Filmes, séries e documentários… que representam o feminismo

Filmes, séries ou documentários que representam o feminismo

O meu processo de escolha de filmes, séries ou documentários que representam o feminismo foi bastante moroso. Não pela falta de Mulheres extraordinárias mas pela dificuldade em ter uma linha de pensamento que afunilasse todas as Mulheres que vi no grande ecrã e que me inspiraram. São mesmo muitas!

Por, Rafaela Santiago*

Algumas tiveram uma grande influência nos Direitos Civis, na Igualdade de Género e Racial, nas Artes, no Desporto e na Cultura. Outras, inspiraram-me na forma de personagens de comédia corajosas, imperfeitas, como mães, filhas e amigas, em constante evolução.

Por isso, não consegui escolher uma linha que expressasse todas as Mulheres e os seus feitos da mesma forma. Pois não existe uma forma correta ou errada de expressar o feminismo, existe apenas a base que nos conecta a todas nós. 

Não escolhi obras que retratassem apenas histórias de luta de igualdade de género mas que mostrassem várias frentes, nas quais mulheres se destacaram em alturas em que as mulheres existiam apenas para servir, serem recatadas e modestas e nunca sobressair.

O que retiro daqui, é que embora exista uma crescente miríade de trabalhos que nos apresentam a mulheres fora de série, ainda é algo recente. E, muitas dessas histórias, são ainda contadas e realizadas por homens. Não me interpretem mal, qualquer homem que queira enaltecer os feitos de uma mulher é muito bem-vindo. Contudo, penso que gostaríamos que fôssemos cada vez mais nós a narrar as nossas histórias. 

Ficam aqui as minhas escolhas (extremamente pessoais, sublinho) dos filmes, séries e documentários que mais me marcaram e mais uns quantos que merecem destaque. Também temos aqui mais séries onde as mulheres são as personagens de destaque.

Frida Kahlo DR
Frida Kahlo DR

1. Frida Kahlo (2002)

Realizadora: Julie Taymor

Só podia começar com a minha obsessão pela Frida Kahlo! Uma mulher muito à frente do seu tempo. Viveu de forma destemida, ultrapassou obstáculos como a poliomielite, um acidente que lhe deixou mazelas físicas para sempre, e Diego Rivera. O seu legado não se fica pelo seu dom extraordinário na pintura, mas também pela forma corajosa, única e colorida de viver.

Sempre adorei este filme mas recentemente ainda o valorizei mais quando descobri tudo aquilo que Salma Hayek – que interpreta Frida e produz – teve que ultrapassar para o concretizar com Harvey Weinstein, como seu carrasco. Harvey depois de muitas investidas falhadas a Salma Hayek, tentou boicotar o filme enquanto ela não cedesse, impondo cláusulas irreais e perseguindo-a. Salma conseguiu superar tudo isso com ajuda de amigos (que de nada sabiam) que incluiu Edward Norton a reescrever todo o guião, sem nunca ter créditos por isso.

Em suma, o filme conta a história de uma mulher incrível,  através do trabalho de outras tantas. IMDb

Hidden Figures – Elementos Secretos DR
Hidden Figures – Elementos Secretos DR

2. Hidden Figures – Elementos Secretos  (2016)

Realizador: Theodore Melfi

Este filme é baseado na histórica verídica de três mulheres afro-americanas que tinham funções cruciais na NASA na década de 60, em plena Corrida Espacial contra a Rússia. Katherine Johnson, uma matemática cujos cálculos tornaram a missão orbital Mercury-Atlas 6 num sucesso, Mary Jackson, a primeira mulher engenheira aeroespacial afro-descendente e Dorothy Vaughan, a primeira Supervisora de sempre. Estas mulheres prodigiosas não só se destacaram num ambiente de masculinidade tóxica, com quase nenhumas outras mulheres à sua volta, mas ultrapassaram todas as injustiças raciais que poluíam os Estados Unidos. Nessa época, a segregação era legal – embora no filme diluam um pouco a dimensão daquilo que elas terão vivido.

