Números que provavelmente não sabias sobre as mulheres de Portugal

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É o retrato das Mulheres em Portugal e são números que provavelmente não sabias… Saem de um estudo* da Fundação Francisco Manuel dos Santos, datado de maio de 2018, que apresenta números relativos a cerca de 2,7 milhões de mulheres, entre os 18 anos e os 64 anos, nas várias dimensões das suas vidas: o emprego, as horas de trabalho dedicadas à casa, a situação económica, a relação com a pessoa parceira, os filhos, o nível de felicidade, entre muitas outras. Quais os números que foram uma total surpresa para ti?

Título do estudo: “As mulheres em Portugal, hoje: quem são, o que pensam e como se sentem”.

Nota: todo este texto foi redigido com base nas declarações e conclusões contidas no estudo. Nada do que aqui está publicado advém da nossa opinião. Apenas demos destaque a alguns dos tópicos, em detrimento de outros, uma vez que o estudo tem mais de 400 páginas.

“Com base nos resultados decorrentes de um abrangente inquérito, procedeu-se a uma análise sustentada sobre as frentes que as mulheres têm na vida, o seu ciclo de vida e as dificuldades de conciliação sentidas pelas mulheres activas no mercado de trabalho. Com este estudo, a Fundação e a PRM Market Intelligence esperam contribuir para fomentar uma reflexão crítica e construtiva sobre os papéis desempenhados pelas mulheres e pelos homens na sociedade portuguesa”.

Foto: StartupStockPhotos © Pixabay
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O que é que aprendemos sobre quem são as mulheres, que hábitos têm e quais as formas de ser e atitudes perante a vida?

As mulheres costumam achar que as pessoas devem cumprir as regras, mesmo quando ninguém está a ver; costumam gostar muito de crianças e ser críticas e exigentes com elas próprias. Das dezoito questões relacionadas com formas de ser e atitudes perante a vida que se consideraram na investigação, estas três são as que suscitaram um maior consenso entre as mulheres. Nas quinze restantes, as opiniões são bastante mais diversas.

As formas de ser e atitudes perante a vida têm pouca relação com a idade. Identificaram‐se cinco tipos conforme as formas de ser e atitudes perante a vida das mulheres. Dos cinco tipos identificados, dois são os mais recorrentes: o relativo às que foram chamadas como «Conservadoras» e o das «Seguras‐Intolerantes». Os seguintes tipos mais recorrentes são os das mulheres que se denominaram «Reservadas» e «Liberais». O grupo mais reduzido é o das «Seguras‐Tolerantes». O único tipo cuja proporção oscila com a idade das mulheres é o das «Liberais» (parece que ao longo dos anos as mulheres se vão tornando pouco a pouco menos liberais).

Actualmente, uma esmagadora maioria de «filhas» tem um nível de escolaridade superior ao da mãe. Enquanto entre as mães das quase 2,7 milhões de mulheres que esta investigação representa, quase três quartos deixaram de estudar quando concluíram o ensino básico, entre as «filhas» esta situação é muito menos habitual (acontece

só com uma em cada quatro). Hoje em dia, o mais habitual é que as mulheres tenham passado pela universidade ou que tenham deixado de estudar, com 17 ou 18 anos, ao concluir o ensino secundário ou pós‐secundário.

As mulheres católicas estão a diminuir a favor das ateias e agnósticas. Entre as mulheres com mais de 27 anos, as que se declararam católicas (sejam ou não praticantes) situam‐se perto dos 75% enquanto entre as mais jovens, a proporção reduz‐se em mais de dez pontos, situando‐se em 63%. De facto, entre as mais jovens, as ateias e agnósticas são quase uma em cada três.

O tabaco e o álcool têm níveis de presença muito diferentes. Enquanto menos de um terço se declararam fumadoras, quase todas referiram ser consumidoras de bebidas alcoólicas. Contudo, a proporção das consumidoras habituais de tabaco e de álcool é similar: 22% declararam que costumam fumar mais de 20 cigarros por semana e 21% referiram que pelo menos uma vez por semana costumam beber dois ou mais tipos de bebidas alcoólicas.

