pessoas faziam pickles, enchidos ou salmoura (água e sal) e conservavam os vegetais dentro. A salmoura é um conservante natural que podes ter durante anos na tua cozinha. Existem vários tipos de fermentados. Em Portugal e Espanha, podemos destacar as azeitonas, os pickles, as alcachofras, ou a cebolinhas. Mas qual a diferença entre consumir este tipo de fermentados feito em casa, controlado por ti… e os comprados, é que são refinados e pasteurizados, por isso, têm bactérias boas. Pelo contrário, os comprados vão ser alimentos inflamatórios.

SR – E conservantes para eles durarem… suponho, dentro da embalagem têm de ter conservantes para ficarem ali durante meses, às vezes o prazo é de um ano…

CV – Os fermentados 100% naturais, mesmo que comprasses não tem conservantes, no sentido literal. Porque são feitos na salmoura, ou seja, o sal é um dos melhores conservantes que existe, a água e o sal vão fazer com o vegetal não se deteriore. Quando tu conheces o processo de fazer em casa vês que o processo é completamente diferente. Noutros países, por exemplo, na Coreia, na Alemanha há outros tipo fermentados, que têm designações estranhas; kimchi, na Coreia; o chucrute, típico da Alemanha; depois poderemos falar do miso, que muitas pessoas já estão familiarizadas, com a sopa de miso; então também é um fermentado a partir de um cereal, normalmente a partir do arroz ou da cevada. Existe o kombucha, o tepache, que é usado no México, uma bebida fermentada a partir do ananás. É quase como beber um sumo de ananás, com borbulhas, como se fosse champanhe com sabor a ananás.

Existe muito tipos de fermentados em diferentes culturas. Quais devemos consumir. Todos! Porque cada um deles tem bactérias completamente diferentes. É como na alimentação, posso alimentar-me só com cenouras e salaas; não, temos de nos alimentarmos com tudi porque cada alimento tem vitaminas e minerais diferentes. O que acontece com a fermentação. Quando tu fermentas um alimento… por exemplo, se tiver uma cenoura cozida e uma cenoura crua. A que tem mais vida é a crua. Porque não levou nenhum processo de cozimento. Vai-te dar mais energia, mais água, mais vitaminas, mais minerais e mais enzimas. As enzimas estão presentes em todos os alimentos quando estão no seu estado cru, nomeadamente frutas e vegetais. E essas enzimas são uma substância que nós precisamos para digerir e absorver os nutrientes.

Por outro lado, a cenoura crua, cozida e fermentada… de todas elas, a melhor é a fermentada, porque tem as propriedades de estar crua, mas ao estar fermentada o seu valor nutricional triplica. E neste processo de fermentação o que acontece? As bactérias que estão no meio ambiente são as que ajudam a esse processo de fermentação. Então, vamos ver que essa cenoura, ela vai fermentar. E uma cenoura sabemos que é um hidrato de carbono… as pessoas têm pavor! O que acontece quando fermentámos é que esse hidrato de carbono transforma-se em ácido láctico. Quando as pessoas dizem, ah é importante consumir iogurtes por causa do tema dos bífidos ou dos lactobacillus, ou seja, todas essas bactérias que habitam no nosso intestino deveríamos nutri-las com alimentos que estão no exterior. Temos a opção de tomar cápsulas de probióticos, mas claro não viver e alimentarmo-nos com probióticos. É super importante ter o nosso intestino… eu sempre digo que o nosso intestino não pensa, mas influi nos pensamentos. Se uma pessoa sem ir à casa de banho 2 dias está irritada com o mundo, com as pessoas que a rodeia e paga as favas de qualquer forma…

Chucrute © Pixabay
Chucrute © Pixabay

SR –  Às vezes, isso acontece nas viagens que eu faço com grupos. Eu começo a ver se a pessoa… porque a comida na Índia, em Marrocos… isso transforma o nosso sistema todo, não é? E começa-se a perceber isso e, às vezes, o tour líder tem de ficar mais atento para ver quem está ou mal ou… e há pessoas que nem conseguem ir à casa de banho fora de casa. Outros quando viajam é só no hotel… mas é isso, há várias condicionantes e mexe com o nosso sistema e nervoso também.

