Rainha Liliʻuokalani: a última soberana do Hawai e a sua luta pelo povo

Rainha Liliʻuokalani

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Liliʻuokalani, nascida Lydia Liliʻu Loloku Walania Wewehi Kamakaʻeha em 2 de setembro de 1838, ficou para a História como a primeira e única rainha reinante do Hawai. Foi também a última monarca do Reino do Hawai, antes da anexação forçada do arquipélago aos Estados Unidos da América. Figura de grande determinação, sensibilidade artística e profunda ligação ao seu povo, Liliʻuokalani simboliza até hoje a resistência feminina e cultural contra a opressão colonial.

A sua vida é marcada por contrastes: por um lado, uma princesa educada no seio da elite havaiana, com acesso a cultura e música; por outro, uma mulher que enfrentou golpes políticos e traições internas, mas que nunca deixou de lutar pela autonomia do seu povo.

Infância e educação de uma futura líder

Liliʻuokalani nasceu em Honolulu, numa época em que o Hawai era um reino independente, embora cada vez mais influenciado por interesses estrangeiros, sobretudo americanos e europeus. Como era tradição entre a nobreza havaiana, foi entregue a uma família de altos chefes para ser criada, prática conhecida como hānai.

Recebeu uma educação formal, aprendeu inglês e foi exposta à religião cristã, além de manter uma forte ligação às tradições e espiritualidade do seu povo. Esta combinação de culturas refletir-se-ia mais tarde na sua visão política e artística, tornando-a uma ponte entre dois mundos.

Liliʻuokalani e a música: a rainha compositora

Poucos monarcas na História foram também artistas reconhecidos. Liliʻuokalani destacou-se como compositora talentosa, autora de mais de 150 músicas e hinos, muitos deles inspirados na paisagem e espiritualidade havaiana.

A sua composição mais célebre é Aloha ʻOe, canção que se tornou símbolo do Hawai e ainda hoje é interpretada em todo o Mundo. A música, comovente e nostálgica, fala de despedidas e encontros, mas é também lida como uma metáfora para a separação do povo havaiano da sua soberania.

O caminho para o trono

Em 1877, após a morte do seu irmão, o rei Kalākaua, Liliʻuokalani tornou-se herdeira do trono havaiano. Quando este faleceu em 1891, ela ascendeu ao trono como rainha do Hawai.

O início do seu reinado foi turbulento. O poder político havaiano já estava enfraquecido devido à influência crescente de empresários americanos ligados à plantação de açúcar. Estes homens controlavam grande parte da economia e queriam alinhar o Hawai com os Estados Unidos para benefício próprio.

A Constituição da Rainha

Determinada a proteger a autonomia do arquipélago, Liliʻuokalani tentou implementar uma nova Constituição que devolvesse poder ao povo havaiano e limitasse a influência estrangeira. A Constituição em vigor, conhecida como “Bayonet Constitution” (Constituição da Baioneta), de 1887, tinha sido imposta sob ameaça militar ao rei Kalākaua e reduzia drasticamente o poder da monarquia, favorecendo estrangeiros residentes no Hawai.

A proposta da rainha, em 1893, foi recebida como uma ameaça direta pelos empresários americanos e pelos seus aliados políticos. Esta ousadia feminina, num mundo dominado por homens, mostrou a sua coragem e visão estratégica: uma mulher que queria recuperar a soberania para o seu povo.

O golpe de Estado de 1893

Em janeiro de 1893, um grupo de homens de negócios americanos, com o apoio dos fuzileiros navais dos Estados Unidos, organizou um golpe de Estado que depôs a rainha. Liliʻuokalani foi obrigada a abdicar, sob protesto, afirmando que o fazia apenas para evitar derramamento de sangue entre o seu povo.

A sua deposição marcou o fim da monarquia havaiana. Em 1898, os Estados Unidos formalizaram a anexação do Hawai, transformando o arquipélago em território americano.

Prisão e resistência pacífica

Após o golpe, Liliʻuokalani foi acusada de conspirar contra o novo Governo e acabou presa no Palácio ʻIolani, onde permaneceu sob vigilância durante quase oito meses. Durante esse período de confinamento, dedicou-se à escrita e à música.

Foi nesse contexto que compôs algumas das suas obras mais emocionantes e também que começou a escrever as suas memórias, publicadas em 1898 com o título “Hawaii’s Story by Hawaii’s Queen”. Nesse livro, a rainha deu voz à sua versão dos acontecimentos, denunciando as injustiças sofridas pelo seu povo e registando para a História a luta pela soberania.

O legado de Liliʻuokalani

A rainha Liliʻuokalani não conseguiu restaurar o trono nem impedir a anexação do Hawai. Contudo, o seu legado permanece vivo até hoje em várias dimensões:

  • Resistência feminina: foi uma mulher que, em pleno século XIX, desafiou interesses coloniais e se manteve firme nos seus princípios.
  • Identidade cultural: através da sua música, preservou e promoveu a língua e a cultura havaiana.
  • Símbolo político: ainda hoje, movimentos de soberania indígena havaiana evocam o seu nome e a sua memória como símbolo de luta e dignidade.

Liliʻuokalani como inspiração para mulheres

Além da sua importância histórica, Liliʻuokalani é uma figura de inspiração para mulheres de todo o Mundo. A sua trajetória mostra como a liderança feminina pode ser marcada pela coragem, pela diplomacia e pela defesa da identidade cultural.

A rainha havaiana enfrentou uma situação de grande adversidade – perder o trono, ser humilhada publicamente, viver o exílio dentro da sua própria terra – mas nunca deixou de lutar de forma pacífica e criativa. A sua postura ensina que a resistência pode assumir muitas formas, desde a política até à arte.

Liliʻuokalani morreu a 11 de novembro de 1917, em Honolulu, já sob domínio americano. Apesar de não ter recuperado o trono, a sua memória continua viva como símbolo de dignidade, cultura e força feminina.