A prática de alguma actividade física ou desporto é habitual entre as mulheres. Mais de metade declararam praticar algum desporto ou alguma actividade física pelo menos uma vez por semana. As que nunca praticam desporto ou actividade física situam‐se em menos de duas em cada dez.

De acordo com o índice de massa corporal que relaciona o peso com a altura, 43% têm excesso de peso. Entre elas, as que se podem considerar obesas são 15%. A situação é muito mais favorável entre as jovens. A imensa maioria das mulheres declara que se sente demasiado cansada, sempre ou quase sempre, o que é lógico se considerarmos o pouco tempo de que muitas mulheres dispõem para si próprias nos dias úteis/de segunda a sexta‐feira.

Uma em cada dez mulheres declara tomar diariamente medicamentos para a ansiedade, para os distúrbios do sono ou antidepressivos. As que nunca tomaram antidepressivos são 57% e as que nunca tomaram medicamentos para a ansiedade ou para os distúrbios do sono são ainda menos: 44%. Para aprofundar estas conclusões, ver páginas de 38 a 81.

Foto: MarCuesBo © Pixabay
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O que é que aprendemos sobre o ciclo da vida adulta das mulheres?

A partir da maioridade há três momentos que serão fundamentais na vida das mulheres: o dos 28 anos, o dos 35 anos e o dos 50 anos. À volta destes três momentos da vida, o que as mulheres pensam e sentem relativamente às várias «facetas» que afectam a sua vida é muito possível que sofra alguma evolução.
Na primeira fase do ciclo de vida adulta, em que a mulher tem entre 18 e 27 anos, as mulheres defrontam‐se com uma única frente ou com nenhuma das três. Com estas idades, a única ocupação de muitas mulheres centra‐se única e exclusivamente nos estudos e, portanto, dispõem de muito tempo para si próprias.

Na segunda fase do ciclo de vida adulta, entre os 28 e os 34 anos, o mais habitual é terem acrescentado uma ou duas frentes. As mais comuns a estas idades são a «frente trabalho pago» e a «frente vida em casal». Só duas em cada dez têm as três frentes na sua vida. Esta é a faixa de idade em que as mulheres se sentem, em geral, mais felizes com a sua vida e com as diferentes «facetas» que a integram.
Os anos que decorrem entre os 35 e os 49 definem a fase do ciclo de vida mais complicada, dado que 40% têm na vida as três frentes. Nesta fase do ciclo de vida as mulheres sentem‐se menos felizes que na fase anterior com todas as «facetas» da sua vida, com uma única excepção: o pai.

Imagem: mohamed_hassan © Pixabay
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Nesta faixa entre os 35 e os 49 anos, as mulheres não só enfrentam o período mais complexo no que diz respeito à acumulação de frentes como, além disso, a maioria das frentes já não está na fase inicial: quase metade está no trabalho pago há mais de 10 anos, dois terços estão há mais de 10 anos com o companheiro/a com quem vivem e os filhos/as deixaram para trás a fase de criança e aproximam‐se da adolescência.
A partir dos 50 anos, algumas mulheres simplificam a vida pondo algum «travão» ou «deixando absolutamente» o que foi o trabalho pago até esse momento ou então o companheiro com quem viveram até essa altura. Nestas idades, a felicidade com algumas «facetas» da sua vida é recuperada relativamente à fase do ciclo de vida anterior.

No que se refere ao momento vital em que é costume acrescentar cada frente: a primeira é a «frente trabalho pago» (as mulheres entraram no mercado de trabalho aos 20 anos, em média); segue‐se a «frente vida em casal» (saíram de casa dos pais com 23 anos, em média) e a terceira é a «frente dos/das filhos/as» (foram mães aos 27 anos, em média).
No que respeita à sequência de incorporação de frentes, o ciclo de vida das mulheres que têm um nível de estudos elevado é muito diferente do que o apresentado por aquelas que têm um nível de estudos inferior.

