No ano de 2009, fiquei a conhecer a Kiva.org e, desde aí, ajudo (sempre que posso) em pequenos empréstimos que podem mudar a vida de quem os pede.
Muitos são de mulheres, de países em vias de desenvolvimento, que procuram a sua independência económica. Em sociedades onde não é “bem visto” que mulheres trabalhem fora de casa, elas desafiam as regras ao criarem o seu próprio negócio: pode ser uma loja de roupa, de produtos de beleza, uma banca para vender artesanato, ou os produtos da terra que cultiva, ou ainda uma barraca de comida de rua. São muitos os exemplos! Quando o empréstimo é pago, pode doar-se o dinheiro a outro pedido de empréstimo. Aqui, as histórias são contadas na primeira pessoa!
É um empréstimo e não uma doação.
Kiva é uma plataforma da internet, sem fins lucrativos, que empresta dinheiro a pessoas empreendedoras. São pequenos negócios que mudam vidas, ajudam a sustentar famílias e, muitas vezes, desenvolvem socialmente comunidades.
O seu lema diz tudo «Loans that change lives» – traduzido como «Empréstimos que mudam vidas». Com 25 dólares (pouco mais de 17 euros), qualquer um pode ajudar alguém a ter o seu próprio negócio. Mas, mais do que dinheiro, quem empresta está a dar uma oportunidade a quem não teria possibilidade de ter um empréstimo através de instituições bancárias, devido aos elevados juros.
Nenhum deles tem internet, mas foi através de um site que conseguiram o seu próprio negócio. As suas histórias estão em http://www.kiva.org. Cabeleireiro, mercearia, talhante, criação de animais, padaria ou uma simples banca de venda de comida são exemplos de negócios que conseguiram tirar gente da rua e da mendicidade e deram um melhor nível de vida a famílias inteiras, desde a Bulgária à Serra Leoa, ou do Chile ao Tajiquistão.
Daí o nome escolhido para a organização: kiva é uma palavra swahili que significa «unidade» ou «acordo».
Em 2005, Matt Flannery e Jessica Jackley fizeram uma viagem a África que lhes iria mudar a vida. Na altura como um casal, Matt e Jessica testemunharam o poder do microcrédito ao verem que com simples montantes de cem dólares conseguiam mudar a vida de gente empreendedora, que apostava em ter o seu negócio.
«Em vez de encontrarmos pobres, encontrámos empreendedores de sucesso, que geravam lucros e aumentavam o seu nível de vida», revelam. Matt e Jessica regressaram da viagem com uma pergunta na cabeça: «Como podíamos emprestar dinheiro a esses empreendedores? Ambos tínhamos crescido a dar donativos a crianças africanas através da igreja e de famílias. Porque não estender a ideia aos negócios?», questionaram Matt e Jessica. «Em vez de donativos, podíamos focar-nos nos empréstimos», pensaram.
Depois de um ano de telefonemas com especialistas de microcrédito, internet, advogados e economistas, conseguiram uma resposta. E assim nasceu A Kiva, a forma de emprestar dinheiro através da internet.
Dream Team
Em Março de 2005 deu-se o pontapé de saída. Através de um contacto no Uganda, sete empréstimos foram colocados no site Kiva, por um total de 3500 dólares. Seis meses depois os empréstimos estavam pagos. Estes empreendedores ficaram conhecidos como Dream Team, ao provarem que o sonho era possível.
Em Outubro de 2005, A Kiva mostrou-se ao mundo. Depois de aparecer nos meios de comunicação social, o salto foi enorme. Surgiram apoios pela boca de diversas personalidades públicas internacionais como Oprah Winfrey, Bill Clinton e, mais recentemente, Brad Pitt, entre outros, que lhe deram uma maior visibilidade. Rapidamente deixou de ser um projecto pessoal para se tornar uma plataforma de microcrédito para o mundo inteiro, com maior incidência nos países em vias de desenvolvimento.
Matt Flannery é co-fundador e director-geral (CEO) da Kiva, desde finais de 2004. Começou por trabalhar em part-time, enquanto ainda tinha o seu emprego como programador de computadores na TiVo, Inc. Em Dezembro de 2005, largou esse emprego e dedicou-se a tempo inteiro à Kiva.