CV – E com a personalidade. Imagina colocas o tema da viagem que já mexe contigo, imagina isso converte numa situação crónica. Há pessoas que são dependentes de laxantes. Ou já consideram normal… se não evacuam durante 2 ou 3 dias, já estou habituada há cinco anos ou há 6. Não! Tanto a obstipação como a diarreia são dois desequilíbrios que não é bom, nem uma coisa nem a outra. E não devemos aceitar isso como normal. Só que na sociedade, cada vez mais, porque a pessoa comentou com a vizinha… não te preocupes que também me acontece. Ah, então está bem! E torna-se num ciclo que as pessoas aceitam como algo normal.

Como na tiroide, ou tenho policísticos, se várias pessoas em teu redor e todas elas se medicarem da mesma forma, vais aceitar isso como normal. No fundo tudo tem uma raiz e quando formos à raiz melhor! O tema dos fermentados naturais é super importante. Existe uma correlação direta, quando não estás bem da pança – do intestino – tu não estás bem na mente e há um desequilíbrio que afeta. E ao contrário também. O nosso intestino tem 9 metros; o do cão tem 2! Nós quando comemos, a comida tem de fazer um percurso de quase 9 metros. Imagina tudo o que pode acontecer entra a comida entra até que sai, demora imenso tempo. A comida pode apodrecer, pode fermentar. Então, é super importante que a saúde intestinal seja boa. Este é quase o maior órgão que temos; é como uma esponja que temos; tudo o que colocas é absorvido (incluindo porcaria); quando a espremes (a esponja) sai tudo.

SR – Então, todos os teus workshops e conceitos trazem isso, é a tua experiência nos problemas que também tiveste como mudaste a tua alimentação e, mais uma vez, eu gostei da forma como frisaste, não temos todos de ser vegetarianos, mas temos de arranjar um meio termo. Porque o que acontece – e continua a acontecer infelizmente – comemos muita carne, por exemplo, e comemos poucos vegetais. Tenho imensas pessoas à minha volta que não comem fruta no dia a dia, eu por acaso sou uma devoradora de fruta, tanto fresca como frutos secos – então, desde que estou no Algarve, é um paraíso para im, porque no mercado ao fim de semana, tenho os próprios produtores a venderem a ameixa, o figo, a amêndoa… adoro! Tu nos workshops dás precisamente estes ensinamentos para que as pessoas… ou seja, se alguém te abordar de forma específica, Catarina: sempre que como pizza fico inchadíssima, com gases, imagina que alguém… tu de facto vais se calhar com ela ver… Obviamente, que se calhar também é melhor ir ao médico, mas também ver uma forma de experimentar vários tipos de alimentação para ver com que… porque as pessoas não fazem isso, pois não? Não fazem testes para verem o que vai melhor com o seu corpo?

CV – Exatamente! Uma das coisas que eu gosto de diferenciar o meu trabalho ao que vemos muitas vezes. Muitas vezes nos deixamos levar pelo guloso. Vemos uma foto gulosa, é só baba e já vou comer. Mas,  não está só na questão de não ter carne ou peixe, mas que esteja bem combinada e que seja fácil de digerir. A digestão é um ladrão de energia; quanto mais rápidas e simples forem as nossas digestões, melhor, porque mais energia vamos voltar a ter. Normalmente, as pessoas associam a comer é gasolina e é um combustível, mas se comermos de forma pesada, mal combinada – e este provoca tanta flatulência e problemas de inchaço, etc. – o que vai acontecer é que não nos vamos sentir bem. É importante que cada pessoa tenha um tipo de alimentação completamente diferente. Não acredito que um plano nutricional seja chapa 5, porque cada um de nós temos caraterísticas físicas, mentais e espirituais diferentes. Temos uma higiene de sono, um tipo de trabalho diferente; temos um sistema mais ou menos nervoso; tudo isso vai influenciar. Desde o ponto de vista da medicina ayurveda – eu gosto de utilizar a Ayurveda como base para aquilo que eu argumento…

SR – E, aliás, é de onde vem o nome do teu projeto, não é?

CV – Porquê Veda… Porque sou uma amante do conhecimento. Acho que vou morrer com um livro na mão. Adoro conhecimento. Quando temos conhecimento empodera-nos; temos capacidade de decisão. Há medo quando não há informação. Temos informação estamos seguros e temos capacidade de tomar decisão. Não vibramos desde o medo.

