Projeto “52 Mulheres em 2025 – MEV, MulheresEmViagem.pt”. A história de uma mulher, por cada semana do ano. Durante o ano de 2025, o MulheresEmViagem.pt faz uma homenagem a Mulheres de todo o Mundo, de vários países, de várias áreas de formação, que se tornaram referências. Algumas já não estão entre nós, mas muitas outras ainda estão a transformar o nosso mundo, dia após dia, com o seu esforço e trabalho por um mundo mais igualitário! Por um mundo com mais referências femininas, sobretudo em áreas que nos estiveram vedadas durante séculos (milénios, por vezes…).
O seu legado é imenso. Inspirou movimentos culturais, influenciou poetas e deu origem à chamada Nova Canção Chilena, um movimento que uniu música, política e resistência. Falar de Violeta Parra é falar de uma mulher à frente do seu tempo. Cantora, poeta, pintora, escultora e bordadeira, foi uma das figuras mais marcantes da cultura latino-americana do século XX. A sua vida foi uma viagem entre a beleza e a dor, o amor e a perda, mas sobretudo entre a arte e a resistência.
Violeta nasceu em 1917, no Chile, num ambiente rural e pobre. Desde cedo, descobriu na música popular um refúgio e uma forma de expressão. O seu pai tocava guitarra e a mãe cantava, e foi entre canções tradicionais e histórias populares que a pequena Violeta começou a sonhar com um mundo diferente: um mundo onde a voz de todas as mulheres tivesse espaço.
Violeta Parra e a arte como forma de luta
A arte de Violeta Parra não se limitava à estética: era uma ferramenta de transformação. Quando começou a recolher e a cantar canções tradicionais chilenas, fê-lo não como uma simples artista, mas como uma guardadora da memória popular. Percorreu aldeias, montanhas e campos, recolhendo letras e melodias que estavam a desaparecer com o tempo.
Violeta acreditava que o povo tinha uma sabedoria própria, ou seja, uma cultura rica e viva, que merecia ser valorizada tanto quanto as grandes obras europeias. Essa missão transformou-a numa espécie de antropóloga autodidata, uma mulher que preservou a identidade cultural de um país inteiro através da música.
Mas a sua arte foi além da tradição. As suas canções tornaram-se espelhos do seu tempo, denunciando injustiças, desigualdades e o sofrimento dos mais pobres. Num Chile ainda profundamente conservador, Violeta Parra ousou cantar o que muitas mulheres ainda não podiam dizer.
Entre o amor e a dor: a alma de uma artista
Violeta Parra viveu intensamente. Amou com paixão e sofreu com profundidade. O seu romance com o músico suíço Gilbert Favre marcou profundamente a sua vida e obra. Quando o amor acabou, a ferida transformou-se em canção. É dessa dor que nasce “Gracias a la vida”, talvez o seu tema mais conhecido, e um dos hinos universais da gratidão e da humanidade.
“Gracias a la vida que me ha dado tanto…”: a letra, tão simples e poderosa, é uma celebração do que é viver, mesmo com sofrimento. Paradoxalmente, foi escrita pouco tempo antes da sua morte. É como se Violeta tivesse deixado ao mundo uma despedida luminosa, uma última oferenda de amor e arte.
A artista não se limitou à música. A sua obra plástica – tapetes, pinturas e esculturas – foi exibida no Museu do Louvre, tornando-a a primeira artista latino-americana a ter uma exposição individual nesse espaço. As suas criações misturavam o folclore com a modernidade, sempre com a marca da mulher que transforma o quotidiano em poesia.
Uma mulher livre num mundo que não aceitava a liberdade feminina
Num tempo em que as mulheres eram empurradas para o silêncio, Violeta Parra foi uma voz de rebeldia e de autenticidade. A sua vida foi uma constante luta contra as normas impostas – da sociedade, da política e até do amor.
Cada música e cada bordado carregam a energia de uma mulher que não pedia permissão para existir, criar e sentir. E é por isso que, ainda hoje, Violeta Parra é símbolo de liberdade feminina e de resistência artística.
Legado: Violeta Parra e a semente que germina
Violeta Parra morreu em 1967, de forma trágica (com uma arma), deixando o mundo órfão da sua voz. Mas a sua arte continua viva, nas canções de Mercedes Sosa, nas novas gerações de mulheres latino-americanas, nas artistas que hoje cantam e pintam o que antes era censurado.
Mais do que uma cantora, Violeta Parra foi uma semente de revolução artística, uma mulher que provou que a arte pode ser a mais poderosa forma de mudança social.