«Deixar o meu emprego demonstrou o nível de seriedade do projecto. Quando eu tinha dois empregos, as pessoas podiam perguntar-se se era só um hobby para mim e pensavam “porque é que eu lhe devo confiar o meu dinheiro e reputação se você não o faz?”», confessa.
Matt Flannery conseguiu transformar a Kiva num serviço online que desenvolve parcerias em todo o mundo com o objectivo de arranjar empréstimos para empreendedores. «Vi com os meus próprios olhos as decisões penosas, familiares, para quem vive em pobreza. Ter de decidir entre pagar a escola, pôr a comida na mesa ou comprar os medicamentos para uma criança com uma doença curável», diz o co-fundador da Kiva.
(Texto publicado a 01 Novembro 2009 na revista Notícias Magazine)
«Acredito em ti»
Além dos empréstimos singulares, foram também criadas equipas de pessoas (as chamadas Lending Teams) que se juntam com o objectivo de angariarem um maior empréstimo ou diminuírem a sobrecarga de cada investidor.
Nuno Almeida mora em Vila Nova de Gaia e é um dos portugueses que fazem parte da família Kiva. Com 42 anos, este empregado bancário inscreveu-se no site em Dezembro de 2007:
«Achei a ideia fantástica. A possibilidade de, com um pequeno montante, poder ajudar alguém a levar em frente um projecto profissional, que pode transformar a sua vida e a da sua família. Daí o meu slogan no site: “Acredito em ti”. Na altura, consultei alguma informação sobre a organização, que me pareceu credível, li também sobre o apoio que Oprah e o presidente Clinton deram à iniciativa.»
No entanto, não conseguiu ver o mesmo entusiasmo em pessoas que lhe eram próximas: «Curiosamente, ainda está em projecto criar uma conta comum de colegas de trabalho. A minha ideia é que cada um contribua com um valor simbólico, de um euro, e em conjunto fazermos um fundo significativo. Tenho deparado com alguma resistência e dúvida quanto a este tipo de iniciativas», reflecte.
As Lending Teams, onde está um grupo de Portugal, são conjuntos de pessoas, muitas vezes de empresas, que se unem para angariarem mais rapidamente o dinheiro pretendido. Um dos responsáveis pela introdução das Lending Teams foi Jeremy Frazão, um descendente de portugueses a viver nos Estados Unidos. Jeremy é um dos nomes envolvidos no projecto da Kiva: «O meu pai saiu de Portugal, tinha eu 7 anos, e cresci no Connecticut. Ele era natural de São Bento, uma vila perto de Porto de Mós.»
Actualmente com 32 anos, Jeremy foi o primeiro contratado de Kiva, em Janeiro de 2006. É o director de tecnologia, responsável pela manutenção e desenvolvimento do site: «Fiquei a conhecer o projecto quando li um artigo no site da DailyKos. Tornou-se óbvio para mim que era uma ideia muito importante e contactei o Matt Flannery imediatamente. Uns meses mais tarde, eu e a minha mulher estávamos em São Francisco a trabalhar na Kiva», conta Jeremy.
«Entrei neste projecto porque penso que a Kiva é uma das maiores aplicações que foram construídas na internet. Obviamente que há sites maiores, mas a Kiva encontrou um caminho único de ligar pessoas através de empréstimos. A ideia por detrás da Kiva é o que me faz vir trabalhar em cada dia», confessa Jeremy, acrescentando que «na minha profissão é raro ter a oportunidade de trabalhar num projecto com um impacte tão directo e positivo no mundo».
São muitas as histórias que marcaram Jeremy: «Têm sido bastante aventureiros estes três últimos anos. Desde estar no programa da Oprah Winfrey até ir à Tanzânia! Mas tenho de dizer que visitar os nossos parceiros na Tanzânia foi provavelmente a coisa mais excitante que fiz até agora para a Kiva.
Depois de trabalhar durante anos para o site, foi fabuloso ter a oportunidade de ver o impacte em campo, pelos meus próprios olhos, e ver em pessoa como funciona o microcrédito», afirma Jeremy, que já emprestou dinheiro a dezenas de empreendedores de todo o mundo.