O ciclo de vida das mulheres mais instruídas costuma começar com a «frente trabalho pago». Mais para diante, muitas acrescentam a «frente vida em casal» e numa terceira fase, se decidem ser mães, abrem‐se duas possibilidades: manter as três frentes ou desligar‐se do companheiro e passar a fazer parte da tipologia «trabalho pago e filhos/as». Entre as menos instruídas, a principal diferença radica no facto de que a situação «frente trabalho pago» está bastante ausente ou é precária e, portanto, muitas mulheres com poucos estudos passam directamente da situação de «nenhuma frente» à de «só vida em casal». Quando são mães, também se abrem duas opções: ou manter as duas, a «frente vida em casal» e a «frente filhos/as» ou deixar o companheiro e passar à tipologia «só filhos/as». Para aprofundar estas conclusões, ver páginas de 288 a 301.

Dia Internacional da Mulher
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FELICIDADE

O que é que aprendemos sobre até que ponto as mulheres se sentem felizes com cada uma das «facetas» da sua vida e o que é que influencia mais a sua felicidade global?

“O limiar entre mulheres felizes e infelizes com a vida situa‐se em 8. Chegámos a esta conclusão visto que, entre as mulheres cuja vida está de acordo com as suas expectativas, a felicidade com a vida é de 8, em média, na escala de 0 a 10 utilizada, em que 10 equivale a sentirem‐se muito felizes com a vida e 0 a não se sentirem nada felizes com a vida.

Quase metade das mulheres sentem‐se felizes ou muito felizes com a vida (47%) apesar de muitas reconhecerem que não satisfizeram as expectativas que criaram sobre como seria a sua vida. No entanto, uma em cada três mulheres sente‐se infeliz com a vida (33%).

As relações interpessoais são as «facetas» da vida que proporcionam maior felicidade às mulheres. Entre as quinze «facetas» da sua vida que foram avaliadas, há seis com as quais a maioria das mulheres se sente feliz, cinco com as quais se sente quase feliz e quatro com as quais a maioria das mulheres se sente infeliz. As «facetas» com as quais as mulheres se sentem, em geral, felizes, por ordem de maior a menor nível de felicidade são: os/as filhos/as, os/as netos/ as, os amigos, as amigas, o/a companheiro/a, e a mãe. Aquelas com as quais as mulheres se sentem, em geral, quase felizes são: as/os irmãs/ irmãos, o pai, a saúde, o sogro e a sogra. Aquelas em que o mais habitual é que as mulheres não se sintam felizes são: o tempo de que dispõem para si e para os seus passatempos, os/as filhos/as que o/a companheiro/a tem de relacionamentos anteriores, o trabalho pago e o aspecto físico.

A idade tem uma clara influência sobre a felicidade das mulheres. O período mais complicado é o que decorre entre os 35 e os 49 anos. Das «facetas» da vida das mulheres consideradas, as que costumam ser sensíveis à idade são oito: sendo que as que sofrem uma influência negativa com a idade (cinco) são quase o dobro das que a sofrem positiva (três). As cinco «facetas» em que o decurso dos anos costuma implicar uma diminuição da felicidade das mulheres são: “o/a companheiro/a”, a “mãe”, “os/as irmãos/ãs”, “as amigas” e “a sogra”. As três «facetas» que com o tempo costumam melhorar quanto à felicidade percebida são: “o trabalho pago”, “o tempo de que dispõe para si e para os seus passatempos” e “o aspecto físico”.

A sensação de felicidade das mulheres também é influenciada pelo nível de escolaridade. Apesar de este não parecer contribuir muito para o aumento do número de mulheres que se sentem muito felizes com a vida, no entanto, contribui para a redução das que se sentem infelizes com a vida. As «facetas» da vida das mulheres que costumam ser sensíveis ao nível de escolaridade são cinco, das quais, contrariamente ao que acontece com a idade, todas o são em sentido positivo. Estas «facetas» em que as mulheres com mais estudos se sentem, em média, um pouco mais felizes do que as menos instruídas são: “o aspecto físico”, “a saúde”, “o/a companheiro/a”, “o trabalho pago” e “a sogra”.

