Projeto “52 Mulheres em 2025 – MEV, MulheresEmViagem.pt”. A história de uma mulher, por cada semana do ano. Durante o ano de 2025, o MulheresEmViagem.pt faz uma homenagem a Mulheres de todo o Mundo, de vários países, de várias áreas de formação, que se tornaram referências. Algumas já não estão entre nós, mas muitas outras ainda estão a transformar o nosso mundo, dia após dia, com o seu esforço e trabalho por um mundo mais igualitário! Por um mundo com mais referências femininas, sobretudo em áreas que nos estiveram vedadas durante séculos (milénios, por vezes…).
Infância à Beira-Mar
Mary Anning nasceu a 21 de maio de 1799, na vila costeira de Lyme Regis, em Dorset, Inglaterra. Filha de um marceneiro, cresceu entre os penhascos e praias da Costa Jurássica, uma região rica em fósseis que mais tarde se tornaria Património Mundial da UNESCO. Desde cedo, Mary acompanhava o pai nas suas explorações fossilíferas, uma atividade que se tornava essencial para complementar os parcos rendimentos da família.
A infância de Mary foi marcada por dificuldades. Dos dez irmãos, apenas ela e o irmão Joseph sobreviveram à infância. O pai morreu quando ela tinha apenas 11 anos, deixando a família em sérias dificuldades financeiras. Mesmo sem acesso a uma educação formal. Mary demonstrou uma inteligência invulgar e uma profunda curiosidade pelo mundo natural.
A Descoberta do Ictiossauro
A vida de Mary mudou radicalmente aos 12 anos, quando, junto com o irmão Joseph, descobriu o primeiro esqueleto completo de um ictiossauro — uma criatura marinha Pré-Histórica, com mais de 5 metros de comprimento. Esta descoberta, feita em 1811, despertou o interesse da comunidade científica britânica e marcou o início de uma carreira notável de Mary, como paleontóloga amadora.
Na época, o conceito de extinção era ainda controverso e muitos cientistas acreditavam que os fósseis eram apenas formações rochosas peculiares. As descobertas de Mary, no entanto, viriam a transformar radicalmente essa visão.
Reconhecimento Tardio
Apesar das suas contribuições inegáveis à paleontologia, Mary Anning enfrentou inúmeros obstáculos por ser mulher e de classe baixa. A ciência era um território quase exclusivamente masculino, e as mulheres não tinham acesso a sociedades científicas nem a publicações académicas.
Mary vendia os fósseis a colecionadores, museus e cientistas, que muitas vezes publicavam os resultados como sendo seus, sem qualquer crédito a Anning. Ainda assim, figuras influentes como Henry De la Beche, Richard Owen (fundador do Museu de História Natural de Londres) e Charles Lyell reconheceram a profundidade dos seus conhecimentos.
Entre as suas descobertas mais importantes encontram-se os primeiros esqueletos completos de plesiossauro e pterossauro encontrados no Reino Unido, além de inúmeros fósseis de amonites e belemnites.
Legado Científico e Cultural
Mary Anning faleceu em 1847, vítima de um cancro da mama, aos 47 anos. Morreu pobre e com pouco reconhecimento, mas a sua reputação cresceu ao longo do século XX. Hoje, é considerada uma das figuras mais influentes da paleontologia, símbolo de perseverança, curiosidade científica e superação social.
Em 2010, a Royal Society incluiu Mary Anning na lista das dez britânicas mais influentes da história da Ciência. Em 2020, foi inaugurada uma estátua sua em Lyme Regis, graças a uma campanha liderada por uma menina de 11 anos — um tributo tocante à inspiração que Mary continua a exercer nas novas gerações.
Curiosidades sobre Mary Anning
A famosa frase inglesa “She sells seashells by the seashore” foi inspirada em Mary Anning e no seu trabalho de venda de fósseis na praia.
Apesar de nunca ter frequentado a universidade, Mary dominava Anatomia Comparada e Geologia, lendo avidamente os livros que lhe emprestavam.
Charles Dickens escreveu sobre ela, elogiando a sua coragem e inteligência.
A sua cadela, Tray, acompanhava-a nas escavações e morreu tragicamente num deslizamento de terras enquanto protegida Mary.
Em 2020, o filme “Ammonite”, com Kate Winslet no papel de Mary Anning, trouxe a sua história ao grande público.

Pioneer fossil collector of Lyme Regis, Dorset. Oil painting by an unknown artist, before 1842. Golden Cap is visible in the background. Held at the Natural History Museum, London.