Sobre esse exemplo da pizza. Gosto de aconselhar as pessoas de forma individual. Trato de que todas as receitas estejam pensadas desde o ponto de vista do que ter mais do que dois hidratos de carbono, o mais bem combinadas e simplificadas possíveis. Quando faço uma receita, não é para ter um ebook ou um curso guloso porque sei que se vão deleitar, porque é guloso… – poderia encher as receitas de coisas maravilhosas… – mas sim do ponto de vista da saúde. Fazer uma junção das duas coisas: delicioso mas sobretudo o que é saudável. Acho que isso é que é o que te motiva a colocar as mãos na massa e a saber o que fazer.

Há uma coisa muito importante quando se fala de alimentação e, hoje, podemos provar na sociedade. Cada vez há mais com opções saudáveis, mais lojas e hipermercados que apostam quase 70% em produtos biológicos, orgânicos, eco-sustentáveis, produtores locais, etc, mas temos de ter em atenção que nem tudo o que é bio, vegano e etiquetado como saudável, é realmente saudável. O que é mais saudável é o que vem da terra, que vem a granel, aquilo que não tens de desembalar, mas tens de descascar. Se descascas mais do que o que desembalas, à partida estás a comer alimentos vivos. E se queres ter muita energia tem de comer vida. As que estão mortas, ou empacotadas, são alimentos de alguma forma desvitalizados, têm menos nutrientes.

SR – Isso vem no sentido daquilo que te tinha dito. Grande parte das pessoas voltou a casa, para o novo confinamento e que interfere muito no nosso dia a dia. Havia pessoas que iam ao ginásio e tinham um certo tipo de alimentação porque sabiam que iam gastá-lo no ginásio, ou faziam caminhadas maiores e agora estamos bastante mais confinados. Eu costumo dizer: há dois momentos que não se deve fazer compras, não é? Para nós mulheres, antes de menstruarmos, porque nos apetece tudo; e não ir com fome! Depois, a partir daí deixo nas tuas mãos, todas as dicas que possas dar, a nível… porque e muito difícil arranjar um meio termo ainda por cima quando estamos em casa, obrigados a estarmos confinados. Parece que nos apetece tudo. Se calhar o ideal é não comprar… é nas compras que começa a nossa escolha saudável.

Supermercado com frescos © Pixabay
Supermercado com frescos © Pixabay

BATCH COOKING… organização e como fazer as refeições para uma semana

CV – A base da saúde está na cesta básica. Tenho um curso online que é o Batch Cooking, que basicamente é como cozinhar em três ou quatro horas para toda a semana. É o que curso que se baseia em organização e tempo e é o que precisamos agora no confinamento. Tanto serve para quem está confinado, como para quem não tem tempo de cozinhar. Como bem dizes, a cesta da compra é a base da nossa saúde. Em primeiro lugar, é importante definir o que fazer para não estarmos sempre na cozinha, para não petiscar, beliscar e comer este mundo e o outro. Eu faria um mapa onde teria as diferentes categorias de alimento. Em cada coluna tu tens frutas, leguminosas, cereais, as categorias todas de alimentos que tens quando vais a um mercado. A partir daí selecionas.

Esta semana, nos cereais, vou comer arroz e quinoa, por exemplo. Das leguminosas, esta semana, vou comer ervilha e grão de bico. Frutas: estamos na época do kiwi, banana e maçãs. Frutos secos, a mesma coisa. Dentro dos vegetais a mesma coisa… até podemos ir por cores. Nos verdes, vou levar brócolos e espargos; nos vermelhos, não é época de tomate, não levo; vou levar laranja, com abóbora e cenoura… escolhas com base nos teus gostos. Não faz sentido comprar um livro de receitas e começas a ver… eu não gosto de tofu, não gosto de não sei quê e metade da receita fica pelo meio porque não gostas e fazes tu o teu próprio plano. Primeiro fazemos essa seleção. Depois, da mesma forma que defines o teu trabalho para a semana, também vamos definir. Podemos comprar um calendário só para as refeições. O pequeno-almoço, na segunda-feira…

SR – Agora achei piada com esse teu exemplo. A minha mãe fazia isso lá em casa. Sentávamo-nos à mesa para comer e ela dizia que o mais difícil era decidir as refeições. Esta dica é muito boa para todas as mães de família, e pais! Que é dizer assim, diz lá o que te apetece e a partir daí fazer para a semana todas um planeamento e acaba por se gastar menos dinheiro nas compras, porque não se vai tantas vezes e não nos perdemos com outras coisas acessórias, que não são essenciais à alimentação.

