Sigríður Tómasdóttir: a Guardiã de Gullfoss

Sigríður Tómasdóttir

Projeto “52 Mulheres em 2025 – MEV, MulheresEmViagem.pt”. A história de uma mulher, por cada semana do ano. Durante o ano de 2025, o MulheresEmViagem.pt faz uma homenagem a Mulheres de todo o Mundo, de vários países, de várias áreas de formação, que se tornaram referências. Algumas já não estão entre nós, mas muitas outras ainda estão a transformar o nosso mundo, dia após dia, com o seu esforço e trabalho por um mundo mais igualitário! Por um mundo com mais referências femininas, sobretudo em áreas que nos estiveram vedadas durante séculos (milénios, por vezes…).

Mais Sobre o Projeto “52 Mulheres em 2025 – MEV, MulheresEmViagem.pt”. A história de uma mulher, por cada semana do ano.

A PRIMEIRA ATIVISTA AMBIENTAL DA ISLÂNDIA

No início do século XX, Gullfoss — uma das cascatas mais impressionantes da Islândia — esteve prestes a desaparecer, transformada numa central hidroelétrica. Mas uma mulher ergueu-se contra o projeto: Sigríður Tómasdóttir, filha de um agricultor local, caminhou mais de 100 quilómetros até  à capital, Reiquiavique, para protestar junto das autoridades. Sem poder, nem título, usou a sua voz, a sua determinação… e os próprios pés. A sua luta salvou Gullfoss, que hoje continua a correr e a despenhar-se livremente, graças à coragem de quem ousou resistir.

Sigríður Tómasdóttir
Sigríður Tómasdóttir

Sigríður Tómasdóttir caminhou até Reiquiavique em protesto

Sigríður Tómasdóttir fez esta longa jornada (cerca de 120 km desde Brattholt, onde vivia, até à capital islandesa), várias vezes, para apresentar queixas formais e pressionar as autoridades contra a construção de uma central hidroelétrica que ameaçava Gullfoss. Esta ação foi altamente simbólica e corajosa, especialmente para uma mulher da época, sem estatuto político ou formação jurídica.
O seu gesto foi um dos primeiros exemplos conhecidos de ativismo ambiental na Islândia.

A Islândia, terra de gelo e fogo, é também um país moldado por histórias de coragem, resistência e amor profundo pela natureza. Uma dessas histórias tem como protagonista uma mulher cujo nome nem sempre surge nos manuais de História, mas que desempenhou um papel fundamental na preservação de um dos mais emblemáticos tesouros naturais islandeses: a cascata de Gullfoss.

A SUA INFÂNCIA

Sigríður Tómasdóttir nasceu em 1871, numa fazenda chamada Brattholt, localizada nas proximidades de Gullfoss, no vale do rio Hvítá. Filha de Tómas Tómasson, um agricultor islandês, cresceu em contacto direto com a força e a beleza da natureza que rodeava a sua casa. Gullfoss, com as suas quedas impressionantes em dois níveis e o seu constante rugido, não era apenas uma atração natural — era parte da sua identidade, uma extensão da sua infância e da sua vida quotidiana.

No início do século XX, a Islândia vivia tempos de mudança. Com o progresso económico e a crescente influência estrangeira, surgiram também propostas que procuravam explorar os recursos naturais da ilha.

Foi neste contexto que, por volta de 1907, investidores estrangeiros mostraram interesse em utilizar Gullfoss para a produção de energia hidroelétrica. O pai de Sigríður, então proprietário das terras envolventes, foi pressionado para arrendar os direitos da cascata a uma empresa britânica, o que permitiria a construção de uma central hidroelétrica que alteraria drasticamente a paisagem natural.
Sigríður, profundamente ligada a Gullfoss, opôs-se veementemente à ideia.

Para ela, a cascata não era um recurso a explorar, mas sim um monumento natural a proteger. Sem formação jurídica e numa época em que as mulheres tinham pouca ou nenhuma voz na esfera pública, especialmente no que tocava a decisões económicas ou ambientais, Sigríður destacou-se pelo seu espírito determinado.

Sigríður Tómasdóttir
Sigríður Tómasdóttir

A CAMINHADA QUE LIBERTOU GULLFOSS

Ao perceber que a assinatura do contrato colocava Gullfoss em risco, Sigríður tomou uma decisão ousada: caminhou cerca de 120 quilómetros até Reiquiavique, atravessando terrenos inóspitos, para apresentar a sua queixa às autoridades e procurar apoio legal. Fê-lo não uma, mas várias vezes.

Tornou-se a primeira mulher islandesa conhecida por iniciar uma ação legal em defesa do ambiente. Com a ajuda do jovem advogado Sveinn Björnsson — que mais tarde se tornaria o primeiro presidente da Islândia —, Sigríður travou uma longa batalha judicial contra a concessão.

Durante este processo, chegou mesmo a ameaçar atirar-se para a cascata, caso as obras de construção avançassem. A sua ameaça não era teatral: era o reflexo de um compromisso absoluto com a preservação da natureza. Esta atitude dramática, aliada à sua persistência, captou a atenção da imprensa islandesa e da opinião pública, tornando-se um símbolo de resistência.

Apesar de não ter ganho o processo formalmente, os atrasos e a crescente pressão social resultaram na desistência do projeto. A empresa estrangeira nunca chegou a construir a central, e os direitos acabaram por reverter para o Estado Islandês. Em 1979, Gullfoss foi oficialmente declarada uma reserva natural, garantindo a sua proteção para as gerações futuras.

Sigríður Tómasdóttir faleceu em 1957, mas o seu legado vive nas águas que continuam a despenhar-se com força pelo desfiladeiro de Gullfoss. Um memorial em sua honra foi erguido junto à cascata, com um busto e uma placa que reconhecem a sua luta incansável.

Hoje, o seu nome é lembrado como símbolo do ativismo ambiental, muito antes de o termo existir. A sua história inspira mulheres e homens na Islândia e além-fronteiras, recordando-nos que a defesa da natureza, mesmo diante de forças económicas poderosas, pode começar com um simples gesto — ou com uma longa caminhada em nome de um bem maior.

Sobre a Islândia – Rádio Viaje Comigo.

Sigríður Tómasdóttir
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