Projeto “52 Mulheres em 2025 – MEV, MulheresEmViagem.pt”. A história de uma mulher, por cada semana do ano. Durante o ano de 2025, o MulheresEmViagem.pt faz uma homenagem a Mulheres de todo o Mundo, de vários países, de várias áreas de formação, que se tornaram referências. Algumas já não estão entre nós, mas muitas outras ainda estão a transformar o nosso mundo, dia após dia, com o seu esforço e trabalho por um mundo mais igualitário! Por um mundo com mais referências femininas, sobretudo em áreas que nos estiveram vedadas durante séculos (milénios, por vezes…).
Uma infância fora do comum
Nascida a 16 de maio de 1718, em Milão, Maria Gaetana Agnesi foi uma criança prodígio que rapidamente se destacou num mundo dominado por homens. Filha de um rico comerciante de seda, Pietro Agnesi, Maria cresceu num ambiente intelectual privilegiado.
O pai, ambicioso e vaidoso, fazia questão de exibir o talento da filha diante de visitantes ilustres — filósofos, matemáticos, cientistas e nobres — transformando a sala da sua casa num verdadeiro salão académico.
Desde muito cedo, Maria mostrou aptidão para as línguas. Aos 5 anos já falava francês, e aos 11 já dominava o latim, o grego, o hebraico e o árabe. No entanto, o seu verdadeiro amor era a Matemática — uma paixão pouco comum (e pouco bem-vinda) entre as mulheres do século XVIII.
A “Bruxa” de Agnesi que não era uma bruxa
A sua obra mais conhecida é o tratado “Instituzioni Analitiche ad uso della gioventù italiana“, publicado em 1748. Este extenso manual de dois volumes procurava tornar acessíveis os conceitos de álgebra e cálculo diferencial e integral, baseando-se nos trabalhos de Newton e Leibniz. Escrito em italiano, e não em latim como era habitual na época, foi uma tentativa clara de democratizar o conhecimento.
Neste tratado, surge a famosa curva de Agnesi, muitas vezes referida por engano como a “bruxa de Agnesi” (witch of Agnesi, em inglês). Este erro nasceu de uma má tradução: a palavra italiana versiera, usada por Maria para descrever a curva matemática, era um termo técnico que significava “linha virada”. No entanto, em italiano arcaico, versiera também podia significar “feiticeira” — e assim nasceu o mito da bruxa matemática.
Uma vida entre a ciência e a fé
Apesar de ser aclamada por académicos em toda a Europa — incluindo pelo Papa Bento XIV, que a nomeou para a Universidade de Bolonha — Maria Gaetana decidiu abandonar a vida académica após a morte do pai. A partir daí, dedicou-se inteiramente à caridade e à fé.
Tornou-se diretora de um hospital e prestou assistência aos pobres, aos doentes e aos mais desfavorecidos de Milão. Recusou vários convites para retomar a carreira científica, afirmando que a sua missão era agora servir os outros em nome de Deus. Para ela, ciência e fé nunca foram contraditórias, mas duas formas complementares de procurar a verdade.
O Legado esquecido (e redescoberto)
Maria Gaetana Agnesi morreu a 9 de janeiro de 1799, praticamente esquecida pelo mundo académico que antes a aplaudira. Só no século XX começou a recuperar o reconhecimento devido. Hoje, é considerada uma das primeiras mulheres matemáticas da História Moderna e uma pioneira na defesa da educação feminina.
A sua dedicação ao ensino, o seu contributo para a matemática e a sua vida de serviço fazem dela uma figura única, à frente do seu tempo.
Curiosidades sobre Maria Gaetana Agnesi
Primeira mulher a escrever um tratado abrangente de cálculo: o seu livro Instituzioni Analitiche foi usado como manual em várias universidades europeias durante décadas.
Nomeada para cátedra universitária: foi a primeira mulher nomeada professora de matemática numa universidade — embora nunca tenha exercido formalmente o cargo.
Poliglota prodigiosa: falava pelo menos sete línguas com fluência antes dos 13 anos.
Reconhecimento: o seu nome foi atribuído a uma cratera no planeta Vénus— a cratera Agnesi.
Precedeu a luta pelos direitos das mulheres: sem nunca se declarar feminista (o termo não existia), foi uma defensora silenciosa da capacidade intelectual das mulheres.
