São contos e sons ancestrais, de músicas passadas de boca em boca e de geração em geração. “Ambria Ardena” é uma expressão transmontana, que significa “fome ardente”, e agora foi transformada no nome de um grupo de sete mulheres que se uniram para não deixarem cair no esquecimento a cultural oral, passada com as músicas que vêm dos antepassados. Algo muito importante neste projeto: preservar o dialeto do nordeste transmontano. Veja o vídeo da música “Rosinha”, no final do texto.
“O objetivo deste projeto é manter as canções tradicionais, transmontanas vivas. Cantamos canções das nossas avós, bisavós, e o propósito é evitar que essas canções sejam esquecidas e levadas literalmente para o caixão”, explica ao MEV (MulheresEmViagem.pt), uma das participantes, Carla Germano Lopes.
“Somos netas do vestido negro.
Somos netas do sofrimento.
Somos netas das que cantavam, para acalmar a dor. Somos netas da miséria e da fome.
Somos netas da desigualdade. Somos netas do trabalho e do cansaço. Somos netas da violência e da submissão. Somos netas do abuso e do desrespeito.
Somos filhas da dor, do ressentimento, do desalento.
Somos mulheres da liberdade. Somos mulheres de alma trasmontana.
Somos mulheres que cantam, para honrar as que vieram antes de nós. Somos mulheres que cantam, para não esquecer as dores. Somos mulheres que cantam para curar as feridas do passado.
Somos Ambria Ardena.”
Os membros são de Ambria Ardena são Carla Germano Lopes, Julieta Carneiro, Lara Dias, Lisa Eugénio, Mariana Augusto, Marta Serapicos e Sofia Alves de Sousa.
“A canção lá vai a Rosinha surgiu através duma pesquisa intensiva pelas aldeias, e foi numa sexta a noite, na Aldeia de Talhas, que o professor Virgílio do Vale me a cantou. Fizemos umas alterações na harmonia, acrescentamos o final onde aparece o Careto. Os nossos espetáculos contam a história da Rosinha, que se apaixonou por um Careto, mas que foi prometida a um velho… mais não conto! Histórias de antigamente, uma antigamente não tão distante”, releva Carla.
Para já, têm oito temas, entre os quais está a Rosinha, mas estão a recolher mais para expandir o repertório. Outros temas são ‘tu que tens ó D. Fernando’, ‘Prima’, entre outras. As canções em si não têm tema, nem o compositor se conhece por serem tão antigas. “As letras são antigas, mas acrescentamos mais letras, rezinhas, mezinhas, rimas. A base da musica também já existia mas demos o nosso toque”, salienta.
Para o futuro, querem ir mais além: “submetemos uma candidatura à DGArtes. Queremos investir em gravações, na compra de mais instrumentos tipicos da região, como a gaita de foles e também tambores, por exemplo”.
Os próximos espetáculos serão, ainda em terras transmontanas, nomeadamente em Macedo de Cavaleiros: no dia 24 de setembro võ tocar na Festa da Vindima e da Amêndoa, em Talhas. A 21 de outubro vão atuar na Igreja de Peredo. Instagram