Josephine Butler: a mulher que mudou a história dos direitos das mulheres

Josephine Butler

Projeto “52 Mulheres em 2025 – MEV, MulheresEmViagem.pt”. A história de uma mulher, por cada semana do ano. Durante o ano de 2025, o MulheresEmViagem.pt faz uma homenagem a Mulheres de todo o Mundo, de vários países, de várias áreas de formação, que se tornaram referências. Algumas já não estão entre nós, mas muitas outras ainda estão a transformar o nosso mundo, dia após dia, com o seu esforço e trabalho por um mundo mais igualitário! Por um mundo com mais referências femininas, sobretudo em áreas que nos estiveram vedadas durante séculos (milénios, por vezes…).

Mais Sobre o Projeto “52 Mulheres em 2025 – MEV, MulheresEmViagem.pt”. A história de uma mulher, por cada semana do ano.

Em plena era vitoriana, quando as mulheres eram reduzidas ao silêncio e à obediência, Josephine Butler ergueu-se como uma das vozes mais corajosas e incómodas da Grã-Bretanha. Nascida em 1828, Josephine viveu numa sociedade que considerava a mulher inferior e dependente do homem, mas ela recusou-se a aceitar essa condição.

Filha de um abolicionista e parlamentar liberal, cresceu num ambiente onde a justiça e a igualdade eram valores fundamentais. Essa base familiar viria a moldar a sua visão de mundo e o seu compromisso com as causas sociais.

Da tragédia pessoal à missão pública

A vida de Josephine mudou radicalmente em 1864, quando a sua filha mais nova, Eva, morreu num trágico acidente. Devastada, ela procurou sentido na dor e encontrou-o no serviço aos outros. Começou a visitar prisões, abrigos e hospitais, onde conheceu mulheres marginalizadas, muitas delas empurradas para a prostituição por pura necessidade de sobrevivência.

Foi nesse contexto que Josephine tomou consciência de uma das maiores injustiças da época: as Leis das Doenças Contagiosas (Contagious Diseases Acts), aprovadas entre 1864 e 1869.

As Leis das Doenças Contagiosas: a humilhação legalizada

Essas leis permitiam à polícia deter e submeter mulheres suspeitas de prostituição a exames médicos invasivos, sem qualquer direito de defesa. Os homens, por sua vez, permaneciam intocáveis. Era a expressão mais evidente do duplo padrão moral que dominava a sociedade vitoriana.

Josephine Butler viu nessas leis uma violência institucional contra todas as mulheres, independentemente da sua condição social. Com coragem e determinação, iniciou uma campanha nacional pela abolição dessas leis, enfrentando o poder político, a imprensa e a opinião pública conservadora.

A força da palavra e o poder da empatia

Falar em público sobre prostituição era considerado escandaloso, especialmente vindo de uma mulher de classe média. Mas Josephine quebrou todos os tabus. A sua voz, firme e emocional, conquistava multidões. Falava de forma clara, denunciando a hipocrisia dos homens que exploravam as mulheres e depois as condenavam.

Fundou, em 1869, a Ladies National Association for the Repeal of the Contagious Diseases Acts, uma organização composta por mulheres que exigiam a revogação imediata das leis. Josephine viajava por todo o país, discursando em igrejas, praças e universidades. Foi insultada, ameaçada e até agredida. Mas nunca desistiu.

Uma vitória histórica para as mulheres

Depois de quase duas décadas de luta, Josephine Butler viu a sua campanha triunfar: em 1886, as Leis das Doenças Contagiosas foram abolidas. Foi uma vitória não apenas legal, mas também simbólica: a prova de que a mobilização das mulheres podia derrubar estruturas injustas e mudar o curso da história.

A partir daí, Josephine tornou-se uma figura internacional, inspirando movimentos feministas em toda a Europa.

Educação e dignidade: os pilares da sua visão

Além da luta política, Josephine Butler acreditava profundamente na educação como instrumento de emancipação feminina. Defendia o direito das mulheres à instrução superior e à participação cívica. Juntamente com o marido, apoiou a admissão de alunas na Universidade de Oxford e em outras instituições académicas.

A sua visão era inclusiva e compassiva. Josephine acreditava que nenhuma mulher deveria ser julgada pelas suas circunstâncias e que a sociedade tinha a responsabilidade de oferecer alternativas dignas.

A luta contra o tráfico de mulheres

No final da vida, Josephine expandiu o seu ativismo além das fronteiras britânicas. Denunciou o tráfico internacional de mulheres e crianças, uma prática comum nas grandes cidades europeias da época. A sua denúncia pública levou à criação de tratados e leis mais rigorosas contra o tráfico humano. Mais uma vez, mostrou que a empatia e a justiça não têm fronteiras.

Uma mulher à frente do seu tempo

Num mundo dominado por homens e leis moralistas, Josephine Butler destacou-se como uma pioneira do feminismo moderno. O seu pensamento antecipou temas que continuam actuais: o direito ao corpo, a igualdade perante a lei e o fim da exploração sexual.

A sua fé, longe de ser dogmática, era humanista e libertadora. Josephine acreditava num cristianismo de amor e compaixão, e não de culpa ou repressão.

Josephine Butler faleceu em 1906, mas o seu legado permanece vivo. O seu nome é lembrado em escolas, colégios e instituições dedicadas à defesa dos direitos humanos, como o Josephine Butler College, na Universidade de Durham.

A sua história é uma lição poderosa: a mudança começa quando alguém se recusa a aceitar o inaceitável.

Por que recordar Josephine Butler hoje

Num século XXI ainda marcado por desigualdades, discriminação e exploração, a figura de Josephine Butler continua a inspirar activistas e mulheres de todo o mundo. Ela provou que uma só voz — firme, justa e empática — pode derrubar um sistema.

Recordar Josephine Butler é celebrar todas as mulheres que lutaram e continuam a lutar para que a liberdade e a dignidade não sejam privilégios, mas direitos universais.