Das três frentes que as mulheres podem decidir juntar ou não à vida, “o/a companheiro/a” é a que tem a máxima capacidade de influenciar, positiva ou negativamente, a sua felicidade com a vida no seu conjunto. De todas as «facetas» e de todos os critérios que se utilizaram para classificar as mulheres nesta investigação, são três as que têm a maior capacidade de influenciar a felicidade das mulheres com a vida: 1) o companheiro/a com quem decidiram partilhar a vida ou que decidiram não ter, 2) o seu aspecto físico e bem‐estar e 3) as relações que mantêm com a «família de origem» (a mãe, o pai e os irmãos ou as irmãs). Num segundo nível, também têm alguma capacidade de influenciar na felicidade das mulheres com a vida: o «trabalho pago», se «alguma vez passaram por alguma situação de assédio no trabalho ou de violência doméstica e de género» e «as dificuldades que têm para fazer o dinheiro chegar até ao fim do mês».  Para aprofundar estas conclusões, ver páginas de 326 a 359.

Foto MabelAmber ©Pixabay
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O que as mulheres que não têm companheiro/a valorizam na pessoa parceira ideal

Entre as mulheres que hoje não têm companheiro/a mas que, no entanto, têm experiência de vida em casal (14%), os aspectos
do casal que mostraram ser mais relevantes na pessoa parceira ideal são: a “sinceridade”, que tenha “sentido de humor/capacidade de fazê‐la rir”, a “fidelidade” e que seja “carinhoso e atencioso”. A “fidelidade” coincide, com o que se referiu atrás, entre as mulheres que vivem com um homem, com o aspecto do casal que mais capacidade tem para gerar mulheres que se sentem infelizes com o companheiro, caso ele não lhe seja fiel. E que seja “carinhoso e atencioso” coincide, também com o que se referiu atrás, com o único traço do companheiro que demonstrou ter capacidade para gerar mulheres que tanto se sentem muito felizes com o homem com quem vivem, caso ele seja muito carinhoso e atencioso com ela, como infelizes se ela crê que ele não é carinhoso nem atencioso. Portanto, a experiência frustrada de vida em casal destas mulheres corrobora as avaliações que fizeram as que hoje estão a viver com um homem.

Das mulheres que não têm companheiro e nunca viveram com ninguém (11%), a pessoa parceira ideal que imaginam é praticamente igual à das que têm experiência de viver com um homem.

79% DAS MULHERES JÁ NÃO VIVEM EM CASA DOS PAIS

1/3 Das que vivem em casa dos pais, diz não ter intenção de sair

39% DAS MULHERES TÊM O ENSINO SUPERIOR

E uma esmagadora maioria de «filhas» tem um nível de escolaridade superior ao das mães. Enquanto quase 3/4 das mães das mulheres que esta investigação representa deixaram de estudar quando concluíram o ensino básico, entre as «filhas» esta situação é muito menos habitual (1/4). Hoje em dia, o mais habitual é que as mulheres tenham passado pela universidade ou que tenham deixado de estudar ao concluir o ensino secundário ou pós-secundário.

29% DAS MULHERES SÃO FUMADORAS

E 43% referem ser consumidoras frequentes de bebidas alcoólicas. Quantos aos medicamentos para a ansiedade ou para os distúrbios do sono, 1 em cada 5 mulheres diz tomar frequentemente (1 ou mais vezes por semana)

43% DAS MULHERES TÊM EXCESSO DE PESO
Ainda que 53% sejam praticantes frequentes de alguma actividade física.

73% DAS MULHERES INQUIRIDAS TÊM UMA PESSOA PARCEIRA
57% Vive com a pessoa parceira

Síntese da experiência de vida em casal:

Se fizermos uma classificação considerando de forma conjunta a actual situação de relacionamento das mulheres e o número de companheiros/as com que viveram no passado, vemos que o mais habitual (36%) é “estar a viver com o primeiro companheiro/a”, o seguinte mais frequente é “estar a viver com um companheiro/a que não é a primeira experiência em casal” (21%) ou “ nunca ter vivido com alguém” (19%). As duas situações menos comuns são: “ter vivido no passado com alguém, e agora viver sozinha” (14%) e “viver sozinha tendo vivido com mais de um/a companheiro/a no passado” (10%).

