A Associação Portuguesa de Escritores distinguiu Teolinda Gersão, sendo a vencedora da 43.ª edição do Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (APE) e Direção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas (DGLAB), com a sua obra “Autobiografia não escrita de Martha Freud”.
O prémio foi atribuído por unanimidade pelo júri, coordenado por José Manuel de Vasconcelos, e constituído por António Apolinário Lourenço, Carlos Nogueira, Isabel Cristina Rodrigues, Liberto Cruz e Maria João Reynaud.
Na ata que fundamenta a escolha é destacada não só a mensagem do livro – «Além de enaltecer a importância cultural da memória, o romance é o magnífico retrato psicológico de uma mulher que acaba por impugnar o poder patriarcal que a silenciou e oprimiu durante várias décadas. Um poder discriminatório que perdura e prevalece na sociedade atual» -, mas também «o talento narrativo de Teolinda Gersão» que confirma «as qualidades de uma Escritora excecional».
A autora não escondeu a emoção por receber esta distinção pela segunda vez, com um livro que deixa como homenagem não só á protagonista: “Resgatar do silêncio Martha Freud, através das cartas que ela própria escreveu, e das que recebeu de Sigmund, tornou-se para mim um imperativo moral, porque é urgente dá-las a ler a quem quiser.
Que este livro tenha ganho o Grande Prémio de Romance e Novela da APE é-me obviamente grato, mas dedico-o à memória de Martha Freud, e a todas as grandes mulheres que até hoje foram silenciadas.”
Este reconhecimento foi instituído em 1982, pela Associação Portuguesa de Escritores e é atualmente patrocinado pela Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, Câmara Municipal de Grândola, Fundação Calouste Gulbenkian e Instituto Camões. Teolinda Gersão já tinha sido a escolhida em 1995, com a obra A Casa da Cabeça de Cavalo.
“Autobiografia não escrita de Martha Freud”
«Este é um romance sobre personagens históricas, mas não um “romance histórico”, na medida em que pretende seguir/reconstituir/aproximar-se o mais possível da realidade, obrigando-se a usar sobretudo a interpretação (que as torna visíveis), reduzindo ao mínimo a fantasia (que iria “atraiçoá-las”). Apesar da subjectividade inevitável de tudo o que é escrito, procura ser “objectivo”, porque alicerçado em documentos.
Uma vez que Freud sempre teve voz e Martha foi até 2011 silenciada e reduzida ao estereótipo de esposa, mãe e dona de casa, descobrir a sua personalidade “real” não me interessou menos do que a do homem célebre, complexo e multifacetado da sua vida. Aliás, neste caso a celebridade não importa, a matéria do livro é o diálogo de duas pessoas em igual medida importantes, que mutuamente se procuram, encontram e desencontram.
É possível que para o leitor (como no início para mim) as figuras de ambos se revelem muito diferentes do que esperaria. O que não considero uma perda, mas uma revelação surpreendente.»
[Teolinda Gersão]
SOBRE A AUTORA: Teolinda Gersão
Estudou nas Universidades de Coimbra, Tübingen e Berlim, foi leitora de português na Universidade Técnica de Berlim e professora catedrática da Universidade Nova de Lisboa, onde lecionou Literatura Alemã e Literatura Comparada.
Viveu três anos na Alemanha, dois anos em São Paulo, Brasil, e conheceu Moçambique e a cidade de Lourenço Marques, onde decorre o romance “A árvore das palavras”. É autora de 20 livros e a sua obra encontra-se traduzida em 20 países.
Considerada uma das maiores escritoras portuguesas da atualidade, foi galardoada com os mais prestigiados prémios literários nacionais, nomeadamente o Grande Prémio de Romance e Novela da APE, o Prémio do PEN Clube (1981 e 1989), o Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco, o Prémio Fernando Namora (1999 e 2015) e o Prémio Literário Vergílio Ferreira 2017 pelo conjunto da sua obra.
Foi escritora residente da Universidade de Berkeley em 2004. Alguns dos seus contos e livros têm sido adaptados ao cinema e ao teatro e encenados em Portugal, na Alemanha e na Roménia. Em 2018, foi-lhe atribuído o Marquis Lifetime Achievement Award e, em 2023, venceu a 28.ª edição do Grande Prémio de Literatura dst com o livro “O regresso de Júlia Mann a Paraty”.