Estar sozinha, num restaurante, ou numa esplanada, pode ser um momento desconfortável, e provocar ansiedade e tensão a muitas pessoas. Muitas mulheres, que me abordam sobre o tema de viajar sozinhas, falam disso. Porque será? E porque é tão importante termos prazer em desfrutarmos de uma refeição sozinhas?
Há ainda quem, no dia a dia, evite comer fora sozinh@ para não ter de enfrentar o que muitos chamam de “solidão à mesa”. Só nós e a nossa comida e a observarmos o que nos rodeia; saborearmos a comida; saborearmos a nossa presença; saborearmos a nossa liberdade; aproveitarmos o tempo que tirámos para nós; e simplesmente desfrutar… do nosso bem estar. Estamos a alimentar-nos e devemos tirar também algo prazer disso, além de estarmos a cuidar de uma necessidade básica do nosso corpo.
Eu já senti aquela “solidão”, por isso, vou-vos deixar algumas dicas de como superar isso. Como escrevi durante muitos anos sobre restaurantes, comecei a habituar-me a estar sozinha numa mesa. Facilitou muito mas, depois, em muitas conversas com mulheres que viajam sozinhas, falavam-me de como “ao almoço até é normal”, mas “jantar sozinha, num restaurante, não”! Também pensam assim?
MESA PARA UM, POR FAVOR
Nos restaurantes, uma das coisas que mais me incomodava – e ainda incomoda, confesso – é chegarem à nossa mesa, onde estão duas cadeira e a mesa posta – antes da pandemia era assim – e perguntam-nos “vai estar sozinha?”. E quando respondemos que sim, começam a tirar o segundo prato, o segundo copo, etc. E deixam-nos numa situação meio “desprotegida”, pensava eu. Mas, na verdade, acho que é o contrário que se verifica: há uma certa autoridade, de liberdade até, um poder no afirmar “sim, estou a comer sozinha. E não, não vem ninguém juntar-se a mim”.
Há pouco tempo, questionei nas stories do Instagram do Viaje Comigo sobre este tema. A maior parte disse que, de facto, não gostava de comer sozinho em restaurantes. E ainda enviaram mensagens a dizer que o pior era mesmo jantar sozinh@. Entre as várias opções, responderam assim (num universo de 350 pessoas):
Não gosto de comer sozinho porque:
– Sinto-me só – 30% das respostas
– Sinto o olhar dos outros – 25% das respostas
– O que as pessoas pensam – 5% das respostas
– Sinto-me aborrecid@ – 40% das respostas
– Primeiro temos de ver o “comer sozinho” como um desafio
Ok, vamos admitir que no início é desconfortável, estarmos sozinhos. Peguemos num papel e vamos enumerar o que sentimos quando estamos sozinhas. Depois, à frente disso, coloquem o que acontece no pior dos cenários. Pelo menos nas primeiras vezes.
Exemplo: vão sentir-se só – > ligue para um amig@ que o faça companhia durante o almoço.
Serve isto para mostrar que existe um medo/receio ultrapassável. E que a maior parte deles não tem sequer uma base sólida para persistirem. Quando desmontamos esse bicho de sete cabeças que é fazer uma refeição sozinhas… abrem mais portas, como, por exemplo, ir a outros eventos ou até viajar sozinha.
– Temos (na maioria) muito medo do que as pessoas vão pensar. Qual o poder da opinião do outros, na nossa vida? O Harvard Business Review fala disso aqui e explica como isso vem de um gesto de sobrevivência, o aceitar a opinião dos outros. Então, como paramos de nos preocupar com o que os outros pensam? Sabe mais aqui.
Pensa: estás preocupada com a opinião de pessoas que não conheces e que muito provavelmente nunca mais vais ver? Muito provavelmente, e em algumas das situações, as pessoas que te olham, estão a pensar… que mulher tão segura de si mesma que está a fazer uma refeição sozinha. Simplesmente isso!
– Para quem gosta de comer, tem de haver um momento em que nos temos de libertar para aproveitar. Não tens companhia para ir àquele restaurante que tanto queres conhecer? Ou fazer aquele lanche que gostavas?… Vai! Lê um livro ou revista, enquanto degustas tudo o que há para provar.
– Fazê-lo várias vezes – comer sozinha – vai fazer com que te habitues. Cria essa rotina, rompendo com o que existe no momento. A prática aperfeiçoa! Se hoje estás a sentir-te desconfortável, amanhã estarás mais presente e ciente que estarmos na nossa própria companhia, poderá ser o melhor… em muitos dias.
– O objetivo é que usufruas desse tempo para ti. Se as chamadas com amigos e a internet podem ser distrativas… a ideia é que consigas afastar-te disso para que possas aproveitar o aqui e o agora. Se o fizeres em viagem, a distração de um local novo, pode ser o suficiente para te distrair. São as pessoas a passarem na rua, é a vida da cidade/aldeia, é tudo novo e, portanto, passa bem e rápido o tempo em que estamos sozinhas numa mesa de restaurante.
Lê aqui mais artigos sobre VIAGENS no MULHERES EM VIAGEM
– Interaje com os funcionários. Sabe o nome d@ funcionári@ que está a servir na tua mesa (é para mim uma regra, quer esteja sozinha ou acompanhada). E podes acabar, até, por teres a simpatia e companhia dele em certos momentos da refeição.
– Come com os locais: vai a restaurantes de beira de estrada, pega no prato na mão e come na calçada das ruas, etc… nunca nos sentimos sós aí! Se gostas de ambiente mais descontraído, vai a restaurantes mais simples.
– É normal que, em viagem, possa até acontecer alguma conversa com alguém que também está em viagem. Somos seres sociais e, por isso, é normal que estejamos mais abertos para fazermos novas amizades, com a premissa que estamos na mesma situação: em viagem. Para onde vais? Quanto tempo vais estar por aqui? Alguma sugestão do que devo visitar? Ou porque não pedir alguns conselhos do que visitar ao pessoal de serviço do restaurante. São as melhores dicas.
– Se queres comer e quer conhecer a gastronomia de um país… inscreve-te nos Food Tours. Experimentei em Roma e Amesterdão e aconselho muito. É também outra forma de estar com outros viajantes e fazer novas amizades.
– Há retiros onde existem momentos de meditação e silêncio. E existe a prática de silêncio à refeição. Nesse contexto, se desejarem – e sem que seja algo espiritual – podem fazer para vocês próprias o exercício de gratidão. De poderem estar a usufruir daquela experiência gastronómica. De alguém que cozinhou para ti. De alguém que te serviu. Por teres dinheiro (e saúde) para vivenciar essa experiência.