Cenouras e Bróculos © Pixabay
Cenouras e Bróculos © Pixabay

NAS COMPRAS

CV – Quando vais fazer a comprar já tens a tua lista. Tens a seleção, defines as receitas e constróis a lista, podes comprar online ou não. Já vais com o guião. Já nem paras para pensar. Já vais direta, então nem te perdes com outras distrações que, no fundo, o supermercado acaba por ser uma distração gulosa. Evidentemente, uma vez que estamos no hipermercado ou no mercado… eu sempre digo que o melhor é o segundo. Porque no mercado já não há tentações como no hipermercado. Uma porque não é híper, então não tem tanta coisa, e depois porque costuma ser de produtores locais, o que é ótimo também. Uma vez que chegamos a casa, temos de por as mãos na massa. Temos muitas compras, não me apetece enfiar na cozinha; vou ter de cozinhar todos os dias, perco muito tempo. Também aqui temos pequenos truques. A primeira coia que eu aconselharia, quando chega a casa com as compras, se temos vegetais, vamos lavá-los todos já e organizá-los em caixas diferentes e no frigorífico. Vamos pré-adiantar esses vegetais que quando for para cozinhar já está tudo adiantado. Muitas vezes as pessoas não comem saladas, porque dá preguiça a lavar a alface…  uma manhã ou uma tarde a fazer todas essas tarefas é muito mais fácil. Durante a semana, imagina que gostas de colocar, nas tuas refeições, molhinho de tomate ou qualquer outro; cada semana podemos varar o tipo de molho; e a mesma coisa vamos fazer: deixar tudo prontinho.

No fundo, é o que faz um restaurante. Ainda que cozinhe na hora têm tudo pré-adiantado. Vou preparar tudo, tudo, de forma a que tu chegas, sentas-te, e meia hora estás a comer comida que foi feita na hora. Isso é porque a preparação prévia foi brutal. Quando temos tudo preparado, comer saudável é muito mais fácil. Imagina, se no teu pequeno-almoço comes granola, ou panquecas: se tiveres já a granola já feita e não tiveres de andar à procura em cada pote, já não cais na tentação. Se comes panquecas, podes ter já o mix, o líquido preparado. Sempre dura dois a três dias. Quando fores cozinhar arroz ou leguminosas, qualquer cereal ou leguminosa, podes cozinhar a dobrar, porque serve para congelar em caixas para uma segunda ou terceira refeição.

Quando fizeres sopa, sempre a dobrar, que assim já temos duas ou três refeições. E também podes congelar e naqueles dias de stress, nos dias em que não temos tempo, já temos isso preparado. Podemos e devemos fazer uma rotatividade; se nesta semana 1 eu comi arroz e quinoa, e ervilhas e grão, para a semana eu vou mudar a leguminosa. De forma que quando acabar o mês rodaste todos os alimentos. Isso é super importante. Uma refeição equilibrada não é aquele prato que tem tudo e mais alguma coisa. A este prato chamaria o prato de pós-guerra, porque quantos mais ingredientes mais difícil é a digestão. O equilíbrio está nas 24 horas do dia e está nos 30 dias do mês. É aí onde está o verdadeiro equilibro. E se apostarmos por alimentos sazonais, muito melhor! Essas seriam as dicas-chave. Quando tens a lista no carrinho (do supermercado) já não vai aquilo que tem de vir. As pessoas estão confinadas, as pessoas estão em stress, porque o patrão enviou e-mail e querem tudo para ontem, e porque começam a colapsar e, depois, flexibilizam. Se antes te levantavas às 7 da manhã, continua a fazê-lo, continua com a tua rotina. Se só tinhas uma hora para comer, continua.

