Hannah Adams: a primeira mulher escritora profissional dos EUA

Hannah Adams © Wiki

Projeto “52 Mulheres em 2025 – MEV, MulheresEmViagem.pt”. A história de uma mulher, por cada semana do ano. Durante o ano de 2025, o MulheresEmViagem.pt faz uma homenagem a Mulheres de todo o Mundo, de vários países, de várias áreas de formação, que se tornaram referências. Algumas já não estão entre nós, mas muitas outras ainda estão a transformar o nosso mundo, dia após dia, com o seu esforço e trabalho por um mundo mais igualitário! Por um mundo com mais referências femininas, sobretudo em áreas que nos estiveram vedadas durante séculos (milénios, por vezes…).

Mais Sobre o Projeto “52 Mulheres em 2025 – MEV, MulheresEmViagem.pt”. A história de uma mulher, por cada semana do ano.

Quem foi Hannah Adams?

Quando pensamos em pioneiros na escrita e no pensamento intelectual, muitos nomes masculinos surgem com facilidade. Mas a história também foi marcada por mulheres que desafiaram as barreiras sociais e culturais do seu tempo. Entre elas, destaca-se Hannah Adams (1755–1831), considerada a primeira mulher nos Estados Unidos a viver da escrita.

Nascida em Massachusetts, no seio de uma família modesta, Hannah trilhou um caminho improvável para uma mulher da sua época: tornou-se autora respeitada, ensaísta e historiadora das religiões, abrindo portas para gerações futuras de mulheres no mundo das letras.

A infância e os primeiros desafios

Hannah Adams nasceu a 2 de outubro de 1755, na cidade de Medfield, Massachusetts. Era filha de Thomas Adams, um comerciante de livros e professor particular. Desde cedo, mostrou curiosidade pelo conhecimento, algo pouco incentivado nas mulheres do século XVIII. Enquanto muitos rapazes tinham acesso a estudos formais, as meninas raramente passavam do ensino básico, ficando destinadas às tarefas domésticas.

O pai, apesar de não ter posses para lhe proporcionar uma educação avançada, permitiu-lhe o acesso a livros e estimulou o gosto pela leitura. Assim, Hannah cresceu entre histórias, filosofia e textos religiosos. Durante a infância, enfrentou problemas de saúde que a mantiveram afastada de certas atividades físicas, e isso acabou por fazer com que se dedicasse ainda mais ao estudo e à escrita.

O caminho para a escrita profissional

Aos 17 anos, com a morte da mãe, Hannah começou a dar explicações para ajudar a sustentar a família. Paralelamente, desenvolvia uma grande paixão pela teologia e pelo estudo comparado das religiões. O seu interesse levou-a a iniciar aquele que viria a ser o seu trabalho mais reconhecido: “A View of Religious Opinions” (1784), um estudo pioneiro que apresentava, de forma imparcial, as diferentes crenças religiosas conhecidas na época.

Este livro foi notável não só pelo tema, mas pela forma como foi escrito: Hannah esforçou-se por manter uma postura neutra, algo extremamente inovador num tempo em que predominavam discursos religiosos marcados por dogmas. A obra foi bem recebida e deu-lhe um lugar de destaque no meio intelectual da Nova Inglaterra.

Com o passar dos anos, Hannah Adams publicou outras obras relevantes, como “A Summary History of New England” (1799) e “A History of the Jews” (1812), sempre com um olhar erudito e investigativo. A sua reputação consolidou-se, e foi reconhecida como uma das primeiras historiadoras norte-americanas.

Uma mulher à frente do seu tempo

Num período em que as mulheres eram desencorajadas a escrever — e muito menos a publicar —, Hannah Adams foi uma verdadeira exceção. Tornou-se a primeira mulher nos Estados Unidos a viver exclusivamente dos seus livros, algo extraordinário numa sociedade que limitava o papel feminino ao lar.

Enfrentou críticas, dificuldades financeiras e preconceitos, mas não desistiu da sua vocação. Para se sustentar, dava também aulas particulares e aceitava pequenos trabalhos de revisão. Apesar das dificuldades, manteve-se firme na sua missão de investigar, escrever e publicar.

Curiosamente, Hannah nunca se casou. A sua dedicação ao estudo e à escrita foi total, e preferiu seguir um caminho independente, algo raro para uma mulher no século XVIII e início do XIX.

A importância para as mulheres na literatura

A vida e a obra de Hannah Adams representam muito mais do que simples contributos académicos. A sua trajetória é um exemplo de resistência feminina no mundo intelectual. Ao conseguir afirmar-se como autora numa sociedade desigual, abriu portas para que outras mulheres pudessem sonhar com carreiras semelhantes.

No século XIX, muitas escritoras americanas começaram a surgir – como Louisa May Alcott ou Emily Dickinson – e é inegável que a coragem de pioneiras como Hannah preparou esse terreno.

O legado de Hannah Adams

Hannah Adams faleceu em 1831, em Brookline, Massachusetts, com 76 anos. Foi enterrada no histórico Mount Auburn Cemetery, tornando-se a primeira pessoa a ser sepultada nesse espaço, que mais tarde se tornaria famoso por acolher várias personalidades da cultura americana.

O seu legado permanece vivo como símbolo de determinação e inspiração. Ao viver da escrita e desafiar as barreiras impostas às mulheres, deixou-nos uma herança de coragem intelectual e independência.

Para um público feminino, a história de Hannah Adams vai além dos factos históricos. Ela representa a possibilidade de reinventar o destino, mesmo em contextos adversos. Mostra que a educação, o conhecimento e a escrita são formas poderosas de liberdade e afirmação.

A sua vida convida-nos a refletir sobre a importância da representatividade: quando uma mulher abre caminho, muitas outras podem seguir.

O seu legado vai além dos livros que publicou: representa a luta pelo direito à voz feminina, pela igualdade intelectual e pela liberdade de escolha. Ao conhecermos a sua vida, entendemos que cada conquista atual é fruto de mulheres que, como Hannah Adams, ousaram desafiar o seu tempo.