Número de experiências de vida em casal, quando e porque é que acabou a última relação entre as mulheres que viveram com alguém no passado:

Entre as mulheres que já viveram com alguém no passado, mas hoje não têm companheiro nem companheira, que são 14%, o mais habi tual é ter tido uma única experiência de convivência em casal no passado, e estar há mais de dois anos sem viver com ninguém. A principal causa na origem da separação é que a relação foi‐se apagando pouco a pouco/houve distância entre eles (é a causa referida por 44%). A causa seguinte na origem da separação é a violência doméstica e de género, nalguma das suas variantes, que afectou 26% das separações. Em terceiro lugar, a infidelidade do companheiro: 20% declararam que o companheiro conheceu outra pessoa.

Foto: jerrykimbrell10 ©Pixabay
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71% DAS MULHERES INQUIRIDAS TEM TRABALHO PAGO
10% Estão desempregadas mas activamente à procura de emprego

“Ter trabalho pago é o mais habitual entre as mulheres que residem em Portugal: 71% das mulheres objecto deste estudo estão activas no mercado de trabalho. Metade destas (51%) declara que está infeliz com o trabalho”.

“Em geral, as mulheres demonstram pouco entusiasmo pelo trabalho pago. Das que estão activas no mercado de trabalho, mais de um terço (36%) manifesta que se não precisasse de dinheiro, não trabalharia. No extremo oposto, as que demonstraram entusiasmo pelo trabalho pago são 23%, dado que afirmam que trabalhariam mesmo se não precisassem de dinheiro. O entusiasmo pelo trabalho pago é crescente com o nível de escolaridade da mulher: entre as que têm mestrado ou doutoramento chega a ser 30%, que é exactamente o dobro do que acontece entre as que só têm o ensino básico.”

“O que as mulheres desejam no seu trabalho ideal vai evoluindo com a idade, em função de como evolui a sua vida pessoal ou familiar. A partir dos 28 anos, o facto de poder «conciliar bem o trabalho pago com a vida pessoal ou familiar» torna-se a questão mais relevante para uma esmagadora maioria das mulheres. A partir do momento em que fazem 50 anos, esta questão perde relevância, passando a ocupar a quarta posição no ranking de prioridade.”

“As mulheres que se sentem mais felizes com o seu trabalho pago são: as «proprietárias de algum negócio/empresa», as «directoras/chefes de departamento/conselho de administração» e as «trabalhadoras independentes qualificadas». Em geral, há uma elevadíssima relação entre as facilidades que se têm para conciliar o trabalho pago com a vida pessoal/familiar e o grau de felicidade com o trabalho pago. As únicas excepções são: as «proprietárias de algum negócio/empresa» e as «directoras/chefes de departamento/conselho de administração» que se sentem felizes com o trabalho apesar das dificuldades que têm para o conciliar com a vida familiar.”

“Independentemente dos níveis de rendimento, as mulheres sentem-se mais felizes com o trabalho pago quando conseguem «compatibilizá-lo bem com a vida pessoal/familiar». Este facto torna-se evidente quando constatamos que as mulheres que conseguem compatibilizar bem o trabalho pago com a vida pessoal/familiar se sentem mais felizes com o trabalho pago do que as mulheres que têm dificuldades em compatibilizá-los, apesar de auferirem rendimentos superiores.”

Imagem: ArtsyBee ©Pixabay
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O TRABALHO NÃO PAGO

Chegar a casa é fazer um novo turno de trabalho? Como é a partilha de tarefas domésticas e do cuidado dos filhos entre o casal? Será esta geração assim tão diferente da anterior?

56% DO TEMPO QUE AS MULHERES PASSAM ACORDADAS EM CASA É DEDICADO A TRABALHO NÃO PAGO (DA CASA E DOS FILHOS)
Isto traduz-se em 3H48 por dia, nos dias úteis.

“A situação de desequilíbrio entre os dois membros do casal intensifica-se se considerarmos a outra parte das responsabilidades familiares: as despesas da família. Muitas mulheres assumem um papel activo na contribuição para as despesas familiares enquanto a maioria dos homens continua a manter um papel muito passivo no desempenho das tarefas relativas à casa e aos filhos. Se compararmos a divisão das responsabilidades familiares constatamos que, do trabalho não pago, as mulheres assumem-no sozinhas em 30% dos casos, e 43% assumem mais do que os companheiros (ou seja em 73% dos casos elas fazem mais do que eles). Já no que toca à contribuição para as despesas familiares, 54% dos casais reparte as despesas equitativamente, em 27% dos casos os homens contribuem com mais dinheiro e em 19% deles as mulheres contribuem com mais dinheiro”.