Euros portugueses para patos vietnamitas
Nuno Almeida recorda qual foi a primeira pessoa a quem decidiu emprestar dinheiro: «Foi a uma camponesa do Vietname, para comprar patos. Um financiamento por um período de 12 meses.» Nuno adianta que não teve nenhum critério especial na escolha: «Não faço as minhas opções pela história das pessoas, porque há muitos pedidos de apoio e não leio todas as histórias. Actualmente estou mais virado para o critério de retorno de pagamento e, sem dúvida, os períodos mais curtos são do Peru e do México. Mas a minha opção vai para o comércio e a produção alimentar.»
Na Kiva qualquer um pode ser investidor, sem estar à espera dos lucros. No fundo, quem empresta só quer que o negócio dê resultado; que os empreendedores consigam pagar a tempo; e que este mesmo dinheiro consiga ajudar em breve outros empreendedores.
Talvez por ser um projecto à escala global, a Kiva conseguiu juntar concorrentes como a Google e a Microsoft e até conseguiu os pagamentos através da PayPal, sem que esta levasse dinheiro por isso. O que se deve ao actual presidente da Kiva, Premal Shah, que trabalhou para a PayPal.
Nos seus seis anos de trabalho nesta empresa, Premal conduziu um sem-número de iniciativas que envolviam projectos de apoio aos mais pobres e sempre mostrou grande interesse no microcrédito.
E a verdade é que a Kiva, através dos seus parceiros em campo, já mudou a vida de muita gente e as suas histórias estão à vista no site [ver texto com «Histórias reais»]. São mais de 170 mil os empreendedores já ajudados e perto de 500 mil os investidores. A cada 31 segundos é feito um empréstimo.
Crise não pára empréstimos
A responsável pelas relações públicas (RP) da Kiva fala-nos do futuro da organização: «Pensamos na continuação da expansão, para que a Kiva possa emprestar cada vez mais a empreendedores em todos os países onde encontre parceiros para trabalhar.» A expansão é tal, que este ano também os Estados Unidos começaram a ter pedidos. «Este é o primeiro país desenvolvido onde a Kiva vai facilitar empréstimos», diz Fiona Ramsey.
A RP da Kiva refere que, apesar da crise mundial, «o número de empréstimos tem vindo a subir. Fevereiro, por exemplo, foi o melhor mês, teve mais de 3,8 milhões de dólares emprestados», indica. «Como se pode ver pelos números», atesta a RP, «verificámos que geralmente empréstimos a mulheres são angariados mais rapidamente do que para homens.
E os empréstimos mais pequenos também são angariados mais rapidamente do que os grandes. Pelo que os números indicam, África recebe mais rapidamente fundos do que a Europa de Leste». «Os nossos parceiros em campo e as instituições de microfinanciamento são a nossa ponte com os empreendedores. São eles que avaliam os pedidos e que tratam directamente com quem pede os empréstimos. São esses parceiros em campo que avaliam a necessidade e a honestidade de quem pede o empréstimo», revela Fiona.
Para Matt Flanery, «a transparência nos próximos tempos vai ser a nossa melhor arma contra os desafios de crescimento. Este modelo prospera em informação e não em marketing. Os empreendedores representados no site não são material promocional – são pessoas reais», salienta.
Mudanças sociais
O papel da Kiva ultrapassa os empréstimos. A nível social consegue passar a mensagem de que há pessoas pobres com capacidade de iniciativa e, em certas comunidades, fazer que as mulheres obtenham um papel mais importante.
No site, a Kiva reflecte sobre este assunto: «Os programas de microcrédito são geralmente mais pedidos por mulheres. Dando acesso a serviços financeiros através de mulheres – fazendo-as responsáveis por empréstimos, assegurando o seu pagamento, mantendo contas de poupanças –, os programas de microcrédito estão a enviar uma forte mensagem para as comunidades.»
Muitos estudos documentam como o acesso a serviços financeiros melhora o estatuto de mulheres dentro do seu seio familiar e na comunidade.
«As mulheres tornaram-se mais confiantes. Entraram nos circuitos de negociações empresariais e podem possuir bens, tendo um papel mais visível nas decisões. Em alguns programas está até provado o declínio dos níveis de violência contra as mulheres», refere o site, onde Rosa Athieno, do Uganda, diz: «Hoje sou uma mulher muito respeitada na minha comunidade. Devido ao empréstimo que recebi… fizeram-me ser uma campeã, que saiu do nada.»
