Projeto “52 Mulheres em 2025 – MEV, MulheresEmViagem.pt”. A história de uma mulher, por cada semana do ano. Durante o ano de 2025, o MulheresEmViagem.pt faz uma homenagem a Mulheres de todo o Mundo, de vários países, de várias áreas de formação, que se tornaram referências. Algumas já não estão entre nós, mas muitas outras ainda estão a transformar o nosso mundo, dia após dia, com o seu esforço e trabalho por um mundo mais igualitário! Por um mundo com mais referências femininas, sobretudo em áreas que nos estiveram vedadas durante séculos (milénios, por vezes…).
Josephine Baker (1906-1975) foi uma das mulheres mais marcantes do século XX. Nascida em Saint Louis, nos Estados Unidos, filha de uma lavadeira e de um percussionista, cresceu em condições de pobreza extrema e enfrentou desde cedo o racismo estrutural da sociedade norte-americana.
No entanto, com talento, coragem e uma determinação incomparável, tornou-se dançarina, cantora, atriz, ativista e espiã, conquistando palcos na Europa e deixando um legado que continua a inspirar mulheres até hoje.
Mais do que um ícone de entretenimento, Josephine Baker foi uma pioneira na luta pelos direitos civis, pela liberdade e pela igualdade de género e de raça.Josephine
Baker e a sua ascensão em Paris
Nos anos 20, Josephine Baker mudou-se para Paris, onde encontrou o reconhecimento que nunca tivera nos Estados Unidos. Em 1925, estreou-se na revista La Revue Nègre, um espetáculo que marcou o início da sua fama internacional.
Com apenas 19 anos, conquistou o público parisiense com o seu estilo ousado, carisma natural e uma dança revolucionária para a época. O número mais famoso foi a dança da banana, em que Baker subia ao palco com uma saia feita de bananas artificiais — uma performance que chocou e encantou em igual medida.
Enquanto nos Estados Unidos a segregação racial limitava oportunidades, em Paris ela tornou-se uma estrela. Josephine representava a liberdade artística, a quebra de convenções sociais e o poder feminino num mundo dominado por preconceitos.
Um símbolo feminino de independência e coragem
Josephine Baker não foi apenas uma artista. Foi uma mulher que viveu à frente do seu tempo. Adotou um estilo de vida independente, assumiu a sua sexualidade, envolveu-se com homens e mulheres, e recusou ser moldada pelas convenções da sociedade patriarcal.
Foi também uma das primeiras mulheres a mostrar que a feminilidade não se limitava a padrões pré-estabelecidos.
Com o seu corpo atlético, a pele negra e a ousadia dos seus gestos, desconstruiu a imagem estereotipada da mulher nos palcos europeus.
Josephine Baker inspirou mulheres a acreditarem no seu potencial criativo e a viverem de acordo com as suas próprias escolhas, sem medo de julgamento.
Josephine Baker na Resistência Francesa
Durante a Segunda Guerra Mundial, Josephine Baker revelou outra faceta da sua coragem: atuou como espiã para a Resistência Francesa. Usou a sua fama para circular em ambientes de elite e transportar mensagens secretas, escondidas em partituras musicais ou na sua roupa.
Graças à sua posição de celebridade, conseguiu obter informações vitais para os Aliados. Arriscou a vida inúmeras vezes e provou que, para além de artista, era também uma mulher profundamente comprometida com a liberdade.
A luta pelos direitos civis
Nos anos 50 e 60, Josephine Baker regressou aos Estados Unidos para apoiar o movimento dos direitos civis. Foi uma das poucas mulheres a discursar na famosa Marcha sobre Washington de 1963, onde Martin Luther King proferiu o célebre discurso “I Have a Dream”.
Josephine usou a sua voz e a sua visibilidade para denunciar a segregação racial e exigir igualdade. Ao contrário de muitas estrelas da sua época, não se limitou ao palco: participou ativamente na transformação social.
A sua luta tornou-se ainda mais simbólica através da adoção de 12 crianças de diferentes origens e etnias, a quem chamava de “tribo arco-íris”. Quis provar, na prática, que era possível viver num mundo sem racismo, preconceito ou divisões.
O legado de Josephine Baker
Josephine Baker deixou um legado inegável para as mulheres e para a humanidade:
- Empoderamento feminino: mostrou que uma mulher podia ser independente, livre e influente, sem pedir permissão.
- Representatividade negra: abriu portas para artistas afrodescendentes e desafiou a segregação.
- Coragem política: arriscou a vida pela liberdade e usou a sua voz em prol dos direitos humanos.
- Humanismo: através da adoção da sua “tribo arco-íris”, mostrou que a diversidade é um valor a celebrar.
Em 2021, Josephine Baker entrou simbolicamente no Panteão de Paris, tornando-se a primeira mulher negra a receber essa homenagem. O reconhecimento chegou tarde, mas eternizou o seu contributo extraordinário.
Porque Josephine Baker continua a inspirar mulheres
A história de Josephine Baker continua a ecoar no século XXI. Num tempo em que o feminismo luta contra novas formas de desigualdade, ela permanece como exemplo de resistência, autenticidade e empoderamento.
Mulheres que viajam sozinhas, que desafiam preconceitos, que criam arte ou que se erguem em defesa de direitos encontram na sua biografia uma fonte de inspiração. Josephine mostrou que é possível transformar vulnerabilidade em força e preconceito em liberdade.
Josephine Baker não foi apenas uma dançarina exótica, como muitos quiseram reduzi-la. Foi uma mulher completa: artista, ativista, mãe, espiã, feminista e humanista. Desafiou normas sociais, enfrentou regimes autoritários e tornou-se símbolo de uma nova forma de ser mulher no mundo.
A sua vida ensina-nos que a luta pela igualdade não é apenas coletiva, mas também individual. Cada ato de coragem, cada gesto de autenticidade, cada voz que se levanta faz a diferença.