Projeto “52 Mulheres em 2025 – MEV, MulheresEmViagem.pt”. A história de uma mulher, por cada semana do ano. Durante o ano de 2025, o MulheresEmViagem.pt faz uma homenagem a Mulheres de todo o Mundo, de vários países, de várias áreas de formação, que se tornaram referências. Algumas já não estão entre nós, mas muitas outras ainda estão a transformar o nosso mundo, dia após dia, com o seu esforço e trabalho por um mundo mais igualitário! Por um mundo com mais referências femininas, sobretudo em áreas que nos estiveram vedadas durante séculos (milénios, por vezes…).
Freya Stark (1893–1993) foi muito mais do que uma exploradora. Foi escritora, cartógrafa e uma das primeiras mulheres ocidentais a viajar sozinha por regiões do Médio Oriente e da Ásia onde poucos se aventuravam — especialmente mulheres. A sua vida foi uma odisseia marcada por coragem, curiosidade e um profundo respeito pelas culturas que encontrou.
Infância e Primeiras Influências
Nascida em Paris, mas criada entre Itália e Inglaterra, Freya cresceu num ambiente artístico e instável. Os seus pais eram artistas plásticos e a separação deles deixou marcas na sua juventude. Aos nove anos, sofreu um grave acidente que a deixou com o rosto desfigurado durante anos, exigindo múltiplas cirurgias. Essa experiência, no entanto, não a impediu de sonhar com aventuras e horizontes longínquos.
Desde cedo apaixonou-se pelos livros e pelas histórias das “Mil e Uma Noites”, que inspiraram a sua curiosidade sobre o mundo árabe. Começou a aprender árabe e persa por conta própria, antes mesmo de ter viajado para aquelas regiões.
As Grandes Viagens
Na década de 1930, quando viajar sozinha para regiões remotas era impensável para uma mulher europeia, Freya embarcou rumo ao Médio Oriente.
Viajou pelo Irão, Iraque, Síria e Iémen, muitas vezes sem grandes recursos e em condições bastante rudimentares. No Irão, foi uma das primeiras ocidentais a visitar os vales remotos dos Assassinos de Alamut, uma seita islâmica medieval envolta em lendas.
As suas viagens deram origem a livros de enorme sucesso, como “The Valleys of the Assassins” (1934) e “The Southern Gates of Arabia” (1936). Escrevia com um estilo elegante, sensível, atento à beleza do mundo e às suas complexidades humanas. Não era apenas uma aventureira — era uma observadora das culturas, dos rituais e das histórias locais.
O Papel na Segunda Guerra Mundial
Durante a Segunda Guerra Mundial, Freya trabalhou para o Ministério da Informação britânico, numa missão que combinava diplomacia e propaganda.
A sua tarefa era reforçar a presença britânica no Médio Oriente e combater a influência nazi, usando o seu prestígio como escritora e viajante para se aproximar das elites locais. Esta fase da sua vida revela uma faceta política pouco conhecida da autora, embora sempre marcada pela subtileza e respeito pelos povos com quem trabalhava.
Uma Vida de Escrita e Reflexão
Ao longo da sua vida, Freya publicou mais de 20 livros, incluindo diários, cartas e relatos de viagem.
Continuou a viajar até idade avançada e morreu com 100 anos, em Itália, onde mantinha uma casa no vale de Asolo.
Tornou-se uma referência para várias gerações de viajantes e feministas, pela sua independência, determinação e espírito livre.
Curiosidades sobre Freya Stark
Falava fluentemente mais de seis línguas, incluindo árabe, persa, francês, italiano e alemão.
Foi condecorada com a Ordem do Império Britânico e feita Dame (equivalente feminina de cavaleiro) em 1972.
Carregava sempre consigo uma pequena biblioteca portátil durante as viagens, composta por clássicos da literatura inglesa e guias botânicos.
Apesar de ter vivido em ambientes inóspitos, manteve sempre o hábito de escrever em diários cuidadosamente ilustrados por ela própria.
Era crítica do colonialismo agressivo e defendia uma abordagem mais sensível e respeitosa às culturas locais.
Freya Stark continua a ser uma figura inspiradora para quem vê nas viagens uma forma de descoberta pessoal e de diálogo com o outro.
O seu legado literário e humano mostra que a curiosidade, quando guiada pelo respeito e pela empatia, pode abrir caminhos onde antes só havia barreiras.
