Projeto “52 Mulheres em 2025 – MEV, MulheresEmViagem.pt”. A história de uma mulher, por cada semana do ano. Durante o ano de 2025, o MulheresEmViagem.pt faz uma homenagem a Mulheres de todo o Mundo, de vários países, de várias áreas de formação, que se tornaram referências. Algumas já não estão entre nós, mas muitas outras ainda estão a transformar o nosso mundo, dia após dia, com o seu esforço e trabalho por um mundo mais igualitário! Por um mundo com mais referências femininas, sobretudo em áreas que nos estiveram vedadas durante séculos (milénios, por vezes…).
Rigoberta Menchú Tum nasceu em 1959, na Guatemala, e é hoje uma das mulheres mais reconhecidas mundialmente pela sua luta em defesa dos povos indígenas, das mulheres e dos direitos humanos. Proveniente da etnia maia quiché, cresceu numa comunidade marcada pela pobreza, pela exclusão social e pela violência política.
O seu nome tornou-se conhecido em todo o mundo quando, em 1992, recebeu o Prémio Nobel da Paz, tornando-se a primeira mulher indígena a conquistar esta distinção. Desde então, a sua história e a sua voz inspiram milhares de mulheres a resistirem e a erguerem-se contra as injustiças.
Infância marcada pela luta e pela adversidade
Rigoberta cresceu numa família humilde, dedicada à agricultura de subsistência. Desde cedo, aprendeu com os pais o valor da terra e da comunidade, mas também conheceu a dureza da exploração e da marginalização.
Durante a guerra civil da Guatemala (1960-1996), a sua família sofreu perseguições diretas. O pai, Vicente Menchú, foi assassinado em 1980, num episódio que marcou a sua vida: a ocupação da Embaixada de Espanha, em que dezenas de camponeses e estudantes foram mortos. Pouco depois, também a mãe foi sequestrada, torturada e assassinada. Estas perdas pessoais transformaram Rigoberta numa voz ativa contra a repressão do governo e em defensora da memória do seu povo.
O livro que mudou a história: “Eu, Rigoberta Menchú”
Em 1983, Rigoberta contou a sua história no livro “Eu, Rigoberta Menchú: uma indígena da Guatemala”, escrito em colaboração com a antropóloga Elisabeth Burgos. Esta obra deu a conhecer ao mundo as atrocidades cometidas contra o povo maia e tornou-se um marco na literatura de testemunho.
O livro não só denunciou os crimes cometidos durante a guerra civil guatemalteca, como também evidenciou a luta diária das mulheres indígenas, sujeitas a um duplo sistema de opressão: a discriminação étnica e a desigualdade de género.
A conquista do Prémio Nobel da Paz
Em 1992, ano em que se celebravam os 500 anos da chegada de Colombo à América, Rigoberta Menchú recebeu o Prémio Nobel da Paz. A escolha teve um grande peso simbólico, pois deu visibilidade a séculos de luta dos povos indígenas e reforçou a importância das mulheres na defesa da justiça social.
Ao ser distinguida, Rigoberta afirmou que o prémio não era apenas para si, mas para todos os povos marginalizados que, tal como ela, resistem ao apagamento cultural e à violência. Esta perspetiva coletiva é uma das marcas da sua trajetória: nunca fala apenas por si, mas como representante de uma comunidade inteira.
Rigoberta Menchú e o feminismo indígena
Rigoberta Menchú é também considerada uma referência do feminismo indígena, uma corrente que procura dar voz às mulheres nativas da América Latina, muitas vezes silenciadas tanto pelas estruturas patriarcais das suas comunidades como pela sociedade dominante.
Ela defende que a emancipação das mulheres indígenas deve estar ligada à preservação da cultura, da língua e da identidade dos seus povos. Para Menchú, não se trata apenas de lutar pela igualdade de género, mas também de recuperar a dignidade histórica roubada às comunidades indígenas.
O trabalho internacional e a Fundação Rigoberta Menchú Tum
Após a conquista do Nobel, Rigoberta continuou o seu trabalho em defesa dos direitos humanos a nível global. Criou a Fundação Rigoberta Menchú Tum, dedicada à promoção da paz, da justiça social, da educação e da defesa dos povos indígenas.
Através da fundação, tem desenvolvido projetos de alfabetização, programas de apoio às mulheres vítimas de violência e iniciativas para preservar as tradições culturais indígenas. Além disso, participa ativamente em organismos internacionais, como a ONU, onde tem sido voz constante em defesa da diversidade cultural e contra a discriminação.
Críticas e polémicas
A trajetória de Rigoberta Menchú não esteve isenta de polémicas. Algumas passagens do seu livro foram questionadas por investigadores que alegaram existirem imprecisões históricas. No entanto, estas críticas não diminuem a relevância do testemunho que deu voz às comunidades marginalizadas.
Muitos especialistas defendem que, independentemente das controvérsias, Rigoberta conseguiu algo essencial: trazer para o centro do debate internacional as lutas indígenas e femininas, temas antes ignorados pelo discurso político global.
O legado de Rigoberta Menchú para as mulheres
O impacto de Rigoberta Menchú ultrapassa fronteiras. Ela tornou-se símbolo de coragem, resiliência e esperança para mulheres de todo o mundo, especialmente aquelas que enfrentam discriminação e violência.
O seu legado inspira não só o movimento indígena, mas também o movimento feminista global, ao mostrar que a luta pelos direitos das mulheres deve incluir as vozes de diferentes culturas e contextos.
Rigoberta ensina que resistir é também um ato de memória: recordar os que foram silenciados e transformar a dor em força para construir um futuro mais justo.
Um símbolo universal de resistência
Rigoberta Menchú é mais do que uma líder indígena guatemalteca. Ela é um ícone universal da luta pelos direitos humanos, das mulheres e dos povos marginalizados. A sua história pessoal, marcada pela dor e pela perda, transformou-se em motor de ação coletiva e em inspiração para milhões de pessoas.
Num mundo onde ainda persistem desigualdades profundas, Rigoberta Menchú lembra-nos que a voz das mulheres, especialmente das que pertencem a comunidades marginalizadas, é essencial para a construção da paz e da justiça.
O seu exemplo permanece atual e necessário, mostrando que cada mulher pode ser protagonista da sua própria história e agente de mudança social.