A grande maioria das mulheres tem de fazer face às tarefas domésticas. O trabalho que deriva das tarefas domésticas é uma questão que está ligada ao facto de residir na própria casa. De facto, mais de três quartos das mulheres encontram‐se nesta situação (73% vivem na própria casa e 3% num apartamento de estudantes ou com pessoas amigas).
As mulheres destinam mais de metade do tempo que estão em casa acordadas a fazer o trabalho não pago que resulta da higiene e manutenção da casa onde vivem e do cuidado e educação dos filhos/as, se é que os têm. Esta proporção mantém‐se quase igual quer a mulher esteja activa no mercado de trabalho (57%, em média) quer não tenha trabalho pago (52%, em média).

Quando uma mulher tem algum filho/a pequeno/a, fica praticamente sem tempo para ela. Das que têm algum filho com 5 anos ou menos, do tempo que estão em casa acordadas, dedicam 46% ao/à filho/a, 35% às tarefas domésticas, e 1% ao cuidado de netos/as ou pessoas dependentes, donde se infere que o conjunto do trabalho não pago requer 82% do tempo que elas estão em casa acordadas. Nesta situação, o tempo para si próprias fica reduzido a menos de uma hora por dia (em média: 54 minutos).

A ajuda externa remunerada com que contam é muito reduzida. Menos de dois em cada dez casais (15%) tem algum tipo de ajuda remunerada para efectuar as tarefas domésticas. Entre eles, os que têm ajuda a tempo inteiro são só 2%. Entre os que têm ajuda, esta realiza, em média, menos de um quarto das tarefas domésticas e, portanto, sobra para a mulher, ou para ela e o companheiro, se é que o têm, os mais de três quartos restantes.

Imagem: Clker-Free-Vector-Images © Pixabay
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Na execução das tarefas domésticas, as mulheres suportam mais do triplo de trabalho que o companheiro. A mulher efectua, em média, 74% das tarefas domésticas, enquanto o homem com quem vive efectua, em média, 23%. Os 3% restantes são feitos pela ajuda externa remunerada. Os casais que se podem considerar «simétricos» na distribuição destas tarefas são menos de um terço (30%). Nos restantes mais de dois terços, elas fazem mais ou muito mais do que o companheiro. Entre os casais em que a mulher tem trabalho pago, os «casais simétricos» apenas aumentam três pontos, situando‐se em 33%.

No cuidado e educação dos/das filhos/as, as mulheres também suportam mais do triplo de trabalho que o pai. A mulher ocupa‐se, em média, de 73% das tarefas relativas ao cuidado e educação dos/ das filhos/as e o pai de 21%. Dos 6% restantes ocupam‐se os familiares ou a ajuda remunerada. Os casais com filhos/as que se podem considerar «equilibrados» no que diz respeito ao cuidado dos/das filhos/as são mais de um terço (35%). Entre os casais em que a mulher tem trabalho pago, os «casais simétricos» no que diz respeito ao cuidado dos/das filhos/as aumentam quase dez pontos, situando‐se em 43%. Ambas as situações são um pouco mais favoráveis do que no que diz respeito às tarefas domésticas.

Ao ritmo que, na última geração, evoluiu a contribuição do homem para a execução das tarefas domésticas, faltam entre cinco e seis gerações para que se igualem as posições da mulher e do homem nos casais em que ambos trabalham fora de casa. Nos casais mais jovens em que a mulher tem entre 18 e 40 anos, o homem suporta uma carga ligeiramente superior à que suportam os que têm uma mulher com mais de 40 anos (26%, em média, os primeiros, e 22% os segundos). No entanto, no que diz respeito à contribuição do pai para o cuidado e a educação dos/das filhos/as, não houve nenhuma evolução na última geração.