A história é inacreditável, conta com um elenco de luxo com Taraji P. Henson, Janelle Monaé e Octávia Spencer a interpretarem brilhantemente  as vidas dessas mulheres. IMDb

Queen of Katwe DR
Queen of Katwe DR

 

3. Queen of Katwe (2016)

Realizadora: Mira Nair

Este filme é maravilhoso e inspirador. Também uma história verídica! Conta-nos a vida de Phiona Mutesi, uma criança dos bairros de lata de Katwe, em Kampala (Uganda). Vemos Phiona a crescer num ambiente inóspito, com muitas dificuldades para ela e para a família, mas ainda assim rodeada de amor. A sua vida muda graças a Robert Katende, que se tornaria seu mentor de Xadrez e seu guardião. Phiona, com 14 anos já participava em torneios internacionais, em representação do Uganda, vinda de um local em que o mote é sobreviver dia a dia. É um filme inspiracional, contado de uma forma bonita e nada miserabilista. Não é uma luta pelo feminismo mas retrata uma jovem mulher que desafiou todas as probabilidades, criada num local onde as oportunidades são parcas, principalmente para uma mulher.

O elenco, contribui em muito: Madina Nalwanga é Phiona, David Oyelowo é Robert Katende e Lupita Nyong’o interpreta Nakku Harriet, a mãe de Phiona. 

A realizadora é Mira Nair, a outrora atriz, agora também produz e escreve, nascida em Delhi e com um grande currículo, que lhe mereceu inúmeras nomeações e prémios internacionais. IMDb

On the Basis of Sex - Uma Lua Desigual DR
On the Basis of Sex – Uma Lua Desigual DR

4. On the Basis of Sex – Uma Luta Desigual (2018)

Realizadora: Mimi Leder

O filme vale pela incrível história de Ruth Bader Ginsburg. Prosperou num ambiente que só homens eram merecedores de entrar, foi a melhor da sua classe numa faculdade de topo até chegar ao Supremo Tribunal de Justiça. A sua carreira começou aquando da sua vida como mãe também e foi a sua determinação que a fez singrar num ambiente completamente misógino. Na luta pela igualdade de género fez o seu trabalho mais feroz, numa altura em que as mulheres nem cartão de crédito poderiam ter em seu nome, para que dependessem de um homem para sobreviver. Atacou todos os casos de discriminação de género e trouxe os protestos das ruas para a lei, até se tornar no símbolo de justiça, eterno.

Felicity Jones interpreta Ruth Bader Ginsburg e a película tem nos comandos Mimi Leder, uma realizadora nova iorquina. IMDb

Suffragete - As Sufragistas DR
Suffragete – As Sufragistas DR

5. Suffragete – As Sufragistas (2015)

Realizadora: Sarah Gravon

Suffragete é a história de um grupo de mulheres que abalaram a estrutura patriarcal e machista do Reino Unido, no início do século XX,  lutando pelo direito ao voto. Os eventos são reais e seguem de perto as activistas, muitas delas simples trabalhadoras, sem afiliações políticas, que se rebelaram pelos direitos que nós, hoje em dia, damos por garantidos, graças a elas e muitas outras que arriscaram as suas vidas em prol desta causa. Foi uma época conturbada, com perseguições e confrontos violentos da policia e dos próprios familiares dessas mulheres. Vivemos este período pelos olhos de Maud Watts, que trabalhava numa lavandaria – personagem interpretada por Carey Mulligan – e de Emmeline Pankhurst, a líder do movimento, representada sobejamente por Meryl Streep. IMDb

Emma Stone as "Billie Jean King" and  Steve Carell as "Bobby Riggs" in BATTLE OF THE SEXES. Photo by Melinda Sue Gordon. © 2017 Twentieth Century Fox Film Corporation All Rights Reserved
Emma Stone as “Billie Jean King” and Steve Carell as “Bobby Riggs” in BATTLE OF THE SEXES. Photo by Melinda Sue Gordon. © 2017 Twentieth Century Fox Film Corporation All Rights Reserved

