Envelhecer é muitas vezes visto como sinónimo de limite. Mas, felizmente são conceitos que começam a mudar e, em Portugal, existe um projeto que desconstrói essa ideia e mostra que a idade pode ser um ponto de partida para novas conquistas. Chama-se “A Avó Veio Trabalhar” e reúne mulheres com mais de 60 anos que, através da arte, do artesanato e da partilha de saberes, estão a transformar a forma como olhamos para o envelhecimento feminino.

Um projeto que nasceu para dar voz a mulheres seniores
Criado em 2014 pela associação Fermenta, através de Ângela Pisco e Catarina Portas, o projeto nasceu em Lisboa com um propósito claro: valorizar a experiência e a criatividade de mulheres mais velhas, muitas vezes relegadas ao isolamento. E, hoje, é uma referência nacional quando se fala de empoderamento feminino e envelhecimento ativo.
O nome “A Avó Veio Trabalhar” é uma afirmação de presença. Mostra que estas mulheres não ficam paradas à margem da sociedade. Elas trabalham, criam, inovam e ensinam – provando que a velhice não é invisível, mas sim um espaço fértil de talento e de partilha.
Oficinas de criatividade e partilha
O coração do projeto são as oficinas criativas, onde as avós se encontram para aprender e ensinar. É um espaço acolhedor, onde se cruzam histórias de vida, técnicas manuais e muito espírito comunitário.
Ali, nascem peças únicas, que unem tradição e modernidade:
- Tricot e crochet, em versões contemporâneas, com cores e padrões arrojados.
- Bordados e costura, transformados em sacos, almofadas e objetos de uso diário.
- Cerâmica artesanal, onde cada peça conta uma história de mãos experientes.
- Bijutaria criativa, pensada para mulheres que gostam de peças originais e sustentáveis.
Mas as oficinas não são apenas sobre produção. São, sobretudo, sobre relações humanas. Jovens designers e artistas juntam-se às avós para criar em conjunto, num ambiente de aprendizagem mútua. Este diálogo entre gerações torna-se uma poderosa ferramenta de inclusão e de valorização da identidade feminina.

Empoderamento feminino em idade sénior
Um dos maiores contributos de “A Avó Veio Trabalhar” é o seu impacto direto na autoestima das mulheres envolvidas. Muitas chegam às oficinas com histórias de isolamento, sentindo-se sem lugar no mercado de trabalho ou até na própria família. Com o tempo, descobrem-se novamente capazes, criativas e valorizadas.
O projeto mostra que o empoderamento feminino não tem idade. Estas mulheres voltam a ter voz, ganham visibilidade nos media, participam em feiras de design, em colaborações com marcas e em exposições. Tornam-se, de certa forma, líderes comunitárias e exemplos vivos de resistência e reinvenção.
Um contributo para a sociedade e para a economia criativa
Além do impacto social, “A Avó Veio Trabalhar” tem também uma forte componente de sustentabilidade e de economia criativa. Os produtos feitos pelas avós são vendidos em feiras, lojas físicas e online, revertendo parte dos lucros para o projeto e para as próprias criadoras.
Cada peça vendida carrega consigo não só a beleza do artesanato, mas também uma história de vida e de transformação. Comprar um produto feito por estas mulheres é apoiar o trabalho feminino sénior e reconhecer o valor de gerações que tantas vezes foram esquecidas.
Intergeracionalidade: mulheres que ligam o passado ao futuro
Outro aspeto central é o diálogo entre gerações. Nas oficinas, muitas vezes participam jovens que nunca aprenderam técnicas manuais, mas que trazem consigo novas ideias, ferramentas digitais e uma perspetiva fresca. Ao lado das avós, constroem-se pontes entre tradição e modernidade, passado e futuro.
Esta dimensão intergeracional é fundamental num mundo onde a velocidade do digital tende a afastar-nos das raízes. Aqui, as avós ensinam paciência, atenção ao detalhe e a importância de fazer com as mãos – valores preciosos num tempo marcado pela pressa e pela produção em massa.
Um futuro com mais mulheres inspiradoras
O sucesso do projeto tem chamado a atenção internacional e inspirado outras iniciativas de inclusão sénior. Em Portugal, “A Avó Veio Trabalhar” tornou-se símbolo de que as mulheres não se esgotam com a idade, mas podem reinventar-se continuamente.
Ao trazer estas avós para o centro da cena criativa, o projeto desafia preconceitos e mostra que a velhice feminina pode ser ativa, produtiva e inspiradora.