As mulheres que não vivem em casal ou que não têm filhos/as, são optimistas relativamente ao peso que imaginam que sobre elas recairá dos trabalhos não pagos da casa e dos/das filhos/as se o compararmos com a realidade com que se estão a enfrentar as que vivem com o companheiro ou têm filhos/as, tanto quanto à ajuda que pensam que terão como no que diz respeito a como imaginam que seria a distribuição destas tarefas com o companheiro. No entanto, a distribuição que elas imaginam não é sequer uma situação de equilíbrio: pensam que elas farão, em média, 63% das tarefas domésticas e 61% das tarefas relativas ao cuidado e educação dos/das filhos/as. Portanto, para começar, estão a assumir que elas farão quase o dobro do companheiro.

A situação de desequilíbrio entre os dois membros do casal piora ainda mais se se considerar a outra parte integrante das responsabilidades familiares: as despesas da família. Acontece que muitas mulheres assumiram um papel activo na contribuição para as despesas familiares enquanto a maioria dos homens continua a manter um papel muito passivo no que se relaciona com as tarefas não pagas da casa e dos/das filhos/as. Entre os casais em que a mulher é activa no mercado de trabalho, aqueles nos quais o contributo da mulher é igual ou maior do que o dele são 98% em termos de horas de trabalho não pago e 73% em termos das despesas familiares. No entanto, aqueles casais nos quais o contributo do homem é igual ou maior do que o dela, são apenas 27% no que diz respeito às horas de trabalho não pago e 81% se tivermos em conta as despesas familiares. Para aprofundar estas conclusões, vejam‐se páginas 204 a 251.

Foto: pasja1000 © Pixabay
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Conclusões
“As mulheres destinam mais de metade do tempo que estão em casa acordadas a fazer o trabalho não pago que resulta da casa onde vivem e do cuidado e educação dos filhos, se é que os têm. Esta proporção mantém-se quase igual estando a mulher activa no mercado de trabalho (57%, em média) ou não tendo trabalho pago (52%, em média)”.

“Quando uma mulher tem algum filho pequeno, fica praticamente sem tempo para ela. Do tempo que estão em casa acordadas, as mulheres que têm algum filho com 5 anos ou menos, dedicam 46% ao filho, 35% às tarefas domésticas, e 1% ao cuidado de netos ou pessoas dependentes, donde se infere que o conjunto dos trabalhos não pagos requerem 82% do tempo que elas estão em casa acordadas. Nesta situação, o tempo para si próprias fica em menos de uma hora por dia (54 minutos)”.

“Na execução das tarefas domésticas, as mulheres (as que têm trabalho pago e as que não o têm) suportam mais do triplo de trabalho que o companheiro. A mulher efectua, em média, 74% das tarefas domésticas, enquanto o homem com quem vive efectua, em média, 23%. Os 3% restantes são feitos pela ajuda externa remunerada. Os casais que se podem considerar «simétricos» na distribuição destas tarefas são menos de um terço (30%). Nos restantes mais de dois terços, elas fazem mais ou muito mais do que o companheiro”.

“No cuidado e educação dos filhos, as mulheres também suportam mais do triplo de trabalho que o pai. A mulher ocupa-se, em média, de 73% das tarefas relativas ao cuidado e educação dos filhos e o pai de 21%. Dos 6% restantes ocupam-se os familiares ou a ajuda remunerada. Os casais com filhos que se podem considerar «simétricos» no que diz respeito ao cuidado dos filhos são 35%”.

“Ao ritmo que, na última geração, evoluiu a contribuição do homem para a execução das tarefas domésticas, faltam entre cinco e seis gerações para que se igualem as posições da mulher e do homem nos casais em que ambos trabalham fora de casa. Nos casais mais jovens em que a mulher tem entre 18 e 40 anos, o homem suporta uma carga ligeiramente superior à que suportam os que têm uma mulher com mais de 40 anos (26%, em média, os primeiros, e 22% os segundos). No entanto, no que diz respeito à contribuição do pai para o cuidado e a educação dos filhos, não houve nenhuma evolução na última geração”.