6. Battle of the Sexes (2017)

Realizadores: Jonathan Dayton, Valerie Faris

Este filme é também baseado num evento real, embora com alguma liberdade criativa. Gira em torno de uma famosa partida de ténis, em 1973, entre Billie Jean King, desportista e ativista pela igualdade de género, e Bobby Riggs, um tenista abertamente machista. Tudo surgiu pela enorme disparidade salarial entre homens e mulheres, baseando-se na premissa que as mulheres nunca teriam a mesma qualidade que os seus pares do sexo masculino, nem atrairiam as mesmas audiências ou interesse geral. É um filme enervante pelas personagens misóginas que, infelizmente, correspondiam à realidade. Billie Jean King (Emma Stone) e Gladys Heldman (Sarah Silverman) lutaram para uma tour feminina que levou à criação da Women’s Tennis Association e ao consequente aumento salarial. IMDb

Made in Dagenham DR
Made in Dagenham DR

7. Made in Dagenham (2010)

Realizador: Nigel Cole

Em 1968, uma greve numa fábrica da Ford, em Dagenham, iria ter consequências inimagináveis no Reino Unido e com réplicas no mundo inteiro. Esta película fala-nos da história verídica de cerca de 187 mulheres, que aqui trabalhavam em condições francamente más, o que suscitou o movimento. Na luta por melhores condições, acabaram por descobrir que elas recebiam uma fração daquilo que os seus colegas de trabalho (homens) recebiam pela mesma função. Esta greve e este movimento levou ao Equal Pay Act (Lei da Igualdade Salarial) em 1970. IMDb

NOS DOCUMENTÁRIOS DESTACO: 

8. Mulheres que desafiaram o Congresso (Knock Down the House) – 2019

Neste documentário cativante de Rachel Lears seguimos Alexandria Ocasio-Cortez, Amy Vilela, Cori Bush e Paula Jean Swearengin  nas primárias democratas rumo às Eleições Intercalares de 2018. Todas de origens locais e histórias diferentes, mas com a mesma motivação para vencer e defender as suas crenças, num contexto em que poucas mulheres singraram. O destaque é inegavelmente de Alexandria Ocasio-Cortez, cada vez mais uma figura incontornável na esfera politica americana. (Disponível na Netflix)

9. Feministas, no que estariam a pensar? (Feminists: What Were They Thinking?) – 2018

Johanna Demetrakas criou uma narrativa sobre o movimento feminista através de um albúm de retratos feministas de 1977, da fotógrafa Cynthia Adams. Fazem a ponte de como tudo começou, com quem, e as diferenças para os dias de hoje, na voz de caras conhecidas como Jane Fonda, Lily Tomlin e Michelle Phillips, e também de outras tantas desconhecidas que lutaram pela liberdade sexual, autonomia financeira, direitos reprodutivos, maternidade e por todas as pedras basilares do feminismo. (Disponível na Netflix)

Outras sugestões :

10 – Little Women (2019 – Realizadora Greta Gerwig) (1994- Realizadora Gillian Armstrong)

11 – Wonder Woman / Wonder Woman 1984 (2017 e 2020- Realizadora Patty Jenkis)

12 – She’s Gotta Have It (1986) e 

13 – Crooklyn (1994) de Spike Lee

14 – Nine to Five (1980 – Realizador Colin Higgins)

15 – Thelma and Louise (1991 – Riddley Scott)

16 – A league of their own  (1993 – Realizador Penny Marshall)

17 – Wild (2014 – Realizador Jean- Marc Vallée

18 – Whale Rider (2002 – Realizador Niki Caro)

19 – Erin Brockovich (2000 – Realizador Steven Soderbergh

Quem escreveu este texto?

*Rafaela Santiago. Licenciei-me em Línguas e Relações Internacionais – após uma breve passagem pelo mundo da Psicologia – seguindo-se a óbvia carreira deste curso “o que é que eu faço agora com isto?”. Nas várias áreas, pelas quais passei, a Comunicação foi sempre o denominador comum. Fosse como colaboradora no Viaje Comigo, como DJ ou mesmo no mundo do futebol, estabelecer pontes e explorar mundos novos foi sempre o objetivo. Neste momento, dou aulas de Inglês e faço traduções. E é com grande orgulho e motivação que me  junto à Susana, ambas como fundadoras, para lançarmos este projeto “Mulheres em Viagem”, com outras tantas mulheres ao nosso lado. Sejam todas muito bem-vindas!

Erin Brockovich DR
Erin Brockovich DR