A minha experiência *
O processo é muito simples. Basta o registo em http://www.kiva.org e depois escolher quem vai ajudar. Talvez seja essa a parte mais complicada, pois os pedidos de empréstimos são tantos que nos dispersamos. Arranjar um projecto com um valor mais acessível é o que faz a maior parte dos investidores. Ou então formam uma equipa (Lending Teams) com outros investidores, e o total do dinheiro angariado é dirigido a um projecto empreendedor.
No meu caso, decidi investir os 25 dólares (mínimo) num grupo de mulheres do Mali. As quatro mulheres queriam 125 dólares para poderem comprar 250 quilos de papaias, 130 quilos de laranjas e 50 quilos de cenouras para depois as venderem no mercado local. Com isso, elas esperam conseguir um lucro que dê para «melhorar as condições de vida dos seus filhos, nomeadamente em termos de alimentação», dizem na Kiva.
Quando emprestei os meus 25 dólares, já lá estavam cinquenta e, em pouco mais de meia hora o empréstimo estava atribuído, com os nomes de Lena, da Suécia; Kim e Simon, da Austrália; Steven, dos Estados Unidos; e eu própria, de Portugal.
Calcula-se que, em oito meses, este grupo de mulheres do Mali consiga pagar o empréstimo, em prestações de pouco mais de vinte dólares. Durante esses oito meses, a Soro Yiriwaso – parceira da Save The Children e parceira em campo da Kiva – é a instituição responsável pela recolha dos pagamentos destas empreendedoras e vai dando notícias no site da Kiva. São perto de uma centena as instituições de solidariedade com as quais a Kiva coordena os empréstimos em campo. Todas têm competências na gestão de microcrédito.
Quando o empréstimo for pago, o valor pode ser novamente aplicado noutro projecto empreendedor ou resgatado.
Antes de escolher a quem vai emprestar dinheiro, pode também verificar quais as instituições de solidariedade que apresentam maior ou menor risco no seu investimento. A taxa média de incumprimento é, actualmente, de 1,65 por cento.
No momento em que escrevia esta reportagem, recebi a notícia de que o primeiro pagamento já tinha sido concluído. O grupo de mulheres do Mali já conseguiu pagar a primeira parte do seu empréstimo: cerca de 8,33 dólares a cada investidor.
* Baseado na experiência da própria jornalista Susana Ribeiro, em 2009
HISTÓRIAS REAIS (datadas de 2009)
A fábrica de Orifova
Para ajudar o marido a suportar a família, Orifova Kumri, de 45 anos, com quatro filhos, lançou-se como empreendedora há sete anos. Mora no Tajiquistão e tem o seu próprio negócio, fazendo roupa para mulheres e uniformes. Orifova tem um curso universitário, e antes da independência do país trabalhou como contabilista numa fábrica. Mas quando chegou o desemprego, o marido teve de ir para a Rússia e Orifova viu-se obrigada a conseguir um sustento. No Tajiquistão as mulheres dizem «nós não temos maridos, só os nomes deles», já que estes saem do país, por tempo indeterminado, à procura de emprego.
Orifova decidiu começar o seu próprio negócio e convenceu as duas irmãs a juntarem-se-lhe. Primeiro pediram dinheiro a amigos para alugar um espaço e algumas máquinas. Com os lucros compravam novas máquinas e conseguiram trabalho para contratar quatro costureiras. O negócio teve sucesso e há quatro anos decidiu expandir-se e juntou-se a outros investidores para comprar uma fábrica de tecelagem, para ter matéria-prima mais barata, sem tantos intermediários.
Há seis meses, Kumri e as suas irmãs receberam os seus primeiros empréstimos da IMON International, uma parceira da Kiva. Com o empréstimo de seiscentos dólares comprou três novas máquinas e ao facturarem conseguiram contratar mais costureiras. Em cada mês, Kumri e as irmãs põem de parte cinco a dez por cento do seu salário, para contratarem mais costureiras e expandirem o negócio. «Ainda há cinco anos só estavam a tentar arranjar empregos para si próprias e agora há a possibilidade de criarem mais empregos no Tajiquistão. Orifova vê também o seu trabalho como uma maneira de melhorar a vida no seu país», reflectem no site da Kiva.