Mãe e filha © Pixabay
Mãe e filha © Pixabay

53% DAS MULHERES INQUIRIDAS TÊM FILHOS/AS
1/4 Das mães em idade fértil declara ter menos filhos do que gostaria de ter

Motivos pelos quais as mulheres não têm o número de filhos que queriam ter:
– Uma em cada quatro mulheres em idade fértil (dos 18 aos 49 anos) e com filhos, declara que tem menos filhos do que queria ter. O principal motivo referido para não ter o número de filhos desejado é “porque a situação económica não lhes permite”. O segundo aspecto indicado é “porque nunca encontravam o momento adequado e agora já é tarde”.

“Nem todas as mulheres querem ser mães: 9% referem que nunca quiseram ter descendência. E não é uma questão de idade, uma vez que a percentagem de mulheres que não querem ser mães é praticamente a mesma independentemente de estarem em idade fértil ou não”.

Ter filhos não é nenhuma garantia para a mulher se sentir feliz com a sua vida.
Entre as mulheres que foram mães, os filhos são a «faceta» da vida que ocupa a primeira posição no seu ranking de felicidade. No entanto, a felicidade que experimentam com a maternidade está muito pouco relacionada com quão felizes se sentem nos restantes aspectos da vida. Por conseguinte, os filhos têm pouca influência para as mulheres se sentirem felizes ou infelizes com a sua vida em geral”.

“Com este inquérito a equipa de investigação tentou perceber o grau de realização das mulheres com a maternidade, em Portugal. 18% das mães declararam que a maternidade não foi o que esperavam. De entre estas, 13% afirmaram que voltariam a ter filhos, apesar de não se sentirem felizes por serem mães, se tivessem tido acesso a todas as informações das quais dispõem hoje antes de terem tido descendentes. A estas mulheres, que definimos como «mães não realizadas», juntam-se as que não teriam tido filhos caso tivessem sabido o que as esperaria, tendo sido, por isso, catalogadas de «mães arrependidas» (5%).
Finalmente, 82% das mães podem ser descritas como «realizadas», uma vez que voltariam a ter os seus filhos e estão felizes com a maternidade”.

27% DAS MULHERES TÊM FILHOS, VIVEM COM A PESSOA PARCEIRA E TÊM TRABALHO PAGO
Das mulheres que têm trabalho pago 39% têm algum filho menor

©Free-Photos Pixabay
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VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E DE GÉNERO

Quantas mulheres já sofreram de violência doméstica e de género? Esta violência é apenas física ou também se manifesta de outras formas? E os seus filhos? O assédio no local de trabalho também é uma realidade enfrentada pelas mulheres?

33% DAS MULHERES INQUIRIDAS PASSARAM POR ALGUMA SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA

12% Passaram por alguma situação de violência física Sabe mais aqui.

NOTA
*Nesta investigação foram consideradas as mulheres que residem em Portugal e que, tendo entre 18 e 64 anos, utilizam a internet de forma regular. De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), das mulheres com idades compreendidas entre 18 e 64 anos que residem em Portugal, 81% são utilizadoras regulares da internet. Por conseguinte, a equipa de investigação criou uma amostra de 2428 mulheres, entre os 18 e os 64 anos, que deverão representar 2,7 milhões de mulheres residentes em Portugal.

Na fase de concepção desta investigação optou-se por excluir do âmbito deste estudo as mulheres de 17 anos ou menos, por se considerar que até aos 18 anos os principais responsáveis pelas decisões mais relevantes para as suas vidas tenderão a ser a mãe, o pai, ou ambos. O limite superior de idade foi estabelecido em 64 anos, porque a utilização da internet é actualmente muito reduzida entre as mulheres com 65 anos ou mais. Por considerar que alguns dos assuntos a tratar no questionário eram do foro íntimo, a equipa de investigação decidiu efectuar estas entrevistas pela internet, para maximizar o grau de sinceridade das inquiridas. A duração do preenchimento do questionário variou bastante consoante a situação pessoal e familiar de cada mulher. Em média, as estudantes que ainda vivem em casa dos pais demoraram cerca de 20 minutos a responder, enquanto as mulheres que têm uma pessoa parceira, que têm filhos, e que têm trabalho pago, necessitaram de cerca de uma hora.

*As entrevistas foram realizadas durante o mês de Maio de 2018. Todo o estudo pode ser lido aqui.