SR – Rentabilizam mais o tempo. Podem até dedicar o tempo que sobraria… a muita gente não sobra, depois estando em casa tem outro tipo de trabalho, mas pronto isso já era para outra conversa. Penso que é importante dizer que, principalmente estando em casa, mesmo assim podemos fazer a nossa saída higiénica (odeio esta expressão mas é o que é, associada ao confinamento) e também beber muita água e, como está muito frio, beber muitos líquidos mornos, quentinhos também, muita sopa, com legumes…

Salada © Pixabay
Salada © Pixabay

ALIMENTAÇÃO NO CONFINAMENTO

CV – Exato, agora é um bom momento, em janeiro, também com o confinamento ainda mais, para fazer de alguma forma um detox. Levar o nosso corpo a um estado mais depurativo. Aquilo que nos ajuda no inverno, são os caldos vegetais, os cremes e sopas, sem tanta batata, amido e sem tanta carne. Um descanso, repouso digestivo ao nosso organismo. E não tem que ser não comer! Ah, agora está na moda o jejum intermitente e vou fazer! O que adianta fazer o jejum intermitente, se nas horas que comes, comes mal?! Pessoas mais velhas fazem jejum intermitente naturalmente. Às seis da tarde já estão a jantar. Nas horas que comem, continuam a comer o que comiam antes. Às vezes, nem sempre é melhor. É o melhor que sabem com o que têm. Alem da organização e preparação prévia, ter sempre um fundo de armário. Quando não há, de ter uma granola preparada, ter umas bolinhas energéticas ou um snack saudável feito, permite que não comes qualquer coisa. Quando não há organização, comem qualquer coisa e o problema está nesse “qualquer coisa”. É melhor comer comida, do que comer qualquer coisa, que é pouca quantidade… o que jantaste? Olha, uma sandes. Uma sandes hoje, outra amanhã e um bocadinho ali… e são estes qualquer coisa e bocadinhos que vão somando. Ao fim de um mês confinados, em que uma pessoa se mexe menos e está mais sentado, esses qualquer coisa que foram somando, chega ao fim triste e deprimido. A culpa não é do confinamento, a culpa é nossa, Porque não assumimos a responsabilidade.

SR – Temos essa diferença, estamos mais parados, mais sentados… há outras coisas que têm de mudar na nossa alimentação Quer queiramos, quer não, é mesmo assim.

CV – Acho que o melhor de tudo é essa planificação para não cair na tentação. É como no trabalho. Se tens calendarizado, as coisas fluem naturalmente, se tens um plano de ação. Outra dica super importante, que faz com que as pessoas não caiam tanto na tentação. Em vez de consumirem mais redes sociais, consumirem menos. O que acontece? Vão de uma rede à outra, e há comida por todo o lado, saltam do telemóvel para a cozinha. “Vi uma coisa e vou fazer!” E acabam por não sair da cozinha e acabam por estar sempre a comer.  Ao estar em casa também é um momento, se não tínhamos tempo para cozinhar, podemos fazer o nosso próprio retiro e dedicar-te à cozinha como se estivesses a tratar de ti, a curar-te. Quando queres adquirir um estilo de vida mais consciente com uma alimentação mais saudável é muito difícil quando a tua alimentação está delegada em mãos de terceiros. Imaginas que todos os dias almoças e jantas na casa da sogra. Ela vai cozinhar com todo o seu amor, mas cozinha aquilo que ela quer fazer e se calhar não é aquilo que o teu corpo precisa naquele momento. Tudo passa por assumir a responsabilidade e pôr as mãos na massa. E se apertar o ratinho, sempre digo: fruta! O melhor doce da natureza.

SR – E frutos secos. Também dou sempre este exemplo, que acho que não te contei. Quando comecei a dizer que estava a comer mais fruta e mais legumes, como muita sopa, principalmente no inverno… e lembro-me de dizer assim, ontem fartei-me de comer uvas. MAS uma pessoa farta-se de comer uvas… até aquilo enjoar, está longe de nos fazer muito mal. A gente enjoa antes de nos fazer mal E lembro que disseram assim: ah cuidado com a frutose. Porque a fruta tem muito açúcar. E eu disse assim: ora bolas, quando eu como uma tablete de chocolate ninguém me diz isso, ou um pacote de bolachas!

Frutas © Pixabay
Frutas © Pixabay

IMPORTÂNCIA DA FRUTA

CV – É bom que faças essa partilha, porque as pessoas têm pavor à fruta. Mas no entanto comem bolachinhas, ou uma barrita… ou seja, o que é importante entender na alimentação, barrar muitos desses mitos, perder o medo de comer as coisas que são da terra e que são naturais, porque o corpo sabe o que fazer com isso. Vou-te dar um exemplo: uma maçã tem 70Kcal e uma barrita saudável… as duas caloricamente são iguais mas o impacto e aquilo que vai fazer o teu corpo não é a mesma coisa. A mesma coisa acontece com: comes dois Kg de fruta, estás a comer muito volume, muita fibra, vitaminas e minerais. Vais ficar com a sensação de estar farta, mas vai-te fazer menos mal. Entre consumir muita fruta ou um bolo ou pão, o que é melhor? Sem dúvida, a fruta. A fruta tem frutose bem diferente da sacarose, esta última está nas bolachas, pães, barritas….

