Mary Wollstonecraft: A Voz Rebelde do Iluminismo

Mary Wollstonecraft por John Opie (c.1797)

Projeto “52 Mulheres em 2025 – MEV, MulheresEmViagem.pt”. A história de uma mulher, por cada semana do ano. Durante o ano de 2025, o MulheresEmViagem.pt faz uma homenagem a Mulheres de todo o Mundo, de vários países, de várias áreas de formação, que se tornaram referências. Algumas já não estão entre nós, mas muitas outras ainda estão a transformar o nosso mundo, dia após dia, com o seu esforço e trabalho por um mundo mais igualitário! Por um mundo com mais referências femininas, sobretudo em áreas que nos estiveram vedadas durante séculos (milénios, por vezes…).

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Introdução: Uma Mulher à Frente do Seu Tempo

Mary Wollstonecraft nasceu em Londres, a 27 de abril de 1759, numa época em que as mulheres eram silenciadas, ignoradas ou limitadas ao espaço doméstico. Apesar das circunstâncias adversas, Wollstonecraft destacou-se como uma das primeiras vozes femininas a reclamar igualdade de direitos, especialmente no campo da educação e da participação cívica.

A sua obra mais conhecida, A Vindication of the Rights of Woman (1792), é ainda hoje uma referência incontornável na história do feminismo e do pensamento político moderno.

Origens e Primeiros Passos

Filha de um pai violento e instável financeiramente, Mary teve uma infância marcada por mudanças constantes e insegurança. Essa experiência moldou profundamente a sua visão crítica sobre a autoridade patriarcal e a injustiça social.

Desde cedo, procurou a independência, trabalhando como governanta, professora e escritora. Com pouco acesso à educação formal, foi autodidata, mergulhando na filosofia, literatura e política com uma fome insaciável de conhecimento.

Uma Escritora com Propósito

Wollstonecraft começou por escrever artigos, contos e livros infantis, mas foi em 1790, com “A Vindication of the Rights of Men“, que se lançou no debate político. Esta obra foi uma resposta ao político conservador Edmund Burke, que criticava a Revolução Francesa.

Mary defendeu com veemência os ideais de Liberdade, Igualdade e Racionalidade. Dois anos depois, escreveu A Vindication of the Rights of Woman, onde argumentava que as mulheres não eram naturalmente inferiores aos homens, mas sim tornadas inferiores pela falta de educação.

Educação e Igualdade: As Pedras de Toque do Pensamento de Mary

Para Wollstonecraft, a educação era o caminho para a emancipação feminina. Acreditava que mulheres e homens deveriam ser educados juntos, num ambiente de respeito mútuo e estímulo intelectual.

Contestava a ideia dominante de que as mulheres deviam ser apenas esposas e mães dóceis, e defendia que elas tinham o direito de pensar, opinar e contribuir para a sociedade de forma ativa.

Viagens, Amor e Contradições

A vida de Mary não foi isenta de controvérsias. Viajou sozinha para a França durante a Revolução e apaixonou-se por Gilbert Imlay, com quem teve uma filha fora do casamento — um escândalo para a época.

Mais tarde, casou-se com o filósofo William Godwin, com quem teve outra filha: Mary Shelley, futura autora de Frankenstein.

Mary Wollstonecraft morreu poucos dias após o parto, em 1797, aos 38 anos, deixando uma obra inacabada e um legado imortal.

Legado e Reabilitação

Durante o século XIX, a reputação de Mary foi manchada por relatos da sua vida pessoal, divulgados pelo próprio Godwin, que publicou uma biografia póstuma bastante reveladora.

No entanto, no século XX, a sua figura foi sendo recuperada como símbolo de resistência, coragem intelectual e pioneirismo feminista. Hoje, é considerada uma das fundadoras do pensamento feminista moderno.

Curiosidades sobre Mary Wollstonecraft

A sua filha, Mary Shelley, autora de Frankenstein, também se tornou uma figura literária revolucionária.

Foi uma das primeiras mulheres a viajar sozinha para fins intelectuais, algo praticamente inédito no século XVIII.

O seu nome está inscrito no Panteão dos Direitos Humanos, e inspirou movimentos feministas em vários países.

Em 2020, foi erguida uma estátua em sua homenagem em Londres, após anos de campanhas para reconhecer o seu contributo.

Escreveu sobre temas como maternidade, moralidade, sexualidade e política com uma frontalidade rara para a época.

Mary Wollstonecraft não foi apenas uma mulher que escreveu sobre os direitos das mulheres — foi uma mulher que ousou vivê-los, mesmo que isso lhe custasse o conforto, a estabilidade ou a aceitação social.

Num mundo que ainda hoje debate a igualdade de género, a sua voz continua atual, provocadora e necessária.

Mary Wollstonecraft por John Opie (c.1797)
Mary Wollstonecraft por John Opie (c.1797)