Quando nos aceitamos: “Perfeitamente imperfeita”

Foto JillWellington - Pixabay

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Perfeitamente imperfeita

Durante muitos anos vivi desconectada da minha mente e do meu corpo. Simplesmente, não queria sentir a dor e a angústia que percorria todas as partes do meu ser. Eu estava tão fragilizada que não tinha coragem, nem forças, para mergulhar na dor e aceder ao cofre das memórias. Por isso, criei o super poder de ignorar a dor e de bloquear memórias. Isto permitiu-me avançar, mas não me trouxe felicidade, muito pelo contrário. Este comportamento, levou-me à exaustão e fez de mim uma pessoa infeliz, que vivia com medo de sentir. Já que não sentia amor, também não queria sentir medo, dor e angústia.

A exaustão levou a melhor e fui obrigada a mergulhar no oceano das emoções e a abrir a porta do passado. Ao observar as minhas memórias percebi que tudo o que fazia era com o intuito de ser perfeita. Queria ser perfeita e não aceitava que os seres humanos são imperfeitos. Não importava o preço a pagar, desde que ganhasse a medalha da filha perfeita, da aluna perfeita, da amiga perfeita , da neta perfeita, da menina perfeita.

Ao olhar para trás, vejo que o preço que paguei pela ilusão da perfeição foi muito elevado. Foi duro abandonar esta jornada para abraçar o caminho da imperfeição.

Aos poucos comecei a aceitar os meus erros e as minhas falhas. Esta tomada de consciência permitiu-me quebrar os grilhões da perfeição colocados por mim e fechados à chave pela sociedade.

Os meus melhores amigos passaram a ser o amor, a vulnerabilidade e a imperfeição. Juntos abrimos o baú das memórias e mergulhamos no mar agitado dos sentimentos e descobrimos a minha singularidade. O processo foi doloroso porque, para renascer, tive de encarar o medo, a dor, a culpa e a vergonha. Mais do que isso, tive de aceitar a minha história, perdoar-me a mim e aos outros e libertar-me do peso do passado.

Ao aceitar a minha história e os meus defeitos, consegui reunir a coragem e a força necessária para ser autêntica. Para ser suficiente . Para ser EU, sem máscaras.

Agora percebo que, para sentir que pertenço a algo, tenho de honrar a minha singularidade. Sempre pensei que o sentimento de pertença só existiria se fosse perfeita, servisse e agradasse. Como estava errada.

Acredito que nos devemos vestir de amor-próprio, aceitar a nossa imperfeição e a nossa vulnerabilidade e sobretudo respeitar a nossa autenticidade. O amor-próprio não aparece por magia, é preciso trabalhá-lo. Ele nasce no interior do teu ser e reside no facto de respeitares a tua essência e a tua verdade. Tens de nutrir o teu corpo e a tua mente com carinho, vitalidade, respeito, gratidão e genuinidade.

Atenção! É preciso ter uma dose extra de coragem para seguirmos o caminho da imperfeição e da autenticidade. Esta jornada passa por assumirmos quem somos sem disfarces, por impormos limites e por deixarmos a vulnerabilidade a descoberto. Sobretudo, é preciso ter coragem para cultivarmos a nossa verdade, nos dias difíceis, quando somos julgados e incompreendidos, quando temos medo de não ser suficientemente bons e merecedores.

Esta caminhada obriga-nos a sair da nossa zona de conforto. Vão existir momentos em que nos queremos voltar a colocar em caixinhas para sermos aceites. Mas, depois lembramo-nos do nosso caminho e da nossa missão e deixamos que o amor abrace o medo. Quando isto acontece deixamos que a nossa luz brilhe e que a nossa verdade ganhe voz.

A batalha pela tua autenticidade não vai ser fácil. Quando os momentos difíceis e os conflitos aparecerem, segue a tua intuição. Ela não falha! Deves-te estar a perguntar como é que consegues ouvir a tua intuição. Fácil! A tua intuição fica mais apurada quando investes em ti, quando és a tua prioridade, quando te conheces. A verdade é que ganhas clareza quando descobres as respostas para as perguntas “Quem sou?”, “Qual é a minha missão?”, “Quais são os meus valores?”, “Quais são os meus dons e talentos?”, “Qual é o meu papel no mundo?”.

Descobre mais sobre ti, honra a tua singularidade e conquista o mundo.

R.

Foto JillWellington ©Pixabay
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