SR – Hoje em dia, está em tudo!

CV – A sacarose é refinada; a frutose é o doce natural dos alimentos. Os hidratos de carbono transformam-se em açúcar no nosso organismo. “Ah, não como fruta, mas como arroz, mas come massa…”

SR – Agora, até para terminarmos, gostaria que falasses de uma coisa em específico. As pessoas consomem iogurtes como se fosse a coisa mais natural do mundo e dá-se a crianças… penso que seja melhor dar-lhes banana e maçã em vez de iogurtes porque têm muito açúcar. Mas, também há o engano que são – e eu própria já fui muito enganada por isso – os cereais que comemos, às vezes, de manhã, às vezes, ao jantar – porque não nos apeteceu cozinhar. Se formos ler o que está lá é assustador…

CV – Tudo o que encontrares no pacote, pensa! Tudo o que está um pacote tem controlo de qualidade e tem tabela nutricional; tudo o que está a granel não tem tabela nutricional. Pensa porquê: uma coisa vende e a outra não. Uma coisa cura, então não interessa fazer marketing disto; e a outra não. As bananas, as maçãs, mesmo nos supermercados, não têm valor nutricional, não tem etiqueta. Tudo o que está embalado, sim. O tema dos cereais: sem dúvida! Há que ler o que está atrás no pacote. É como quando assinas uma hipoteca do banco, lê sempre as letras pequeninas. Aqui, é a mesma coisa.

SR – Às vezes, ir às compras torna-se uma canseira, mas pronto… vamos assumir que lemos a primeira vez e aprendemos para se,pre.

CV – Vamos assumir que se estivéssemos no mercado não necessitarias de ler etiquetas nutricionais. Nem te tens de preocupar. Mas, no hipermercado, é preciso ler, não o que está na frente, do rótulo, mas o que está por detrás. E repara se conheces esses ingredientes na natureza. Fiz um exercício com alunas, para lerem os ingredientes do pão que tinham comprado no hipermercado. E tinham traços de peixe no pão! E quando tem um ingrediente que é melhorante… Vai melhorar o quê? A saúde? Não acredito que vá melhorar muito a saúde. Há muitos alimentos que têm ingredientes que as pessoas não reconhecem na natureza e nem o identificam. Se vês um nome que não conheces é porque ali há qualquer coisa mascarada… conservantes, aromatizantes e químicos…

Outra coisa importante: a indústria alimentar esta autorizada a usar determinadas palavras para poder mascarar que o que leva esse alimento é uma alta concentração de açúcar ou são substâncias tóxicas, mas que são em quantidades mínimas. Por exemplo, muitos alimentos têm amido: é uma alta concentração de açúcar. Os cereais não são uma boa opção, por muito que sejam integrais, sem açúcar ou light, que estão também carregados de açúcar. Queres cereal de verdade, ou compras em grão e fazes papas (de aveia) ou compras o que seria o cereal o mais integral possível, com menos etapas de processamento ou refinamento possível. Outra dica importante: se buscamos uma alternativa saudável, entre um adoçante, compra sempre o mais escuro, nunca o mais claro. O açúcar branco… ele não é branco na natureza. Vem do açúcar da cana e é super castanho escuro. Passa por máquinas e vai ficando mais branco. O refinamento não é mais do que introduzir o mesmo alimento várias vezes, para moer o mais possível e para que renda mais em termos industriais. Não olhar o preço (nem sempre o mais caro é melhor) e a marca, mas tanto o açúcar como a farinha, quanto mais escuro melhor. Isto poderíamos deixar para outro tema…

SR – Muito ensinamentos. Estamos mesmo a acabar a nossa hora. Eu já sabia que ia ser assim uma conversa. Começamos a falar há pouco tempo, mas sabemos que somos as duas muito faladoras. E eu estava expectante para que a Catarina pudesse dar estas dicas maravilhosas. E já combinámos mais conversas para a frente! Muito obrigada!

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