Glory e as suas cabras
Com seis filhos, a nigeriana Glory Gbeaye está no negócio de vender cabras desde 1988. Glory, de 43 anos, precisa de um empréstimo de 875 dólares para comprar mais animais. Começou por vender peixe e dez anos depois, quando tinha 28, tinha um negócio que consistia em comprar sessenta a oitenta cabras, transportá-las para o Benim, durante três dias, e depois vender a carne no mercado.
Em cada viagem o seu lucro aumentava e conseguia suportar a sua grande família.
Mas nem só de sucesso é feito o esforço desta comerciante. Algumas agruras surgiram no seu caminho. Em 2006, quando foi comprar cabras, encontrou uma estrada barricada e os ladrões roubaram todo o dinheiro de quem seguia viagem. Como não tinha acesso a uma conta bancária, Glory levava consigo a maior parte do capital da empresa (cerca de 8500 dólares).
Devastada, voltou ao Benim, sem dinheiro e sem cabras. Glory fechou o negócio por dois meses e foi forçada a tirar os filhos mais novos da escola. Entretanto, uma amiga falou-lhe da Lift Above Poverty Organization (LAPO), uma instituição de microcrédito. A LAPO ajudou Glory com um empréstimo de 130 dólares, para relançar o negócio. Nos dois anos seguintes, conseguiu aumentar o negócio e diminuir o empréstimo.
Em Março de 2008 pediu novo empréstimo de 875 dólares. E com a ajuda de Kiva agora compra cerca de vinte a trinta cabras em cada viagem. Como diz no site, o seu sonho está a ser cumprido: «Assegurar o renascimento do seu negócio de forma a assegurar uma boa vida à sua família e que os seus netos tenham todos educação.»
A sobrevivência de Yenku
A história de vida de Yenku Sesay é, no mínimo, arrepiante. Yenku é amputado, perdeu ambas as mãos na guerra civil da Serra Leoa. Em 1998, o exército rebelde atacou a sua aldeia e cortou as mãos dos aldeões, como castigo por terem votado no líder da oposição.
Yenku quase não sobreviveu. As poupanças da família foram usadas para o levarem a um hospital, mas passaram três dias até que conseguissem lá chegar. Nesses três dias Yenku ficou sem tratamento médico e foi um milagre ter sobrevivido. Sem mãos e sem conseguir tratar de si próprio, aos 21 anos viu a sua vida destruída e foi pedir para as ruas.
Muito provavelmente ainda estaria a viver da mendicidade caso não tivesse sido abordado pela Salone Microfinance Trust (SMT), em 2006. Esta instituição conseguiu o que Yenku jamais iria conseguir com o seu estado de amputado. A SMT viu em Yenku uma pessoa com capacidades de negócio e cederam-lhe um empréstimo de cerca de cem dólares.
Yenku começou com um modesto negócio, vendendo nas ruas pacotes de bolachas, sopas e outras comidas. Dois anos depois, reinvestindo os lucros, o negócio cresceu e tornou-se uma pequena loja, perto de Kabala, onde vende roupas, calçado, bebidas e produtos alimentares.
Actualmente, Yenku tem 30 anos e é pai de três crianças. Recentemente expandiu o negócio para o gado e a agricultura. Yenku suporta a sua família, conseguindo ter os filhos na escola, e ainda paga a educação do seu irmão mais novo.
O que é o microcrédito?
O microcrédito nasceu em meados dos anos 1970, no Bangladesh, através do trabalho do professor e economista Mohammad Yunus.
O microcrédito é tido como um instrumento do empreendedorismo de pessoas que não teriam acesso a crédito no sistema financeiro, para pequenos empréstimos. Mas ao demonstrarem iniciativa e capacidade pode ser-lhes dada a possibilidade de terem o seu próprio negócio.
Para tornar o seu sonho realidade, Yunus criou o Grameen Bank, a primeira instituição financeira do mundo especializada em microcrédito.
Porque está provado que ao promover emprego se eleva a auto-estima dos indivíduos excluídos e se consegue afastá-los da pobreza, o microcrédito é uma ferramenta muito importante para uma sociedade mais participativa e promove a paz social.
E foram estas razões que, em 2006, deram ao professor Mohammad Yunus o Prémio Nobel da Paz, partilhado com o próprio Grameen Bank.
Em Portugal o microcrédito chegou pela mão da Associação Nacional de Direito ao Crédito (ANDC).
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