Projeto “52 Mulheres em 2025 – MEV, MulheresEmViagem.pt”. A história de uma mulher, por cada semana do ano. Durante o ano de 2025, o MulheresEmViagem.pt faz uma homenagem a Mulheres de todo o Mundo, de vários países, de várias áreas de formação, que se tornaram referências. Algumas já não estão entre nós, mas muitas outras ainda estão a transformar o nosso mundo, dia após dia, com o seu esforço e trabalho por um mundo mais igualitário! Por um mundo com mais referências femininas, sobretudo em áreas que nos estiveram vedadas durante séculos (milénios, por vezes…).
A infância de uma mente brilhante
Augusta Ada Byron nasceu a 10 de dezembro de 1815 em Londres. Filha do famoso poeta romântico Lord Byron e de Anne Isabella Milbanke, uma matemática talentosa conhecida como “a princesa dos paralelogramos”, Ada herdou uma combinação rara de imaginação poética e raciocínio lógico.
O casamento dos pais foi curto, e Ada nunca chegou a conhecer o pai, que abandonou a família pouco depois do nascimento da filha. Anne, determinada a afastar Ada da influência considerada “perigosa” do pai, dedicou-se a educá-la de forma rigorosa nas ciências exatas.
Desde muito cedo, Ada mostrou um fascínio por máquinas. Aos 12 anos, desenhou um projeto de uma máquina voadora, inspirada no voo dos pássaros. Esta curiosidade precoce pelas leis da natureza e pela tecnologia moldaria o caminho excecional que viria a trilhar.
A mulher por detrás do primeiro algoritmo
Aos 17 anos, Ada conheceu Charles Babbage, matemático e inventor da Máquina Analítica, uma das primeiras propostas de um computador mecânico programável. Impressionado com a inteligência e a visão de Ada, Babbage tornou-se seu mentor.
Em 1842, Ada foi convidada a traduzir um artigo do engenheiro italiano Luigi Menabrea sobre a Máquina Analítica. Mas Ada foi além: acrescentou ao texto notas pessoais que triplicavam o tamanho do artigo original.
Nessas notas, Ada descreveu com detalhes o funcionamento da máquina, sugeriu aplicações práticas — como a composição de música — e, sobretudo, escreveu o que é hoje reconhecido como o primeiro algoritmo destinado a ser processado por uma máquina. Assim, muito antes de existir qualquer computador, Ada Lovelace já imaginava as potencialidades da computação além do cálculo matemático.
O “encantamento” dos números
Ao contrário de muitos dos seus contemporâneos, Ada via os números como algo mais do que ferramentas para operações matemáticas. Para ela, existia uma beleza quase poética nos algoritmos, uma espécie de linguagem universal capaz de traduzir ideias complexas. Ela escreveu:
“A máquina pode compor peças musicais elaboradas, se os princípios e regras da composição forem matematicamente expressos.”
Esta perceção foi radical na época. A maioria das pessoas via as máquinas apenas como instrumentos para acelerar cálculos, não como entidades com potencial criativo.
Uma vida curta, mas imortal
Ada Lovelace morreu muito jovem, aos 36 anos, vítima de um cancro do útero. No entanto, o seu legado permanece vivo.
O mundo da computação, dominado por homens durante mais de um século, reconheceu tardiamente a sua genialidade.
Hoje, Ada é celebrada como pioneira da programação informática, tendo até um dia internacional dedicado à sua memória: o Ada Lovelace Day, celebrado na segunda terça-feira de outubro, para promover a presença Feminina na ciência e tecnologia.
Curiosidades sobre Ada Lovelace
Nome Ada: a escolha do nome curto “Ada” refletia um desejo de simplicidade e elegância. Após o casamento com William King, tornou-se Condessa de Lovelace.
Poema e código: apesar da formação científica, Ada mantinha vivo o espírito do pai poeta. Dizia ver “poesia nos números” e considerava-se uma “analista poético-científica”.
Linguagem de programação: o Departamento de Defesa dos EUA criou, na década de 1980, uma linguagem de programação chamada ADA, em sua homenagem.
Visão além do tempo: Ada previu, mais de cem anos antes, conceitos como inteligência artificial e música gerada por algoritmos.
Ada Lovelace é muito mais do que uma figura histórica. É um símbolo do poder da intersecção entre Arte e Ciência, entre lógica e imaginação. Numa era em que ainda se luta por maior representatividade feminina na tecnologia, a história de Ada é uma lembrança poderosa de que o génio não tem género e de que, por vezes, o futuro pode ser imaginado muito antes de ser construído.
